A procura da verdade - 1ª Parte
(Uma história verdadeira)
No ano de 1961, em uma casa humilde, ouviam-se choro de crianças, o dia inteiro, embora parecesse que estavam sós por muito mais tempo. A casa ficava em um bairro pobre, como a maioria, nos morros da zona norte da cidade. Os vizinhos, depois de discutirem a interferência, decidiram por chamar a polícia. Havia três crianças: uma menina de quatro anos e seus irmãos gêmeos de seis meses. Já estavam sozinhos trancados na casa há três dias. Um dos gêmeos havia falecido e o outro estava pendurado pelo pescoço no furo de uma rede quase sufocando. A polícia descobriu o endereço da avó paterna e os levou até lá. A avó não sabia que o filho havia deixado mulher filhos e, muito menos, do abandono desta às crianças. Meses depois, o pai levou o filho para sua nova casa. Ele era pedreiro e estava com uma nova mulher. A menina continuou com a avó.
1970 – O pai havia iniciado a escavação de um poço. Era um dos serviços que “pegara” enquanto, em outra obra, dava expediente o dia todo durante a semana. O menino acompanhava o pai. Aos nove anos já era capaz de dar alguma ajuda, mas à tarde voltava para casa sozinho. Naquele dia, ao chegar, encontrou uma velha senhora conversando com a sua mãe. Percebeu tratar-se da sua avó. Sua mãe (ele a conhecia assim), pediu para que ele a levasse até o local de trabalho do seu pai. Os dois seguiram de volta ao lugar onde seu pai estava trabalhando, no entanto, no caminho, sua avó acenou para um taxi, o pôs dentro.
- O trabalho de papai é aqui pertinho - Alertou o garoto, mas sua avó disse que ninguém queria lhe dizer, mas que o seu pai havia morrido e o levou com ela para sua casa no outro extremo da cidade.
Na casa havia um altar com muitos santos, certo cheiro de incenso, flores, velas e fitas coloridas. Logo apareceu uma menina que sua avó apresentou como sua irmã. Ele nem sabia que tinha uma. Era quase uma mocinha com 12 anos. Foram dois anos de convivência naquela casa. Sua avó, entre outras coisas, também lhe dissera que aquela a quem ele chamava de mãe não era sua verdadeira mãe. Era sua madrasta e que não sabia a onde sua mãe estava. Ele gostava da casa e do bairro, mas sentia saudades do seu pai e tinha certo enjôo das atividades espíritas de sua avó.
Chegara o dia em que sua avó iria ao banco receber o benefício. Ele ficara, como de costume, com sua irmã, mas terminou o dia e sua avó não voltou. Esperam que ela voltasse no dia seguinte, mas fora uma espera inútil. Sua avó nunca mais voltou. Eles ficaram sozinhos naquela casa enorme sem saber o que fazer. Já fazia uma semana. A comida já estava no fim. Os vizinhos não sabiam do paradeiro da dona da casa. Uma semana depois apareceu um homem se dizendo o dono da casa com documento que as crianças não sabiam o significado. Ele exigiu a saída das crianças. Eles saíram. Ficaram na rua. Dois dias depois sua irmã desapareceu. Depois de procurá-la na feira, no mercado e em todos os lugares que lhe pareceram prováveis de encontrá-la ele desistiu. Vivia com fome. As esmolas que recebia das pessoas não eram suficientes. Sua roupa já estava suja. As pessoas o olhavam como a um delinqüente mirim. Passou a usar a igreja como refúgio. Passava o dia em suas imediações. Havia gostado do semblante do padre que o percebera e passara a dar-lhe comida. Com o passar do tempo ele o convidou a ajudar na igreja. Varrer, fazer pequenos mandados. Ele passou a se sentir mais confortável depois que o padre lhe ofereceu um alojamento nas dependências da paróquia.
Numa manhã de domingo, durante a missa achou ter visto sua irmã que acompanhava uma senhora. Na primeira oportunidade, mostrou ao padre.
- Padre, aquela é minha irmã!
- Como sua irmã? Você não havia me falada que tinha uma.
- Ela é minha irmã.
O padre dirigiu-se à senhora a quem a irmã do menino acompanhava e obteve da mocinha a confirmação.
Dias depois parou um carro com uma jovem ao volante em frente à igreja. Ela e o padre conversaram e dirigiram-se até o garoto.
- Meu jovem! Esta moça aqui vai levá-lo para morar com a mãe dela que mora em uma boa casa num bom bairro. Comporte-se! Acho que você vai gostar.
Fizeram todo o trajeto em silêncio. O garoto pensava em tudo que já lhe acontecera e decidiu que não era hora de fazer escolhas. Deixaria que os acontecimentos o levassem. Pensava na irmã. Sabia que não era fácil vê-la de novo e achava que ela poderia também não querer vê-lo.
A casa em que chegaram tinha garagem, jardim, uma bela varanda e era muito confortável. Ele ainda não havia entrado numa assim. Logo uma senhora veio lhe receber.
- Então é esse o menino? Mas ele é muito grande! Não sei se vai dar certo não!
- Nós só saberemos se tentar mamãe.
- Filho, quanto é que você quer ganhar para me ajudar aqui em casa?
- Nada!- Respondera depois de pensar um pouco.
- Só queria que a senhora me ajudasse a aprender a ler.
- Aprender a ler?
- É. É que as pessoas mentem muito. Acho que se eu aprender a ler é que vou saber a verdade. Quero saber se meu pai está vivo. Quem é a minha mãe. O que aconteceu com a minha avó.