Presente de Presunto
- Não imaginava que iria encontrar-lhe aqui - espantou-se Manoel ao se deparar com Joaquim.
- Ele era muito querido para mim. Não pude negar esta última homenagem... - respondeu Joaquim.
- Realmente era muito querido... - repetiu Manoel - no dia do meu casamento espantou todos os meus convidados...
- Mas ele não bebe! Não é o seu estilo... - completou Joaquim.
- Agora não bebe, mas bebia. Bebia e não era água, mas, cerveja bebia até a última gota.
- Pode ser, depois da morte da esposa... - disse Joaquim.
- Ele mudou muito, parou de beber... Mas deve ter dado graças a Deus pela morte dela, pois fiquei sabendo que levou os filhos que tivera fora do casamento para o atual lar da falecida... - ressaltou Manoel.
- Não é possível... Ele tinha apenas um! - espantou-se Joaquim.
- Sim, apenas um com a falecida e cinco com a amante! Inclusive a amante era casada com um otário que achava... - continuou Manoel - As aparências enganam. Ele aparentava ser um político, ainda mais pelo discurso que fazia... E você acha que era? Que nada! Ele era um ladrão que vivia passando a mão...
- Não sabia que... - hesitou Joaquim.
- Pois é...
- Que cretino! Mas alguma coisa de bom deve ter feito. Não fez?
- Com toda a certeza! Ficou com a minha casa, com os meus supostos filhos, com a minha esposa... Ah! Ainda ganhou um brinde: a bruxa da minha sogra! - continuou Manoel - Vou me despedir do falecido. Você vem?
- Depois de tudo o que ouvi, não fico mais aqui - e foi de encontro ao morto.
- Quem é ele? - indagou Manoel.
- Não o reconhece? É o João - replicou Joaquim.
- Ih caramba! Velório errado... - matutou Manoel retirando-se do local.
Joaquim trombou com outro conhecido e retornou o antigo mexerico...
18 - outubro - 2002