PARECÊNÇAS...

Doutor, não sei se já aconteceu com o senhor algo que antigamente ocorria comigo até com relativa freqüência mas, que felizmente hoje não acontece mais. Nessa época, no ônibus, na rua, no cinema, na praia, onde quer que estivesse era sempre confundido com alguém ou, se não fosse confundido ao menos diziam que eu parecia com este ou aquele indivíduo, um parente, um conhecido, etc. Lembro que no inicio da minha adolescência costumavam dizer que eu parecia muito com Cantinflas, um personagem do cinema mexicano vivido pelo humorista Mario Moreno que fazia muito sucesso na década dos anos 70. Nunca me incomodei com isso até o dia em que vi na tela o tal Cantinflas. Era um personagem simplório e simpático que usava uma barbinha rala, falava pelos cotovelos e tinha a característica de usar a calça sempre caindo, segura somente por uma espécie de barbante amarrado na cintura e com boa parte da bunda aparecendo. Confesso que não me empolguei com a comparação mas também não fiquei lá muito constrangido porquê nessa época já estavam deixando de me chamar de Cantinflas para me chamarem de Charles Bronson, ator norte ameriicano com quem passaram a me achar parecido. Se dependesse de mim preferia ser parecido com Steve McQueen mas, como era impossível, aceitei a comparação e deixei crescer um bigodinho com as pontas caídas para melhor me identificar com o canastrão. Isso durou até o dia em que parado ante o espelho falei pra mim mesmo: Cara! Deixe de ser ridículo, tire esse bigode horrível e seja você mesmo. E assim fiz. Raspei o bigode, cortei o cabelo e passei a ser eu mesmo, o Joel, filho da Dona Francisca. Porém, foi nessa época que aconteceu algo no mínimo curioso. Estava eu num hospital na cidade de Mogi Guaçu, interior se São Paulo onde fora visitar um amigo internado, quando fui abordado por um homem que visivelmente embriagado conversou comigo pensando que eu fosse o cantor Altemar Dutra. Nada fiz para desfazer o engano, pelo contrário, falei com ele como se fora o próprio cantor dizendo que voltava de Minas Gerais onde acabara de fazer uma apresentação naquele final de semana e, voltando pra São Paulo passei no hospital para visitar um amigo que ali estava internado. Depois de algum tempo me despedi apreensivo, receoso de que o homem me pedisse um autógrafo mas felizmente ele não pediu e saí dali aliviado. Passado algum tempo desse episódio, recebi uma estranha cartinha de uma empregada doméstica que trabalhava na casa dos pais de um amigo meu. A cartinha começava assim: "Meu querido Goel...", assim mesmo com G no lugar do J, onde ela falava com empolgação sobre Antonio Marcos um cantor da época e, nas entrelinhas sugeria um caso comigo, na verdade oferecendo-se à mim. Este oferecimento não era por causa das minhas possíveis qualidades nem pelos meus improváveis encantos pessoais, mas sim, por me achar parecido com o dito cujo. É mole? Ciente que se tratava de uma menina atraente com belos atributos físicos avaliei a situação mas, como também tenho cá meus caprichos e orgulhos, não cedi aos seus apelos e a descartei pois, me sentiria constrangido se saísse com uma mulher só porquê me pareço com o homem pelo qual ela se sente atraída. Muitas outras histórias semelhantes aconteceram ao longo dos anos mas, felizmente, não tenho mais esse problema. Estando agora na casa dos cinqüenta hoje sou eu próprio não me assemelhando nem parecendo com mais com ninguém. Além disso, andar por aí se parecendo com outras pessoas pode dar margem a que alguém diga que isso não é coisa de gente séria, e sim, de quem não tem o que fazer.

JotaCF
Enviado por JotaCF em 05/03/2014
Reeditado em 07/03/2014
Código do texto: T4716728
Classificação de conteúdo: seguro