"O Balé das Anjas Prostituídas" (poema-conto)

(Em memória de Pilar Oster, falecida por vontade própria)

A audição falhava

Falhava sempre quando não devia

Como agora, como ontem

E antes de falhar, ela sabia que falharia

Não escutou as mais belas palavras

Palavras cativantes e rancorosas

Como uma lamúria infantil

Feita por universitárias drogadas

Decidiu desistir de sobreviver àquelas verdades

Sabia que a fraqueza lhe dominava

E antes de "se morrer" percebeu que era bela

Era a mulher mais bela do mundo

Só lhe faltava o essencial

Lhe faltava o notável,

O adorável sentimento de amor próprio

Enquanto seu corpo pendeu no alabastro da varanda

Alguns gritaram histéricamente

Mas sua audição falhava

Falhava, pois não queria escutar nada

Não escutou os pássaros

As lamúrias daquelas loucas

Universitárias drogadas

Só escutava as batidas

Do próprio coração

Aquele amargo músculo palpitante

Que palpitava negativamente

Palavras em desalento

Nem soube quando a audição voltou

Carregaram teu corpo

Aquele corpo

O mais belo do mundo

Várias vezes carregaram aquele corpo despedaçado

Despedaçado pelo dia amargo

Despedaçado pela brisa

Despedaçado pelas lamúrias

De universitárias drogadas

Despedaçado pela tristeza dilacerante...

(2006)

Gilvan Irineu
Enviado por Gilvan Irineu em 16/02/2014
Reeditado em 22/02/2014
Código do texto: T4693762
Classificação de conteúdo: seguro