O homem que queria amar de verdade.
 
 
                -Quando sentiu isso pela primeira vez Paulo? – disse Dr. Roberto.
                -Duas semanas atrás – disse Paulo, tinha a camisa desabotoada, deixou assim, para que  o médico  pudesse fazer exame clínico. Cabelos brancos, o médico parecia infeliz, ou será que ele via todo mundo como uma pessoa infeliz, somente porque não poderia ser feliz, a grande ilusão da felicidade tinha um nome: Dora, todas as mulheres não significavam nada, perto do menor sorriso dela.
                O  doutor terminou o exame, Paulo nem sabia o que estava fazendo em um consultório médico, tinha quarenta anos, sentiu uma angústia, um aperto no coração, um segundo sem ar.
                -Acho que não é nada doutor, foi apenas uma angústia – disse Paulo abotoando a camisa.
                O médico concordou com a cabeça e perguntou se Paulo queria uma prescrição de ansiolítico, Paulo disse que estava bem, tudo passa nessa vida doutor, disse e sorriu.
                Desceu as escadas pensando nos últimos dias de sua convivência com Dora, tinha falado com ela duas vezes, ela disse que ia viajar para Londres, um trabalho na tv, alguma coisa assim, ela tinha muitos planos.
                -A gente se encontra lá – disse Paulo - e ela simplesmente sorriu e disse que aquilo era um adeus definitivo.
                -Quero um pouco de espaço, nunca vou amar você, entende? Você é bonito, tem um charme, e é tão fabulosamente rico! Que é quase uma heresia feminima o que estou fazendo
 – ela até que tinha lágrimas nos olhos – meu verdadeiro amor está em algum lugar por ai, se eu não encontrar, sei lá ... – ela suspirou – prefiro ficar procurando.
                Paulo sabia o que ela queria dizer, pois sentia o mesmo. Alguma dor estranha embolava o seu estômago quando levantava da cama de uma mulher que só servia para trazer a lembrança de Dora a sua cabeça.
                Tudo isso foi há três anos e agora aquelas crises de ansiedade aconteciam com certa frequência, muitas vezes nos apaixonamos por uma mulher ideal que criamos na nossa cabeça, pensou Paulo, uma representação do ideal, uma deusa, no caso de Dora, um fantasma que quando tocamos congelamos o tempo.
                Parou em frente a uma loja de eletrodoméstico, estava na hora do telejornal, ela sempre aparecia como correspondente da emissora em Londres. O enigma da vida deu a condição para que se não fosse o amante seria o anjo, então ele era o responsável pelo sucesso dela, Dora nem mesmo sabia disso, pensava que havia crescido na empresa pelo talento.
                -Talento ela tem, mas nesse mundo o talento vale pouco, apenas à estética e a grana é que valem, por isso cobrei esses favores, se não puder ser feliz com ela, farei ela feliz, de alguma forma estarei por lá – pensou Paulo entrando no restaurante, que sempre almoçava, sentou em frente a tv para assistir o telejornal.
                -Que coisa triste não é doutor – disse o garçom.
                -Como?
                -O que aconteceu com essa menina , tão bonita - ele olhou para a TV e apontou a tela onde passava o telejornal – a repórter, parece que ela estava cobrindo uma reportagem e...
                O garçom não parou de falar, Paulo ficou surdo para o mundo, andou e parou bem na frente da TV, olhando tudo que ele mais amava diluir em cinco minutos de reportagem. Anjos não morrem, meu Deus, de que adianta tudo que se têm, pois não se pode amar em definitivo, tudo que ele queria era pegar na mão dela pela última vez e vê-la sorrir.

                De alguma forma precisava se livrar daquele alívio.
               -Carlos, me dá uma cerveja - disse, "porra que sensação de alívio é essa?" - Carlos, troca de canal.
             
        
JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 12/03/2014
Reeditado em 13/03/2014
Código do texto: T4726306
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