A VIDA DE UM CARREIRO
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Até o final da década de sessenta as lavouras de café eram tratados com trabalho braçal, era enxada, rodo e alguns instrumentos de tração animal, também o transporte de todos os produtos cultivados eram feitos por meio de carroças e carros de bois.
Aproximadamente na década de setenta começou mudar e os tratores dividiam espaços com as carroças, carros de bois, arado ou outro instrumento de tração animal.
Neste contexto havia dois personagens importantes o carroceiro e o carreiro, o tempo que morei na fazenda conheci vários desses profissionais, dentre muitos vou destacar apenas um, Antonio Silveira ou Tonho Carreiro como era conhecido por todos.
Homem simples meio acaboclado, semi-analfabeto más de uma sabedoria e um dom especial para lidar com animais. Tonho Carreiro não os maltratava como alguns que passaram por lá, ele tinha paciência e muito jeito para trabalhar com os bois.
Amansador de bois xucros pegava dois novilhos os atrelava e soltava no pasto que ficavam algum tempo para acostumarem a andar juntos, e quando já estavam prontos e saia para fazer algum trabalho pesado, que exigia várias juntas de bois, os colocava no meio para aprender.
Tinha um problema no pé, uma ferida braba como chamavam na época, que nunca sarava andava sempre mancando com um pé enfaixado e fazia um corte em cima no sapatão para poder calçar.
Tonho Carreiro gostava de duas coisas, da cachaça e o jogo de truco tanto é que sempre na sua boiada tinha parelhas de bois com nomes como zapi e sete copas, espadilha e sete ouro e fazer as duas coisa juntas é o que ele mais gostava.
Morava sozinho na colônia queimava lata, depois arrumou uma família, amigou como diziam com uma mulher que tinha filhos, duas moças um rapazinho e um menino de uns doze anos que era seu candeeiro (geralmente um menino que ajuda o carreiro na condução dos bois, principalmente quando anda por lugares que não tem caminho traçado o candeeiro vai na frente para os bois seguí-lo).
A família dele não era bem aceita pelo povo da fazenda pela condição em que viviam, que na época não era muito comum e também o fato de serem negros pode ter ajudado a causar a rejeição.
Naquele tempo não era proibido extrair madeira do mato e a fazenda tinha uma serraria, Tonho Carreiro ia bem cedinho para a sede da fazenda, tinha o rancho das carroças e do lado o dos carros de bois, pegava uma mula de serviço arriava e ia ao pasto recolher a boiada, separava neste caso seis ou sete juntas atrelava todos e saía da mangueira.
Num gramado em frente a casa do administrador, tinha uma grande paineira e ali ficava o carretão era um enorme tronco de madeira trabalhada de forma a ficar como quadrado com um eixo e duas chamadas de rodas de ferro ( aquelas rodas de madeira raiada e encapada por uma chapa de ferro) um cabeçalho como o do carro de boi para atrelar a boiada, eram duas peças dessas, o cabeçalho da de traz engatava na da frente, e em cima tinha uma cavidade que ficava no jeito para assentar a tora.
Tudo pronto Tonho Carreiro e o candeeiro tocavam para o mato com a boiada, geralmente nesse meio tinha dois novilhos sendo amansado a caminhada era longa, os bois com seus passos lentos levava até quase duas horas para chegar ao destino.
Chegando, ficava a boiada parada na margem da mata e o menino ali tomando conta, e Tonho Carreiro entrava no mato com um machado uma foice e um grande facão que sempre carregava na cintura.
Escolhia a árvore a ser derrubada e com calma ia trabalhando no machado até derrubá-la, geralmente essas árvores tinham um tronco longo com uma copa com poucos galhos, ele cortava todos deixando a tora limpa.
Para retirar uma tora dessas, estragava bastante a vegetação pequena, pois tinha que abrir uma picada e entrar com três ou quatro juntas de bois com um correntão e arrastar a tora para fora do mato.
Posicionava o carretão punha uns troncos de madeira como levas para rolar a tora, deixando-a paralela ao carretão, mudava os bois para o outro lado amarrava a corrente em uma extremidade da tora e puxava para cima, depois fazia o mesmo com a outra, amarrava bem com correntes para não cair na estrada. Estava pronto, era só engatar toda a boiada e seguir devagar para o destino.
Esse trabalho levava o dia todo, só a tarde chegava à sede da fazenda, descarregava a tora e se dirigia a mangueira para soltar os bois.
Mas não era só madeira que ele carregava, puxava milho, lenha para o pessoal usar nos fogões e também café na época da colheita. Mas com o avanço da tecnologia as carroças e os carros de bois foram perdendo espaço para os tratores, também com a proibição da extração de madeira, Tonho Carreiro ficou sem função.
Ainda por algum tempo teve serviço com o carro, mas já de menos importância como ir com o carro duas juntas de bois no canavial, cortar cana e trazer para tratar o gado, carregar lascas para cerca geralmente em lugares que trator não entrava, mas com o tempo os carros foram encostados de vez.
Tonho Carreiro ainda ficou morando na fazenda um tempo fazendo outros trabalhos, depois com a decadência do café, como todos daquela época também foi embora.