Memórias Póstumas de uma Traição (Intertextualidade do livro: Memórias Póstumas de Brás Cubas)

''Do primórdio ao contemporâneo dedico de coração as minhas memórias de uma vida de amores e traições.''

Em 1995 eu nasço, famosa e primordial vida que adquiro, uma pequena criaturinha de pouca cor e nenhum pensamento ainda desenvolvido. Pela primeira vez via a luz ofuscante penetrar meus inocentes olhos que mal podiam ver a imagem das pessoas refletida em mim, sentia-me como uma flor que acabara de desabrochar, é o que posso lhe dizer, leitor, eu era a criança mais bela daquele hospital, ficava na cidade de Sapucaia do Sul, lugar tão belo e próspero que sentia o vento bate no meu rosto com força quando saia daquele hospital, uma brisa natural que me fazia perceber o quão vivo era eu imerso naquele mundo.

Ao chegar em casa, meus pais pensam num nome para minha pessoa, eu olhava fixadamente para seus rostos sem entender nada, assim decidiram que meu nome completo seria Ângelo Cunha. O nome seria em homenagem ao substantivo Angel em inglês. Ironicamente , anjo, não seria a palavra apropriada para definir o tipo de pessoa que eu fui no passado.

Passou-se quinze anos e pela primeira vez eu ia numa festa, o ano era 2010, eu encontrei uma linda e jovial moça chamada Amy. Eu fiquei fascinado pela beleza a qual a moça carregava, ela tinha olhos castanhos, cabelos ruivos como as chamas do inferno que controla os impuros, ela usava uma saia vermelha e um colar com uma cruz, sim, a menina era religiosa. Ela era a aniversariante e me avistou-me assim que prendi meus olhos nela.

-Deseja dançar? -perguntou-me ela-, eu não mordo!

-Claro que sim, por que não?

Dançamos por vários minutos, até que um valentão apareceu de repente e separa o meu corpo que estava grudado na moça.

-Quem lhe deu permissão para dançar com a minha namorada? -disse um homem misterioso.

-Desculpe-me; qual seu nome? -indaguei-, espero não ter sido um estorvo por dançar com suma preciosidade que é sua amada, eu lhe suplico que me perdoe pela descortesia.

-Eu me chamo Eugênio, apenas não lhe bato, pois torci minha perna enquanto estava no exercito senão você estaria acabado.

Preste atenção leitor, há muito tempo Eugênio Pinho pertenceu ao exercito brasileiro, foi um soldado exemplar, um dos melhores atiradores, sua mira era tão certeira quanto de um soldado de alto escalão que lá habitava, mas o progresso como grande soldado acabou quando ele teve um acidente e bateu a perna em pleno treinamento na tropa, sua perna nunca mais foi a mesma, o jovem andava mancando e isso o deprimiu muito, o seu sonho de ser um protetor daqueles que precisava acabava a mercê desse acidente, agora restava apenas a família e sua amada Amy para lhe acariciar sempre que precisava, ele vivia apenas do amor e não mais das lutas.

Eu me afastei da vista dele e da sua namorada e fui-me ao canto, peguei uma lata de cerveja que comprei de um senhor, procurei uma mesa reservada por mim, já que eu era amigo de um amigo da aniversariante, olhava de longe todos dançando até que o mesmo amigo que me concedeu os convites veio até a minha mesa e me elogiou.

-Como anda o meu amigo Ângelo? -perguntou ele-, ta na seca? donde tiras o ânimo para conquistar outras meninas?

Seu nome era Alberto Ernesto, um grande filósofo e um amigo de infância e de escola. Ele tinha 16 anos, dono de um conhecimento abrangente, e um impeto aprendizado religioso que me espantava. Ele tinha cabelos escuros com um topete, olhos castanhos, e vestia um glamouroso terno que a cada passo encantava uma das meninas da festa.

-Eu ando meio sem sorte, acabei de largar de uma moça chamada Amy por ela ter uma namorada.

-Coisas assim acontecem meu caro -disse Ernesto sacando um pente e ajeitando seu jovial e belo topete-, além disso, eu ainda não lhe contei sobre a doutrina filosófica e religiosa que iria te contar.

Vocês devem estar se perguntando sobre o que trata as doutrinas citadas por ele, pois bem, leitor, foque no que ele dirá e nunca mais esqueça. A resposta que abrange a cultura de nosso mundo virá das palavras benevolentes do honroso Alberto, ouça e tire suas conclusões.

