A Pequena órfã
Como era de costume,todos os dias Carla pulava da cama cedo.Acordava com as galinhas como dizia sua vó.Órfã de pai e mãe,fora criada com sua vó paterna. Tinha cinco anos quando perdera seus pais num trágico acidente.Seus pais estavam voltando da cidade onde trabalhavam.Era noite.Chuvas torrenciais alagavam todo o povoado.O cla-
rão dos raios riscavam o céu a todo instante.O barulho forte dos trovões pareciam estourar os tímpanos.A voz forte e estridente do tio,tornou-se trêmula e gaguejante.Mesmo diante do desespero,nota que o tio mantém a calma ao dar a triste notícia:_Mãe,falou-O carro do Jorge sumiu na correnteza.A enxurrada foi tão forte que levou a ponte quando ele estava atravessando.Por um instante parece que tudo ficou paralisado.Carla agarra-se a sua vó.As duas entram e desespero.Dona Amarílis procura manter o controle, toma a neta no colo :_Vai ficar tudo bem minha pequena.Nós cuidaremos de você.- falou olhando para o filho
Anos se passaram.A pequena cresceu cercada de mimos e cuidados.Já está com quinze anos.
Carla passava o dia todo solitária.Não tinha amizades,o que é comum aos jovens de sua idade,nem mesmo na escola.A saudade que sentia dos pais era tão forte que chegava a sufocá-la.Nada falava.Sofria em silêncio.Sua avó ,como sempre, tentava de tudo para agradá-la.Esforço
inútil,mesmo assim, ela nunca desistia,sempre estava presente.
E assim Carla passava os dias,cada vez mais solitária, só saía de casa para ir a escola e a igreja com sua vó.Seu mundo resumira-se dentro daquela casa grande e vazia e com suas tristes lembranças.
Era a melhor aluna da sala.Quiçá de toda a escola.sempre tirara as melhores notas ,para orgulho da avó e do tio coruja.Era sempre elogiada pelos professores,o que causava inveja de seus colegas de turma.
Eduardo era um jovem alegre e galanteador.No auge de seus quinze anos,era paquerado por todas as meninas da escola.Ele, por sua vez, nada levava a sério "só quero curtir", dizia.
Em uma segunda-feira, Carla e Eduardo chegam à aula atrasados.
Como chovera muito na noite anterior,o ônibus escolar teve problemas na estrada de barro.A professora de Português já tinha iniciado os tra
balhos do dia.Pediu para seus alunos desenvolvessem um texto em duplas,
dissertando sobre o seguinte tema"Aborto".os dois jovens que chegaram
atrasados na escola, ouviram atentamente as instruções da professora
Raimunda.Ela juntou os dois para que fizessem juntos a redação.Como Carla nada falava, Eduardo tentou quebrar o silêncio"quer iniciar o texto?"Ela o olhou meio de soslaio por um instante.De repente, sai em disparada para fora da sala.Ninguém ali presente saberia dizer o que aconteceu.A professora ainda a chamou em vão e olhou para Eduardo que se defendeu"eu não fiz nada professora".A turma zoou geral. A professora acalmou seus alunos e atendeu o pedido de Eduardo que saíra para conversar com a jovem.
Foi encontrá-la no pátio chorando.Ele aproximou-se de mansinho.
Não sabia o quê dizer.Querendo entender o que se passava arriscou"
"Que houve? Posso ajudá-la?".Ela o olhou. Um olhar triste, melancólico.nada
falou.Com um gesto brusco ela o abraçou.Eduardo sentiu-se perdido.Não saberia se podia retribuir o abraço e balbuciou" Queria muito poder ajudá-la,se ao menos soubesse o que estaria acontecendo"...
Eduardo decidiu levá-la para o povoado.A professora deu permissão.
No caminho até a fazenda ela permaneceu calada .Ele a observava disfarçadamente e se perguntava"Como uma garota tão bonita poderia ser tão triste?Ambos permaneciam em silêncio.Ao chegar perto da casa de Carla,ele sentindo-se mais confiante arriscou"Você...não gostaria de me
contar o que te deixa assim tão triste?Ela desviou-se de seu olhar, bai-
xando a cabeça diz"Eu lembrei de meus pais.Eduardo se surpreende,pela
primeira vez naquele dia ouvira a voz de Carla.Sentiu que ganhara sua confiança.Ela cabisbaixa continuou"Eu tinha cinco anos,quando perdi meus pais.Era uma noite escura e fria.Chovia bastante.Ainda ouço a voz
de meu tio dando a notícia a minha vó.Foi horrível.Ele aproximou-se, sentiu pena daquela garota triste e solitária.
Como combinara com dona Amarílis,todos os dias Eduardo pegava carla de carro e a levava para a escola.Os dias passavam rápidos.A ami
zade entre eles crescia cada vez mais.Dona amarílis foi a primeira a perceber a mudança.Carla era outra garota.Sorridente, olhos brilhantes
mudara o visual, "minha neta está gostando daquele rapaz,"dizia "Espero que ele também goste dela".Há de dar certo.
Num domingo de verão quente e abafado, durante o almoço de fami
lia ,Eduardo como convidado de dona amarílis,fica sem jeito quando dona Amarílis diz"Sua presença faz muito bem a minha neta. Desde que ela te conheceu que acabou-se aquela tristeza- continuou-você é o namorado que pedi a Deus para ela. - virando-se para Carla-Não é minha pequena interrompida pela voz grossa do tio Jonas"Cuida bem de nossa pequena, rapaz,ela é como uma filha para mim.Os dois se olham.Carla não sabia o
que dizer.Pensou em sair correndo da mesa.Queria dizer mais uma vez que o rapaz não era seu namorado,o olhou e não teve coragem de falar
Eduardo que se mantinha calado durante o almoço nada falou.
Ao término do almoço os dois ficaram a sós vendo TV .A avó estava cochilando na cadeira de balanço. O tio fora tirar uma soneca na rede da varanda.
"Desculpa minha avó e meu tio," ela falou.
"Desculpar porque?
´"É que eles pensam que você é meu...
"Namorado" ele a interrompe-"Carla você quer ser...quer ser minha..."
"Sua namorada?"Indaga.
Na cadeira de balanço dona Amarílis cochilava.A saga crepúsculo passava na televisão.Lá fora, de repente,cai um temporal.O vento forte
bateu com força a porta da sala.Dona Amarílis que cochilava na cadeira
levanta-se assustada e corre até a varanda para ver o que estava acontecendo.O barulho de um trovão ecoa no horizonte.Ela com medo
abraça forte Eduardo que a corresponde.Sozinhos naquela imensa sala e abraçados ele lhe faz uma promessa-Quero cuidar de você pra sempre.
Por um instantes os dois se olham sem falar nada.Um beijo apaixona-
do selou aquele momento onde iniciava-se uma nova história de amor.