O cristal cor de rosa
Mariana era entusiasta das ciências esotéricas. Na verdade nunca teve dinheiro suficiente para bancvar "hobby" tão caro. Desde as roupas, os inúmeros incensos, acessórios da moda, consulta com clarividentes, aquisição de vasta literatura, tudo o que possuia sobre este tema, estava determinado que sairia de sua renda extra que conseguia bordando camisetas e fazendo bijuterias até altas horas da noite. Desde a adolescência sonhava em viajar para a India, a China, ver o Himalaia, enfim poder colocar os pés no verdadeiro mundo oriental. Se lhe faltava dinheiroo, sobrava em animação, disposição e coragem para encarar cada obstáculo em seu caminho, como se fosse apenas divertimento. De personalidade extrovertida, e muito sorridente, conquistava facilmente a amizade das pessoas, e as mantinha por sua imensa generosidade e bondade. Era um encanto, um amor de pessoa, como diziam suas amigas.
Há alguns anos conservava seu ponto em uma feirinha, lá todas as sextas feiras montava sua barraca e co,eçava a fazer seus jogos de tarô adivinhatório. Por sua mesinha, e a sua frente sentavam-se as mais diversas personalidades, todas querendo saber o futuro, compreender o porque de tantas coisas que lhe aconteciam, etc, etc.
A maior parte das consultas era para mulheres apaixonadas (ou que julgavam estar apaixonadas). Uma delas atraiu-lhe a curiosidade em particular, e a fez meditar sobre o caso.
Certa sexta-feira chuvosa, quase dez da noite, ela apareceu não sei de onde. Sentou-se, perguntou, se Mariana tinha cigarro, com a resposta negativa, ela ficou meio surpresa, mas não se incomodou,
e começou a embaralhar as cartas que Mariana lhe passava. Cortou e Mariana logo começou a leitura.
Um homem muito jovem, muito jovem está muito próximo da senhora, ele em breve irá revelar-lhe todo o seu amor. É um sentimento muito profundo, muito forte, uma ligação, eterna, estou lendo nas cartas, que é uma ligação além deste tempo.
A senhora nada respondeu e apenas sorriu enigmaticamente. Passando a mão direita sobre o cristal rosa que trazia pendurado no peito, preso em uma corrente dourada.
Mariana continuou com suas profecias, até que a senhora satisfeita, despediu-se. Mariana, ficou extasiada, nunca tinha feito uma leitura tão rápida, simples, transparente. Que energia maravilhosa tinha emanado daquele encontro.
Muito tempo se passou, talvez alguns anos. Uma tarde Mariana passeava em um shopping com sua filhinha Carla, quando um casal que ia a sua frente de mãos dadas, lhe chamou a atenção pela energia que conseguia visualizar de suas auras.
Acompanhou-os com a vista, até perdê-los no elevador. Sorriu interiormente, ela conseguiu ver o rosto da mulher que estava de mãos dadas com o rapaz bem jovem, por sinal. Era a mesma daquela sexta-feira chuvosa. Aquele andar, aquele sorriso.
Imaginou que a senhora estava muito feliz, pois tinha encontrado seu amor de outros tempos...
Para sua surpresa na semana seguinte, o casal voltou. A senhora só queria agradecer-lhe a leitura de anos atrás. Lhe apresentou o jovem rapaz. João Paulo, era seu filho, que tinha sido adotado há vinte e tantos anos, por uma família conhecida. Em sua juventude a senhora, tinha dado seu filho em adoção. Depois de algum tempo, casou-se com pessoa de posses, e na impossibilidade de ter outros filhos, começou a percorrer a "via crucis" de procurar o destino de seu filho que julgava perdido. Até que a leitura de Mariana a encheu de esperança e uma nova energia, renovou-lhe os ânimos. A senhora encorajada por seu espôso prestou exame vestibular para Direito, e na faculdade conheceu João Paulo, logo no primeiro semestre, tornaram-se bons camaradas. Todos que os olhavam notavam que tinha uma grande amizade, entre eles, e um sentimento sublime. O marido da senhora adoeceu e morreu pouco tempo depois. João Paulo, foi seu companheiro, emprestando-lhe o ombro amigo, apesar das maldades ditas em sussurros por alguns colegas, a senhora, jamais imaginou que o amor que sentiar por João Paulo, passasse da amizade. Continuaram bons amigos, e reforçaram a amizade quando a senhora veio a conhecer os pais do rapaz. Eram os mesmos de tempos atrás. As recordações fortes voltaram em apenas um instante. Não sabia como abordar o tema com os pais. Mas nem foi preciso, a própria mãe a reconheceu, e chamou-lhe para uma conversa. Pois tinha muito medo da afeição do filho. Resolveram contar tudo para João Paulo. Ele parece não ter ficado surpreso, pois revelou a todos, o amor que sinto por ela, é como o brilho de um cristal rosa. Amor espiritual, quase angelical.