-São doutrinas que abrangem o mundo, pensamentos desenvolvidos por muitas horas debatendo sobre religião e ciência. Entenda meu caro de que, religião e ciência fazem parte do mundo em que vivemos, de culturas adquiridas com estudos e crenças, uns acreditam na religião e outros na ciência, não é anormalidade é uma realidade. O Cristianismo, o Budismo, o Judaísmo dentre outras religiões junto com a ciência criaram o mundo de guerras e discórdias, que formaram a cultura de nosso país e, também, do mundo -explicou Alberto usando palavras cultas.

-Engenhoso meu caro amigo, já pensou em dar um nome à esses pensamentos expostos por você? -perguntei-lhe.

-Eu chamarei de: C.F.R (Cordialidade Filosófica e Religiosa), pois com esse nome dar a entender de que o amor pelas demais religiões, filosofias e a própria ciência é que cria, de varias formas, o respeito pelas diferenças das pessoas -disse ele com brilho nos olhos-, não é fabuloso.

-Me deixou de queixo caído.

Eu sai da festa com o pensamento filosófico na cabeça. Realmente Alberto era um gênio.

Passou-se três meses e as escondidas eu convidava Amy para sair, não ligava para o namorado dela, eu olhava em seus olhos que ela estava perdendo a vontade de amar alguém como ele. Era de se supor, se eu fosse uma moça e me apaixonasse por um garoto careca, de olhos verdes, musculoso e com dentes amarelados e uma camiseta grudada no corpo, eu o largaria imediatamente.

A gente se encontrou assim por dez anos e o próprio Eugênio nunca percebeu, até que a moça engravida, estávamos com vinte cinco anos de idade, eu estava no final da faculdade de direito, Amy estava no primeiro ano no mestrado de turismo, enquanto o próprio Alberto estava na faculdade de Filosofia, eram tempos bons.

Caminhávamos sob as calçadas da cidade de Sapucaia do Sul e via-se lindas flores saindo delas, como se as flores lutassem para serem felizes assim como eu, Amy e Ernesto estávamos. A felicidade durou pouco quando Eugênio nos avistou e viu eu e a Amy trocando selinhos, ele ergueu sua arma e logo vi depois o seu rosto e a arma apontada em minha direção.

-Desgraçado, o que fazes com a minha namorada? -perguntou ele enfurecido.

-Calma querido, há uma explicação -disse Amy tentando acalma-lo-, não é o que parece.

-Eu sei o que estou vendo, são as marcas da traição, prepare-se para morrer seu desgraçado. Diga adeus a sua vida miserável -disse Eugênio irritado.

Naquele momento eu olhava para o céu e via as nuvens taparem o sol, via as flores que lá estavam cobertas pela baixa luminosidade, como se a natureza pressentisse que algo de ruim aconteceria, eu pensei naquele momento que a minha hora havia chegado. Leitor, quando as coisas estão indiferentes ao nosso redor devemos imaginar o que estaria por vim, assim como nosso corpo é guiado pela vida exuberante envolta, ela também pode nos avisar sobre algo que pode acontecer, nós mantemos a existência natural viva enquanto ela nos mantém da mesma forma. De repente cinco disparos saem da arma de Eugênio, porém Ernesto atira-se na frente e morre no meu lugar.

-Não! -gritei!

-Para! -disse Amy aos prantos-, assassino!

Por sorte uma viatura da policia apareceu no momento do disparo, foi um momento de muito azar para Eugênio, que foi preso logo em seguida.

Meu melhor amigo havia morrido, e eu me sentia culpado por tudo. Eu engravidei Amy, e destruir o sonho de Ernesto sobre a nossa doutrina que nasceria. Se eu não tivesse me apaixonado por Amy nada disso teria acontecido, eu destruir a vida de todo mundo, eu não poderia ser chamado de um anjo, mas um demônio que reencarna e leva as almas das pessoas ao inferno.

Passou-se quarenta anos, eu estava velho deitado num leito de hospital, eu tinha netos agora, uma família enorme, porém criada a mercê de uma desgraça eu contei a história a toda minha família e eles disseram que eu não deveria me preocupar, inesperadamente acontecimentos desse tipo acontecem, e assim leitor, culpo-me pela vida que eu criei a partir dessa desgraça, um horror que meus olhos avistaram: o sangue de um sonhador e o criador de uma ideia inovadora, um garoto jovem que tinha uma vida inteira pela frente. Sinto que é a minha hora e agora encerro as minhas memórias póstumas.

''Tive uma vida boa,

Boa demais,

Agora posso morrer,

Pensando que minha família cresceu de uma desgraça.''

Franklin Furtado Ieck

Sr Furtado
Enviado por Sr Furtado em 18/03/2014
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