Desbunde Existencial
Lavava a louça e chovia fino. Duas trovoadas de aproximadamente três minutos e um baque vindo da sala. O gato pulou contra o vidro da janela. E então o céu, ali em frente, imenso, céu escuro, pesado e maciço. Noite que se antecipava e adentrava aquela tarde de verão, tão deslocada e insólita quanto o frio. Ele, o céu, é todo um paradoxo, e embora seja um clichê descrevê-lo de tal forma, o farei – me pareceu por um instante extremamente distante e ao mesmo tempo próximo. Esmagador, senti-me submerso por uma imensa camada de algodão molhado e, de repente, por mera distração talvez, dei-me conta de uma certeza ridiculamente óbvia, mas que sempre ignorei: sou uma pessoa de verdade e um dia morrerei pra sempre. Matéria viva, vida em movimento. Uma existência efêmera tão relevante quanto o próprio deslumbramento diante do céu. Treze anos, quinze minutos.
Desde então parei de dormir.