A PROPINA E A ALMA. (parte 1) A Promessa Não Cumprida.
Em uma cidade nordestina, há dois homens de poder que são rivais desde a infância. São o deputado Francisélvis e o delegado Francislenon.
São dois primos de 42 anos, que sempre querem tudo o que o outro tem (até as namoradas entram nesse rolo).
Como quando se cruzam sempre se ofendem, evitam se cruzar. Mas dessa vez o deputado vai até o delegado e diz:
-Bom dia sinhô délegadu!
E olhando para os lados, o delegado diz:
-Bom dia sinhô députadu! Mas, pur que num mi xingô? Sua lacraia! U qui tu tá querenu!?
-Deixi di sê discunfiadu, tô só li desejanu um bom dia! (responde o deputado)
E então cada um vai para seu lado, mas o delegado fica tão inculcado com essa gentileza que resmunga:
-Tenhu qui discubrir u qui essi infiliz tá mi aprontanu!
Enquanto isso, já quase no final de seu expediente, um policial entra na delegacia com um jovem algemado e o delegado pergunta:
-Quem é essi mélianti? I u qui eli feiz?
-É um paulista intromitidu qui tava bisbilhotanu a vida du sinhô! (responde o cabo Insulino)
-Tu disse qui eli tava bisbilhotanu minha vida!? (pergunta o delegado)
-Sim sinhô! tava perguntanu lá na praça quantus inucentis u sinhô já prendeu pur dinheru. (responde o cabo Insulino)
-Intão lévi eli pra salinha di interrogatóriu qui já já tô inu. (diz o delegado)
E para essa minúscula sala escura o cabo leva o rapaz, e lá o senta atrás de uma mesinha. Onde algemado e com a visão ofuscada por uma lâmpada pendurada que balança bem próxima à seu rosto, espera... Até que o delegado entra, senta de frente á ele e diz:
-Nus deixi a sós Insulinu.
E com o indicador quase no rosto do rapaz, BATE a outra mão na mesinha e pergunta:
-Quem é você? I u qui tu qué aqui?
-Me chamo Lucas Andrade, sou repórter em um jornal de São Paulo e tô de férias aqui na cidade, que por sinal é muito boa.
Daí com indignação, o delegado diz:
-Num tenti mi inrolá falando bunitu i élogianu minha cidadi... Só diga u qui tu qué aqui cumigu!
-Como te disse, tô de férias e gostei daqui. Por isso tô procurando algum assunto interessante pra fazer uma reportagem, e quem sabe ficar mais tempo por aqui. (diz o repórter)
-I pur que tu tava mi investiganu? (pergunta o delegado)
Com a voz trêmula responde o repórter:
-É que, (glup...), em muitas cidades pequenas as vezes algumas autoridades abusam de seu poder, e daí eu queria saber se era esse o caso daqui,
-U sinho num pensô im também invéstigar ''um certu députadu'' qui tem na cidadi?... Ó, sinho Lucas; vô ti liberar, maaais vô ficar di olhu im tu, i vô investigar si u qui tu mi dissi é verdadi. I si eu discubri qui tu mintiu! Vô réalizar teu deseju i fazer tu ficar aqui pur muuuitu tempu! Tu mi intendeu? (diz o delegado)
É então que por medo, o jovem diz que foi contratado pelo deputado para fazer uma reportagem que denuncie o delegado.
-Eu sabia! Aquela lacraia véia tava mi aprontanu mesmu...
Então o delegado lhe faz uma nova proposta:
-Eu li pagu u dobru pra tu num fazê mais a réportagi sobri mim, tu só vai fingi qui tá fazenu u qui ele mandô..., mais na réalidadi a réportagi vai sê sobri eli! Tu faiz issu?
Sem saída o repórter diz que sim, é liberado e vai...
Já no hotel, enquanto tenta entender melhor no que se meteu, consegue hackear e-mails dos dois rivais, e descobre uma bomba!
É uma propina que disputam e não querem dividir!
Ao saber disso se assusta, mas continua fussando, até que anoitece e ele encontra algo que agora realmente o apavora!
Ele descobre que o juiz local aceitou essa propina em casa, sem que os dois saibam, e agora diz que ela é dele!
Enquanto lê isso, ouve sirenes se aproximando, olha pela janela e vê a polícia já na entrada do hotel. E por medo diz:
-Me ferrei!!! Me descobriram! Agora a disputa vai ser para me matar! O que eu faço!?
Então ele põe o boné, pega algumas coisas e guarda na mochila, daí foge escondido para uma mata próxima e sobe numa árvore e nela consegue sinal no celular. Mas por medo de o ouvirem, não telefona só escreve:
'Descobri q o juiz daqui ficou c a propina disputada entre o deputado e o delegado.'
E envia por SMS para seu chefe.
Em seguida, se assusta com um barulho da mata e cai.
Alguns galhos o amortecem na queda, mas ele bate a cabeça e desmaia.
Um pescador bêbado, que passa por perto, ouve o barulho da queda e o econtra. Mas ao vê-lo caido, o cutuca e diz:
-Ei moçu! Tu qué um gólim di cachaça?
Sem resposta, conclui que o moço morreu e vai embora.
Enqunto vai, cai em um buraco e por pensar que foi a alma do morto quem o derrubou, com medo diz:
-Seu difuntu, pur favô num mi lévi não!! Li prometu qui amanhã voltu i li Interru!
Mas quando volta só encontra rastros de uma onça e um boné sujo de sangue. Então diz:
-Mi disculpi seu difuntu! Num vai dá pra li interrá pur que a onça li cumeu!
Então com o chapéu contra o peito reza por aquela alma e vai embora.