"O Balé das Anjas Prostituídas" (poema-conto)
(Em memória de Pilar Oster, falecida por vontade própria)
A audição falhava
Falhava sempre quando não devia
Como agora, como ontem
E antes de falhar, ela sabia que falharia
Não escutou as mais belas palavras
Palavras cativantes e rancorosas
Como uma lamúria infantil
Feita por universitárias drogadas
Decidiu desistir de sobreviver àquelas verdades
Sabia que a fraqueza lhe dominava
E antes de "se morrer" percebeu que era bela
Era a mulher mais bela do mundo
Só lhe faltava o essencial
Lhe faltava o notável,
O adorável sentimento de amor próprio
Enquanto seu corpo pendeu no alabastro da varanda
Alguns gritaram histéricamente
Mas sua audição falhava
Falhava, pois não queria escutar nada
Não escutou os pássaros
As lamúrias daquelas loucas
Universitárias drogadas
Só escutava as batidas
Do próprio coração
Aquele amargo músculo palpitante
Que palpitava negativamente
Palavras em desalento
Nem soube quando a audição voltou
Carregaram teu corpo
Aquele corpo
O mais belo do mundo
Várias vezes carregaram aquele corpo despedaçado
Despedaçado pelo dia amargo
Despedaçado pela brisa
Despedaçado pelas lamúrias
De universitárias drogadas
Despedaçado pela tristeza dilacerante...
(2006)