Um dia a mais

Ruth acordou mais cedo, era cinco da manha e tudo parecia normal. A família se reunira por longas datas na véspera de Natal e esta era mais uma data que todos estavam juntos, contudo levantou-se conturbada e intrigada. Sentava, punha-se de pé, ia para a cozinha, tentava beber algo, olhava para a árvore de Natal na sala, observava os filhos com os primos no quarto dormindo, ouvia os roncos e via a inquietação do marido na cama. O sono havia ido embora, seus familiares deixaram sua casa por volta das duas da manha e logo que saíram, colocou os filhos e sobrinhos para dormir, logo deitou com o marido e rapidamente adormeceram.

Não saia da cabeça de Ruth o que tinha feito durante a madrugada. O sentimento que jamais experimentara, era diferente e estranho não a abandonava naquele instante. Começou refletir sobre sua vida, sua família e a vida que estava levando. Ela ganhou um livro de sua irmã, começou a folheá-lo, ler algumas frases, mas sabia que não podia continuar a mesma, precisava de algo diferente, mudanças e novas expectativas.

À noite foi agradável, os familiares de Ruth chegaram por volta das vinte horas, as mulheres reuniram na cozinha preparando o jantar, cada uma falava mais que a outra, contavam suas historias, seus desprazeres, seus momentos alegres e como de costume as fofoquinhas de sempre.

Os homens ficaram na grande área que havia na casa da Ruth, ali bebiam, conversavam, começaram a jogar, petiscavam, davam risadas. Era um clima bem descontraído, as crianças gritavam, corriam de um lado para o outro. Logo a casa se encheu de pessoas conhecidas e desconhecidas. A árvore de Natal brilhava, estava cheia de presentes com vários embrulhos, variados laços, sacolas artesanais grandes e pequenas.

Ruth havia preparado vários ambientes dentro da casa e todos os cômodos tinham pessoas. A mãe de Ruth, Dona Vera Cruz, era a especialista na arte de cozinhar em abundancia, pratos diferenciados e deliciosos. Todos esperavam ansiosamente o jantar da matriarca, as filhas, noras ajudavam e seguiam as ordens da chefa. Tudo havia sido preparado da melhor forma com excelência e amor. A irmã mais nova de Ruth, Lucy, preparou todos os doces e montou a mesa, mas sempre gritando para que as crianças não colocassem as mãos, só que era impossível vencê-las.

A cozinheira Chefa anunciou à hora do jantar e todos começaram a se reunir diante da grande mesa posta pelo marido de Ruth, Oscar, único genro que dava bem com a sogra na cozinha. Oscar e Ruth deram as boas vindas a todos, falaram da importância do Natal, da amizade e do próximo nesta época. Logo, o casal passou a palavra ao Senhor Julio Cruz, pai de Ruth, que falou rapidamente e fez uma oração de agradecimento. Todos comeram, beberam, deliciaram dos finos doces, fizeram as trocas de presentes como todos os anos, porém, o senhor e a senhora Cruz distribuíram presentes para todos da família e aos convidados, era a marca do casal.

Ruth, cansada do tumulto e agito, subiu até seu quarto, direcionou-se a sacada, começou a olhar para a cidade, ver as luzes, escutava os fogos e contemplava o grande movimento de carros e pessoas. De repente seus olhos fixaram em duas crianças sentadas na sarjeta próximo da casa dela, um menino e uma menina de aproximadamente de oito e nove anos de idade. Os pais das crianças estavam com elas, o pai sentado no banco de madeira, e a mãe olhava incessante para a rua da janela da casa. Eram os vizinhos de Ruth, pois a família de Ruth não parava em casa, ela e o marido trabalhavam em uma grande empresa da cidade, os três filhos estudavam na parte da manha, e a tarde os garotos faziam atividades extracurriculares, ambos se encontravam no almoço ao meio dia em ponto e às dezoito horas, com isso Ruth e a família não tinham tempo para conversar com os vizinhos.

Desceu rapidamente, pegou uma enorme bandeja de doces, alguns brinquedos que estavam em cima da mesma. Atravessou a rua e foi até seus vizinhos, deu boa noite aos senhores e desejou-lhes um feliz natal. Entregou os presentes para as duas crianças e os finos doces para os pais, a família não se contentava de alegria, era tudo que eles precisavam naquela noite de natal. Ela despediu deles e voltou para sua casa junto de sua família. Os familiares e amigos não comentaram nada sobre o ocorrido, mas viram que Ruth voltara feliz e realizada. Logo saíram para suas casas deixando a casa vazia.

Valmir Silva
Enviado por Valmir Silva em 25/01/2014
Código do texto: T4664182
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