Um dia inesquecível - O outro lado da história
Este conto é um exercício literário - O outro lado da história - que escrevi inspirada no conto Um dia inesquecível de Mauro Alves:
http://www.recantodasletras.com.br/contoscotidianos/4328270
Estava atrasada para a abertura da Bienal Internacional do Livro, o que não era um bom sinal, pois seria a minha estreia como escritora, melhor dizendo: poetisa. Gostava do som dessa palavra - poetisa - o feminino de poeta, uma palavra que para mim já soava no feminino, aliás, poesia, para mim, é claramente uma mulher, uma deusa, cheia de sentimento, sofrimento, paixão, coragem, paradigmas e comparações. Não entendo porque a maioria dos poetas são homens, realmente incompreensível.
Volto do meu devaneio assustada e continuo a me arrumar apressadamente, depois de experimentar vários vestidos, pois queria parecer extremamente feminina nesse glorioso dia, escolhi um estampado, cheio de flores pequenas e charmosas, e para completar a imagem de poetisa que queria criar, coloquei uma echarpe em tons outonais. Dou uma boa olhada no espelho e acho que o resultado ficou perfeito. Faço uma maquiagem simples, mas elegante, escovo meu longo cabelo castanho claro e deixo-o solto. Enfim estou pronta.
Enquanto dirijo até o local onde será a Bienal, minha mente voa em disparada, penso em como foi difícil publicar um livro de poesias, lembro-me das infindáveis horas postando meus poemas em qualquer site de pretendentes a escritor que encontrava na internet. Bons e sofridos tempos. Nesse período de minha vida fiz vários amigos, pessoas que apreciaram meu trabalho e me encorajaram a continuar mesmo quando já pensava em desistir. Um desses amigos havia sido e continuava sendo muito especial, ainda nos falamos, por e-mail e telefone, não sei muitos detalhes sobre a sua vida, mas penso conhece-lo bem, em nossa ultima conversa prometeu que estaria lá hoje, confesso que estou um pouco nervosa, se ele realmente aparecer, será nosso primeiro encontro.
Entrando na Bienal sinto um misto de orgulho, curiosidade e medo, será que alguém vai querer meu autógrafo? E se ninguém se interessar pelo meu livro? Respiro profundamente tentando me acalmar e procuro o lugar onde ficarei com meus livros, acho rapidamente e vejo que está tudo em ordem, uma cadeira, uma mesa, vários exemplares de Ilusão Poética de Denise Santos, algumas garrafas de água mineral. Ótimo.
Aos poucos as pessoas começam a entrar e procurar seus autores favoritos. Espero timidamente sentada em minha cadeira, e observo que logo uma fila se forma para conhecer o escritor americano Dan Brown. Afugento um pequeno sentimento de ciúme de seu sucesso enquanto vejo a primeira pessoa que aparece interessada em meu livro, uma senhora, muito bem vestida e elegante, ela sorri, me parabeniza por meu trabalho e pede um autógrafo. Extasiada, quase fico sem ação, mas logo consigo pegar um livro, abri-lo e escrever: Para Ana Maria com todo carinho, Denise Santos. Pronto, meu primeiro autógrafo fora dado. Mais calma vou conversando animadamente com todos que vão chegando até minha mesa, logo já me sinto confortável com a situação e o tempo passa sem que eu note.
Um pouco antes do fim do primeiro dia da Bienal vejo um homem vindo sorridente em minha direção, ele para e espera que me despeça de meus últimos visitantes. Parece conhecido, estatura mediana, magro, pouco cabelo, olhos escuros e profundos.
- Mauro, você veio. –Disse olhando para ele sem acreditar. - Quer dizer, você disse que viria, mas eu realmente não estava levando muita fé.
- Eu não perderia esse momento por nada nesse mundo. – Disse ele me entregando um buquê de rosas valentine e me abraçando longamente.
Nosso abraço durou um longo tempo e meu coração batia descompassado, um misto de sentimentos me inundava, meu perfume delicado se misturava com sua fragrância almiscarada. Não pensei que me sentiria assim quando enfim conhecesse esse amigo de longa data, sua presença era marcante e estava mexendo com meus sentimentos. Conversamos sobre muitas coisas, ele se mostrou muito bem humorado e um perfeito cavalheiro. Convidou-me para um lanche, lembrando-se de minha antipatia por jantares, o que aceitei prontamente, e ainda convidei-o para um cinema, para assistir um filme que queria ver fazia algum tempo. Saímos de mãos dadas, andando como quem anda sobre as nuvens. Não sei no que essa amizade vai dar, mas uma coisa eu sei, com certeza vou pagar para ver.