Você prometeu voltar

Manhã de segunda-feira.Carla não se continha de tanta felicidade. Agora tinha certeza.Era oficial.Estava grávida.Ser mãe era seu maior sonho. Casada com Eduardo há cinco anos,nunca conseguira engravidar,mesmo em

constante tratamento. Agora era real. Estava há dois meses esperando seu primogênito..

Saiu do consultório médico com o exame nas mãos. Não via a hora de

chegar em casa e dá a tão esperada notícia ao marido. A grande notícia. A mais esperada desde que se casaram. Notícia essa que mudaria suas vidas para sempre.

Atravessou a rua.Mal o sinal abrira levou um grande susto.Um carro parou de repente.Quase a pegou. Ela meio assustada, saiu às pressas,

tonta,

mas ainda ouvira uns xingamentos " tá louca? Quer morrer?" Deveria ser um destes motoristas querendo tirar o pai da forca, pensou.

Já no estacionamento, entrou em seu carro. Pega o celular. Ansiosa tenta falar com o marido. Não conseguiu,Tentou uma, duas, três vezes

não conseguindo, desiste. Pensou"Será melhor pessoalmente,será a maior alegria de nossas vidas". Liga o carro,acelera e sai.

Eduardo foi seu primeiro e único amor. Conheceram-se na escola. Ela

vivia triste e solitária. Ficara assim, desde que perdera os pais,aos cinco anos de idade, quando passou a morar com a avó paterna em uma fazenda no interior.

Aos quinze anos, já no Ensino Médio passara a estudar na cidade,onde conheceu Eduardo. Era um jovem galanteador. O cara mais paquerado da escola. Porém, foi com ela que ele casou. Aconteceu tudo direitinho como queria sua vó seguindo a tradição namoro, noivado e casamento.

Como ele tinha conseguido emprego na cidade vizinha,Financiaram uma casa e mudaram para a cidade,mesmo com a tristeza da avó que que

ria todos juntos na fazenda.

casada há cinco anos, passara por vários tratamentos para engravidar.Eduardo também fez o mesmo.Segundo o médico,tudo estava bem com o jovem casal, e que para ela engravidar, seria uma questão de tempo.

Carla acelerava o carro. Queria chegar em casa antes do marido sair

para o trabalho.Queria dar-lhe a tão esperada notícia,mas ao passar em

frente a um parque municipal,não poderia deixar de contemplar algumas

crianças correndo,saltando de brinquedo em brinquedo,caindo na areia,suas mães sempre atentas aos perigos.Ficou ali imóvel, dentro do carro observando o corre corre das crianças e não poderia deixar passa

despercebido o cuidado atento das mães com suas crianças.Por um instante, viu-se no lugar daquelas mães,brincando com seu filho naquele parque.

Ao chegar em casa muito ansiosa,procura o marido em todos os cantos. Chamou, gritou e não obteve resposta. Eduardo não dava nem um sinal de vida.Correu para o quarto,olhou o banheiro,nada.Ao virar-se vê

em cima da cama um papel escrito.Trêmula pegou o papel e lê" Meu amor,fui transferido para outro Estado,Foi tudo tão rápido que não deu

para te avisar.Ao chegar na cidade te ligo para dar-lhe maiores esclarecimentos.Voltarei para te buscar.Fica bem.Te amo. Edu.

Foi um choque.Seu mundo desabara.Não acreditara no que acabara de ler.Para onde teria ido Eduardo?Por que não lhe avisou?Quando voltaria? Perguntas para as quais não encontrava respostas.Tentou ligar para ele .Fez várias tentativas sem sucesso. Desesperada, caiu na cama aos prantos. Onde estaria aquele rapaz que aos quinze anos prometera cuidar dela para sempre

Passou o resto do dia ali imóvel naquela cama de casal.Sozinha com suas lembranças, não lhe saía da cabeça a ideia de ter sido abandonada,e logo agora que estaria grávida.

Passara a noite em claro.Ao amanhecer, tentou falar novamente com

o marido.Ligou muitas vezes mas não obteve nenhum retorno.Triste e de

solada buscou consolo no colo da avó.

Dona Amarílis apesar da idade mantinha a mesma calma e tranquilidade com que criara a neta.Carla soluçava desesperadamente.

Não largava aquele exame de gravidez.Dona Amarílis não media esforços

para vê-la bem.Sua neta estava grávida.Um herdeiro muito esperado pa

ra dar continuidade a família Gomes de Barros. Porém, encomodave-lhe

o fato da neta está grávida e abandonada.Tentou não pensar nisso.Devi

do ao cansaço Carla adormeceu.Dona Amarílis pegou seu celular na ten-

tativa de falar com o marido da filha.Tentativas em vão.A ligação só caía na caixa postal.Procurou acalmar-se,precisava passar para sua neta adorada tranquilidade,e a certeza de que não estaria sozinha.

Assim passaram-se meses.Todos os dias ela ligava para o marido com aquele exame nas mãos.Todas as tentativas eram inúteis.Não querendo mais trabalhar abandonou sua profissão.Estudou muito para fazer sucesso na profissão que escolheu.Realizara o sonho de ser professora de música.Dona Amarílis não se conformava com aquela triste situação,mas apoiava a neta em todas suas decisões.

Carla teve uma gravidez tranquila.Sentia a barriga crescer cada cen

tímetro.Não desistira de procurar Eduardo.Mesmo tendo consultado alguns parentes não encontrou nenhum vestígio do marido.

Estava com oito meses e meio de gravidez.Estava esperando um menino, escolhera o nome do pai para seu filho. O neném estava bem.Chegaria cheio de saúde e era esperado por todos daquela pequena família.

Morando com a avó desde que o marido sumira,arrumou o quarto do

bebê ali mesmo na fazenda.Todos os dias ela arrumava e desarrumava o

quarto do bebê.Lavava e passava as roupinhas todos os dias.Dona Amarílis ,as raras vezes que ia a cidade, chegava sempre com uma novidade para o bisneto.Os dias estavam passando e o garoto estaria chegando.

Em uma manhã de domingo,Carla não acordara bem.Sentia algumas dores e enjoos.Não conseguiu comer nada.dona Amarílis sempre ao seu lado, procurava acalmá-la.

Ao final da tarde,vendo que Eduarduzinho estava chegando,chamou

o filho Jonas,ligou para o médico e lá se foram ambos para o hospital.

Alguns minutos depois,Carla entra em trabalho de parto.Dona Amarílis ,que até então se mantinha tranquila, ficou atônita,com o terço nas mãos,mal conseguia balbuciar algumas aves-marias,rogando a Nossa Senhora do Bom Parto proteção para a neta.Alguns minutos depois,lá no corredor onde se encontrava dona Amarílis aflita,ouve-se o choro de um bebê.Dona Amarílis sente um grande alívio.Cai de joelhos ali mesmo no corredor daquele hospital,com as mãos ao alto agradece a Nossa senhora.

De repente, sente quando alguém toca-lhe no ombro,ao virar-se uma grande surpresa.Eduardo que ao chegar ouve o choro do bebê, chora emocionado .Ambos se abraçam e choram felizes juntos.A enfermeira vindo da sala de parto,pergunta pelo pai da criança.Dona Amarílis aponta para Eduardo:_Seu filho senhor, é um garoto forte e saudável,diz a enfermeira_Venha conhecê-lo. Eduardo olha para dona Amarílis, ambos emocionados, seguem a enfermeira.Eduardo realizara o sonho de ser pai, agora, a felicidade estaria completa,e nunca mais, sairia de perto de sua amada.

Rogério Lima