Um Cachorro amigo e Inteligente.
Um ônibus é um ônibus, um cachorro é um cachorro, e, o motorista do ônibus e o dono do cachorro que se entendam.
Nada mais tranqüilo do que você entrar em um ônibus, tomar a sua poltrona como assento, debulhar um bom livro que o remeta a uma realidade adversa que a do momento e deixar a imaginação tomar conta dos seus pensamentos e sentimentos, que são só seus.
Sábado de manhã. Este é um momento impar para se relaxar. Porem, hoje muitos o reserva para sair e visitar os parentes, amigos ou mesmo para dar uma saída descontraída e descompromissada e buscar inovações para o esperado fim de semana. Muitos também o fazem para levarem os seus animaizinhos de estimação, um cachorrinho, por exemplo, a dar uma passeada ou mesmo para outras atividades corriqueiras.
Cachorro. Particularmente não tenho nada contra quem cria, cuida ou os têm como parte da família. Entretanto, não possuo nenhum, apesar de admirá-los. Alguns são simpáticos pela aparência e outros pelo comportamento, já outros pelos seus dotes e pelo seu adestramento.
Quando em grupo são muito companheiros, mas o seu melhor companheiro, seja lá quem for, é o homem. Há quem conteste isso, ou melhor, hoje já não há mais contestação sobre esse fato, mesmo porque os indivíduos que optam por morarem sozinhos ou apenas na companhia de um cão têm aumentado consideravelmente, não só no Brasil, mas no mundo inteiro; a França que o diga.
O tratamento dispensado a essas criaturas pelos seus criadores tornou-se invejado nos dias atuais, talvez por conseqüência disso percebe-se ou denota-se que eles – os cães – são dotados de inteligência e de uma percepção de causar inveja a qualquer pesquisador americano.
Fato é que já existe disputa para apurar qual o cão mais inteligente, de uma comunidade, por exemplo.
Diante disto, não tenho dúvidas de que o cão que conheci neste sábado passado próximo é o mais inteligente e o mais amigo do seu dono, além de ser sabedor do que o seu dono iria e/ou teria de fazer naquele momento.
É sabido por todos que um cão não pode circular em um transporte público sem que esteja em um daqueles recipientes próprios. Mas neste dia aconteceu uma situação inusitada em que, após um cidadão embarcar no ônibus, no qual eu estava, um cão de cor preta e de malhas marrons bem claras, orelhas salientes e de patas brancas tentou de todas as formas impedir que o motorista fechasse a porta do ônibus para dar partida e prosseguir a viagem.
O senhor doca, como fora chamado pelo motorista, foi acionado a dar um jeito naquela sena, posto que os passageiros não podiam ficar ali parados à mercê da vontade daquele cachorro por querer estar perto do seu querido dono. Após o senhor Doca fustigar o cachorro e este recuar, é que a porta do veículo foi fechada e a viagem prosseguiu.
No entanto, do lado de fora o cão acompanhou o ônibus até o momento em que ao se aproximar de um entroncamento um passageiro solicitou a parada para desembarque.
Ali, a postos, estava o cão. Ainda ofegante pelo trajeto percorrido, orelhas em pé, língua pra fora, olhos atentos e rabo empinado. Entre um latido e outro, um grunhido de impaciência como se adivinhasse que o seu dono, de fato, não desceria daquele ônibus, ou que a qualquer momento ele saísse porta afora, para o seu consolo, claro. Coisa que não aconteceu.
Terminado os desembarques o ônibus seguiu viagem deixando para traz o cão.
Mal o ônibus se afastara do entroncamento, o senhor Doca indagou ao motorista o porquê de não entrar na estrada à direita, pois não era de sua intenção seguir em frente, e sim, seguir na direção contrária, tomando o caminho oposto à estrada na qual estavam e falou:
- Motô, o caminho para Cabral não é esse, nós tamo indo pra onde?
Prontamente o motorista do ônibus lhe respondeu:
- Senhor, estamos indo para Barbados, e não para Cabral.
- Minha nossa, peguei o ônibus errado. – bradou o senhor Doca – esse carro não vai pra Cabral, moço? – perguntou novamente.
- Não Senhor. Estamos indo para Barbados – respondeu-lhe o motorista.
Nessa hora meio atordoado, afoito e quase em pânico, o senhor Doca, sem que o ônibus parasse, já estava querendo apear e tomar o caminho de volta.
- Pára, pára, pára que eu descer – falou o senhor Doca gesticulando e esbravejando.
- Calma aí moço, não posso parar de qualquer jeito. Quando chegarmos num lugar seguro eu paro o ônibus – disse o motorista.
E assim foi feito. Chegado o momento certo, procedeu-se a parada e o senhor Doca desceu e abriu na carreira, pois, não podia perder mais tempo posto que a tarde já se aproximava e provavelmente, ele teria ainda uma longa jornada pela frente.
Retomada a viagem novamente, fez-se um breve silêncio no interior do veículo, com exceção de alguns burburios a cargo de pessoas que tomam ônibus pelos meios do caminho, sem que prestem atenção, mesmo porquê os ônibus que por ali trafegam passam muito velozes e mal dá para perceber em seus painéis, os destinos e os números, fazendo com que alguns usuários fiquem confusos, levando-os a cometerem esse tipo de erro.
Em meio a esse silencio me ocorreu um pensamento, com relação ao cachorro do senhor Doca. Considerando o seu esforço a labuta em não deixar o motorista fechar a porta do ônibus, os latidos, os grunhidos e a estafante corrida para tentar acompanhar o ônibus até aquele entroncamento, e até quem sabe a vontade de estar ali com o seu dono, não seria em vão.
Foi aí que comentei com o passageiro do lado, que também presenciara as cenas:
- - Aí amigo, quem sabe aquele cachorro não queria avisar ao senhor Doca que ele estava tomando o ônibus errado? .
Respondeu ele, com ar sério, apesar de um riso sarcástico.
- É. Não podemos subestimar o instinto animal, principalmente o cachorro que tem pela gente, um grande apego, com certeza era isso que o cachorro queria avisar.
Paulo Acácio
Belo Horizonte, fevereiro de 14.