O COMERCIANTE

Havia, em certa cidade do Oriente, um mercador muito rico e também muito mau. Além de sovina, avarento e mau caráter, ele costumava também enganar as pessoas nos preços, no peso e na qualidade das mercadorias que vendia. Sua filosofia era lucrar, tirar vantagem de tudo.
Um dia, em que estava na praça pública, anunciando suas mercadorias, procurando incautos para enganar, ele viu um ajuntamento de pessoas em volta de um velho pregador. A primeira que coisa que pensou: ouvir uma palestra de graça. Quem sabe aquele velho mestre teria alguma coisa a ensinar a ele, para melhorar sua arte de engambelar as pessoas e ganhar mais dinheiro. Sempre se pode aproveitar alguma coisa...
Mas o que aconteceu foi exatamente o contrário. As palavras do pregador caíram bem fundo na sua consciência. O velho mestre falava de ética, moral, bondade, honestidade, desapego, virtudes das quais ele jamais passara sequer por perto. Assegurava aos seus ouvintes que essa era a única atitude capaz de trazer a verdadeira felicidade para o homem.
O mercador ficou profundamente envergonhado com a vida que levara até então e arrependeu-se sinceramente das ações que praticara. Resolveu mudar de atitudes, se tornando uma pessoa boa, honesta e justa. Compreendeu que tudo que ele queria na vida era ser feliz, e na verdade não era, pois ninguém pode ser feliz prejudicando outras pessoas e atraindo ódios e malquerenças sobre sua cabeça.
 Passou a fazer caridade, a ajudar as pessoas, a distribuir a sua riqueza aos pobres. Em pouco tempo estava pobre como Jó. Como era agora uma pessoa boa, honesta e desapegada, acreditava que quando precisasse, todas as pessoas iriam reconhecer isso e ajudá-lo. Qual não foi a sua decepção ao ver que todos lhe viraram as costas, dizendo: “ não era você que enganava as pessoas, roubava e maltratava todo mundo?  Se vira, cara!“ 
Em consequência, o mercador acabou mendigando pelas ruas. Um dia, ao passar pela praça, lá estava ele de novo, o pregador. Falando as mesmas coisas sobre bondade, piedade, amor, desapego, honestidade. Então o antigo rico mercador, agora mendigo, irrompeu no meio da plateia e disse:
─ Não acreditem em nada do que esse homem diz ─ gritou ele. ─ Eu acreditei e vejam o que ele fez de mim. Eu era rico e me tornei um mendigo. Tudo por que ele me fez acreditar que a felicidade estava em ser bom e honesto. Doei tudo para os outros e fiquei sem nada. Quando precisei, todos me voltaram as costas. A culpa de tudo isso é dele.
Então o sábio olhou para ele e disse calmamente.
─ Meu amigo. Eu lhe disse para ser bom e honesto, e não para deixar de ser comerciante e se tornar um bobo.