Fim de conversa.
Então ela tinha se habituado a responder aos e-mails dele todas as manhãs. Às vezes, eram respostas aos muitos questionamentos dele ou algumas questões dela, em outras, simples relatos do cotidiano. Estranhamente (ou não) naqueles momentos conversavam sobre assuntos que nem sempre ela estaria aberta ou pronta a vivenciar, ou até mesmo sem vontade de pensar se não fosse questionada. Bom também era quando travavam diálogos totalmente sem compromisso, apenas bate-papo sem levar a qualquer questionamento. Eram papos descontraídos, onde as palavras surgiam sem o cuidado de estar traduzindo um pensamento, denunciando um sentimento. Difícil mesmo era quando ele vinha com sede de respostas, quando ele precisava daquelas palavras para justificar, para dar sentido aos seus pensamentos, dúvidas, e as muitas perguntas sem respostas. E nos últimos dias vinha sendo assim: ele queria que ela resolvesse com ele uma questão. Ela vinha adiando, justificando que não deveria opinar: daquela vez, não. E assim foi o que aconteceu naquele dia: ela decidiu que não iria emitir nenhuma opinião, uma palavra sequer. Ele precisava encontrar a resposta sozinho, ser responsável pelas suas palavras, assumir os seus atos. Aliás, certamente ele já tinha a resposta, só queria dividir com ela a responsabilidade da atitude que deveria tomar, queria cumplicidade; mas desta vez, ele teria que se ouvir e decidir sozinho. E foi assim, ela não respondeu aquele e-mail. No dia seguinte o e-mail se repetiu. No outro também. No quarto dia como ele continuava a insistir, ela decidiu responder com três pontos de interrogação e três reticências. Deixava para ele a questão a ser resolvida. Ponto Final.
Passaram-se dias e ele não enviou mais nenhum e-mail.Ele entendeu a resposta dela.
Nunca mais se falaram.
Evitaram palavras, mas o não-dito respondeu duramente a pergunta.