Tempo perdido
Parecia apenas mais um dia qualquer com os ponteiros apressados, a sua
úlcera e os pensamentos se fundiram em uma imperfeição de dor e ócio, únicos em seu esplendor de inutilidade.
Tirou de sua mochila alguns anestésicos e um maço ainda fechado de cigarros, poria fim a toda aquela lamúria e iria se arrumar para ir trabalhar. Chegou a hora de dar adeus, pensou.
Quando botou os pés para fora de casa sentiu o asfalto banhado pelo recente sol que se erguia, era um bom motivo para pegar um taxi e poupar algumas horas de seu tempo.
Sem saber em qual direção olhar, atravessou a rua. Viu pássaros vindo na direção oposta, Acenou e atravessou ignorando o trânsito ferrado daquela manhã, de mais um dia que cumpriria seu papel, bateria cartão, se sentaria desconfortável em sua cadeira e digitaria.
A menos que algo o impedisse, pensou.
Mas qual desculpa seria convicente?
Na noite anterior uma certa quantidade de parasitas invadiram seu quarto, deixando-o terrivelmente adoecido.
Talvez algo menos constrangedor.
O entusiasmo e o comprometimento com a função que exercia haviam lhe abandonado há meses, chegou o momento de trocar de emprego, ou função, para que assim a empresa não fosse prejudicada, e ele, finalmente encontrasse uma razão para chegar no horário e cumprir seus prazos.
A verdade é demasiado prejudicial. O aluguel precisaria ser pago.
Mais uma vez parado no semáforo, esta cidade não mais funciona. De ônibus certamente já teria chegado, constatou.
Algo mais simples, como enxaqueca ou ressaca poderiam funcionar. Mas como avisaria? Já era muito tarde e estava muito perto. Ir para casa seria tempo perdido, até porque já tinha acordado no horário determinado.
Pagou o taxista e pegou o elevador. Quando chegou deu de cara com a porta fechada, pois era sábado.