A GATA E A VELA
Da certa frequência que a energia caia por aquelas bandas, necessário foi comprar algumas velas.
E naquela noite de segunda feira, a energia caiu novamente.
Ligaram-se as velas e entre as ocasionais conversas que quebravam o silêncio, inquirindo sobre quando a luz voltaria, um fato curioso foi percebido.
A gatinha da casa, parada em frente a uma das velas. Totalmente compenetrada em observar aquela estranha lâmina de fogo, que desafiava o escuro que recaia sobre a casa. Imóvel, a menos que fosse tocada pelo vento, aquela chama persistia.
O animal se aproximava. Parava. Observava compenetrado, sem nem perceber que agora ela, a gata, era o centro das atenções ali.
Curiosa, de fato, é essa nossa mania humana de observar os animais, mesmo os domésticos, que constantemente tem que interagir com o nosso mundo. Nossa vida nesse mundo sempre foi uma vida dedicada a modificar e inventar o que nos cerca, de forma a tornar tudo mais simples (ou não) e agradável (ou não).
Então os vemos, os animais, lidando com coisas bobas como velas, que existem há tanto tempo no nosso cotidiano, com surpresa e estranheza.
Por fim, a gata cedeu ao seus institutos de exploradora curiosa. Instintos que garantiram a sobrevivência dos seus ancestrais por milhares de anos.
Estendeu uma de suas patas para acariciar a chama. Não chegou a tocá-la, bastou se aproximar para perceber que aquilo era muito quente para sua fofa almofada coberta de pelos e então recuou.
Para a tristeza dos humanos não houve estardalhaço, tampouco queimou-se a gata com aquela chama. Ela apenas seguiu em frente, ignorando aquela bela luz que nunca poderia entender ou tocar.
Era apenas mais uma coisa humana, e coisas humanas não fazem muito sentido.