O Pardinho (Intertextualidade do livro: A Moreninha)

Eu era negro, sim, tinha a cor mais escura do que qualquer pessoa que eu conhecia em toda a minha vida. E, isso nunca me incomodou, pois eu nasci para ser feliz e assim serei, não deixarei que me desencorajem por eu ser diferente, eu sou vívido, eu sou jovial, eu sou feliz.

Eu me chamo Carlos, mas todos me chamam de o pardinho.Tinha pele parda, olhos castanhos e usava uma bermuda vermelha e estudava numa escola muito simples do Rio de Janeiro. Lá eu fiz muitos amigos, inclusive uma bela moça que avistava ao meu alcance, seu nome era Augusta e tinha uma benevolência com aqueles que encontravam ao seu redor.

-Bom dia -dizia ela com a voz mais fina e aguda que eu já pude escutar na minha vida, uma voz equivalente ao canto de Bem-te-vis nas manhãs de sábado.

Eu já viajei muito com meus pais, que eram ricos, homens nobres de bondade sem igual. Meus pais me deram uma educação rica em valores morais e éticos que me contagiava todos os dias, eu me sentia a pessoa mais nobre do mundo, e isso era o que eles queriam.

Sempre que eu e Augusta nos víamos no colégio é como se dois meteoros chocassem entre si e se desintegrasse no espaço, bem, eu estava apaixonado por aquela linda moça de olhos castanhos, moça de cabelos escuros presos em duas tranças, com uma calça longa colada. Eu fiquei envergonhado no começo, nunca havia falado com ela antes, eu a encontrei no corredor e começamos a nos falar.

-Bom dia Augusta, como estás? -inquiri.

-Eu ando bem, bom vê-lo Carlos, mas diga-me! Qual a honra desta bela conversa,?

-Bem... Quer dar uma volta? Eu sou seu colega de classe e queria conhecê-la melhor.

-Eu não posso, é que meu irmão me proíbe de sair com qualquer um.

Da pra acreditar? O irmão dela o proibia de buscar sua própria felicidade ao lado das outras pessoas. Que safado. Eu tive vontade de perguntar-la onde ele estava e eis que ele aparece, um jovem muito alto, com um uniforme do aluno do ensino médio, cabelos louros e olhos verdes.

-Vocês, garotos do fundamental não vão deixar a minha irmã em paz? -disse ele.

-Quem é você? -perguntei-lhe.

-Eu sou Cesar, irmão de Augusta, a menina que estás paquerando -retrucou ele.

-Eu não quero me aproveitar de sua irmã, eu apenas quero sua amizade.

-Mentira -brandou Cesar.

-Parem vocês dois! Cesar, o Carlos é um bom rapaz, está quase no fim do ensino fundamental, tem quinze anos, e sofre racismo todos os dias pela sua turma. Veja como ele é um rapaz forte, aguenta as dores que sofre todos os dias sem desistir nunca.

Cesar ao ouvir a conversa de sua irmã sente-se cabisbaixo, por ter se enganado a respeito de Carlos, ele pensou que o garoto quisesse aproveitar-se de sua irmã, mas era nada mais que uma amizade inocente.

-Certo! Sinto muito Carlos, eu fui um idiota. Sejamos amigos? Por favor? -implorou Cesar.

-Claro que sim meu amigo, todavia eu quero ir à casa de vocês, já que tenho novos amigos para curtir a vida -disse Carlos empolgado.

Eles riram, não de deboche, mas ao meu lado como se fossem meus grandes amigos.

Ao caminhar pelas ruas da cidade na direção da casa de Augusta e Cesar, vejo um garoto fumando maconha, perto de um muro, ele tinha olhos vermelhos preenchidos pelas várias noites sem conseguir dormir, lábios secos entregues ao vício sublime da droga, pele amarelada e magreza extrema. Aquele era meu amigo de infância Fábio, um garoto que terminou o ensino médio, porém perdeu os pais logo que se formava e perdeu sua namorada para um babaca que parecia ser rico, naquela época eu não aceitava o sofrimento pelo qual Fábio sofria, então decidi ajuda-lo.

-Fábio! -gritei para ele.

Meus amigos correram atrás de mim para ver o que estava acontecendo e eu lhes contei toda a história e virei meus olhos fixadamente para o garoto que já não conseguia ergue-se em pé.

