Tristeza sem Fim
No alto da serra ao pé de uma paineira seu Laudelino se acomodava sem encostar no tronco, pois os acúleos não deixava. Tirou do bolso um toco de fumo e o seu "corneta", começou o ritual de suas meditações. Ia cortando pequenos nacos, pressa nenhuma, olhar esticado para o horizonte sem fim. Na mão, já com a quantidade para um paieiro, esfregou uma na outra transformando os nacos em fiapos de fumo, espalhou pela palha e distribuiu por igual na folha fina, passou a língua na beirada, enrolou sobre a mesma, tudo automaticamente, aquilo para ele era mais importante do que o barato do cigarro. Puxou a binga ascendeu o paieiro e tragou profundamente, exalou a fumaça brincando com ela, falou consigo "como estas musicas às vezes trazem verdades, mesmo que tristes, em palavras bonitas. Lembrou de um verso de samba antigo, coisa que não apreciava muito, pois não era moda de viola, mas reconheceu a beleza desta triste verdade: "Tristeza não tem fim, felicidade sim". Como é verdadeiro isto na vida da gente, que felicidade de quem escreveu esta tristeza. Se apercerbeu que alguem se avizinhava, quis compartilhar suas considerações... Espantou a fumaça com as mãos, mandou o amigo encostar. Veja amigo, estava tão contente com florada do café, sonhava pagar todas as minhas dividas, fazer um agrado para a patroa com a produção deste ano. De repente, uma geada matou tudo e a felicidade foi-se embora e a tristeza se fez companheira sem fim. Olhou para o companheiro que simplesmente sorriu concordando. Deu outra tragada, soltou a fumaça, que esperou ralear, não quis falar sem ver o rosto do companheiro que só falava com expressões faciais.
Ostros dias, um companheiro de pescaria, daquelas que não conta o peixe, mas só o tempo desvivido na beira do rio. Entende? Desvivido por que o tempo lá não conta na idade da gente. Só desvive. Por razões do seu eu, não se aguentou de tanta tristeza e foi pescar lá na bacia das almas, deixando para trás companheira e filhos para acabar de criar.
A felicidade é uma amante fugaz que sem sinalizar nos deixa, ou como diz o sambista, é uma gota de orvalho na pétala de uma rosa que brilha por um instante e cai.