Contando estrelas

Pablo caminhava lentamente pela rua. Olhava o asfalto molhado. Ele gostava disso, de olhar os reflexos das luzes no asfalto molhado. Isso o fazia esquecer os problemas e esquecia até que estava molhado de chuva.

Até a casa de Juliana ele ainda teria que andar umas boas quadras e observando o asfalto refletir os postes e semáfaros foi lembrando de seu namoro.

No começo eram só risos e encantos. Ela era linda. Seu sorriso o fazia derreter. Horas ao telefone. Cartões de amor, flores e presentinhos. Vinte e quatro horas eram poucas pros dois.

Depois de três meses o encanto acabou. Vieram os defeitos. E Pablo sabia os seus de cor, mas os de Juliana estavam o surpreendendo. Ela era mandona e egoísta. Mas com o tempo ele se acostumou. Afinal o amor serve pra isso, aceitar os defeitos alheios.

Um ano de namoro e ele foi promovido no trabalho uma festa dupla. Salário melhor, carro novo e Juliana só faltava explodir a medida que ele enriquecia ela parecia amá-lo com mais intensidade. Mas a garota ainda era mais apaixonada pelo pronome EU.

Aquilo agora incomodava Pablo. E incomodava muito pois ela agora pedia tudo que via como uma criança mimada. E as chantagens emocionais começaram. De ficar dias sem se falar até greve de sexo. Juliana ficou implacável.

Depois que o nós virou eu, Pablo nem era mais alguém tudo era ela. Mas ele achava que isso também era amor.

Hoje ele pensou diferente. Ele tinha acabado de perder o emprego e pra suprir aquela dor vagou mentalmente pelo seu amor ... E viu que aquilo não era amor. E sabia que já havia acabado também. Depois de horas vagando debaixo da chuva fina decidiu ir a casa de Juliana. A moça era tão previsível que ele já sabia que o que ela iria falar:

- Credo! Isso é jeito de chegar aqui pra me ver? Que horror...

E ela falou o que ele havia pensando. Ela não deu uma toalha pra ele se enxugar, não o convidou a entrar. Deixou a porta aberta e saiu resmungando da má aparecia do namorado. Ele não entrou deu as costas e ficou parado olhando para o nada.

- Não vai entrar? Vai ficar aí parado é?

- Sabe Juliana... Disse o rapaz sem tirar os olhos agora do céu.

- Não... Não sei. – Respondeu ela com voz de deboche.

- Enquanto você vai sempre contar dinheiro... Eu vou contar estrelas.

Foi embora contando estrelas no céu e descobriu que a quantidade astros celestes tinha o valor do amor próprio e nunca mais voltou à casa de Juliana.