-Escute meu amigo! Você precisa se tratar, estás magro e precisas se alimentar. Largue esse vício maldito -implorei-lhe.

-Se você tivesse perdido tudo tu estarias na mesma situação, não quero ouvir conselhos de você -disse Fábio olhando para o céu infinito e azul.

-Olhe! Tu acha que eu não passo por dificuldades como tu? Claro que passo, e veja, todos nós sofremos uma vez na vida, mas se erguemos a cabeça e lutamos contra as aprovações seremos capazes de tudo, entendes?

-Sim eu entendo! -Então meu amigo levanta-se e segura minha mão.

Nós o levamos para uma clínica de reabilitação, donde ele se recuperaria e seguiria em frente na sua vida.

Depois disso, fomos a casa dos meus amigos e estávamos morrendo de fome. Eu liguei aos meus pais e disse que passaria uns dias na casa deles.

-Por que demoraram tanto seus pestinhas -disse Dona Chica, avó de Augusta e Cesar.

-Desculpem-nos a demora, eu estava ajudando um grande amigo -disse Augusta sorrindo para mim, e seu irmão rindo junto.

-Muito bem! Entrem, antes que morram de fome.

D.Chica era uma mulher simpática, porém muito rabugenta ao mesmo tempo. Ela tinha longos cabelos brancos presos num coque, rosto enrugado como um limão que foi torcido por muito tempo e olhos azuis como os mares da ilha de Paquetá.

Chegou a noite enquanto Cesar lia um belo livro chamado A Moreninha, eu e Augusta contemplávamos as estrelas no céu, ela olhou paraa mim fixadamente e me beijou logo em seguída. Foi um beijo rápido, um sonho, até chegar o dia seguinte.

-Venham rápido! -disse Dona Chica na manhã seguinte.

-O que aconteceu? -indaguei.

-Meu deus! A Augusta está doente de cama, chamamos um médico e ele disse que ela possui o vírus da Aids.

Foi como um meteoro que, agora, chocava-se contra o nosso planeta ao invés de outro meteoro semelhante. Ontem eu vivia um sonho, agora a realidade. A minha amada morreria logo se não a cuidassem, e também haveria a chance de eu ter contraído a doença, meu deus, foi tantos sentimentos ruins que me fizeram chorar noites e noites.

Passou-se muitos anos e eu visitara a minha querida no hospital naquele dia.

-Aguente firme, meu amor. Você é forte, ficarás bem! -disse eu chorando muito.

-Querido, você precisa viver sem mim -declarou ela-, além disso, és um homem audacioso que não se deixa abalar por nada, é por isso que me apaixonei por você, seja feliz ao lado de outra moça, uma que lhe agrade e que te ame eternamente.

A mão que estava unida a minha soltava-se lentamente, a minha amada morria naquela noite de chuva, eu caia na melancolia eterna, nunca sofrera tanto na minha vida. Quando de repente, encontro o doutor e peço-lhe para fazer um exame em mim, eu também tinha contraído o vírus através de uma relação sexual que tive com Augusta, e agora estava um pé na sepultura.

Alguns anhos se passaram e eu estava de cama, meus pais me visitavam toda hora, Dona Chica trazia ervas e bolinhos, pois achava que com mais comida podia curar um moribundo, pobre velha inocente, eu estava caído, imobilizado e sem esperanças, até que um grande amigo aparece, sim, Carlos voltara recuperado e vinha vê-me.

-Você não está nada bem! -perguntou ele.

-É verdade, mas antes que eu morra lhe peço um ultimo desejo. Contem a todos os novos amigos que fizeres sobre a história de vida e superação que tive, eu sou um cara forte e aguentei tudo de cabeça erguida e com a mão no coração, faça isso por mim por favor.

E Carlos segurava a minha mão chorando muito, dizendo que eu iria sobreviver. Ele antes perdia todas as esperanças, agora que se recuperava sabia que não poderia abandonar a fé nunca mais.

Eu escrevi tudo que acabares de lê, leitor, eu estou morrendo e este é o meu ultimo suspiro, peço-lhes que divulguem a minha história e que se tornem parte da vida de vocês, eu fui um jovem que lutou contra o medo, a morte e a dor. Agora fui abatido para descobrir os prazeres de uma nova vida no paraíso.

Franklin Furtado Ieck

Sr Furtado
Enviado por Sr Furtado em 11/03/2014
Reeditado em 14/03/2014
Código do texto: T4724488
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