A nobre arte de fazer dinheiro

Para Mariana sair do trabalho era como fugir de uma senzala ou escapar de uma prisão. Mais do que quebrar as correntes, era o mais perto da liberdade que alguém podia chegar. Esta sensação não durava muito tempo, porque em alguns minutos ela estava chegando na faculdade. E de novo aquela dívida com o mundo, que ela não lembrava de ter feito e nem queria pagar. No começo da madrugada, no metrô, o alívio do dever cumprido só era quebrado pelo peso de chegar em casa. Ela sentia como se alguma coisa estivesse a sufocando. Como se as paredes do quarto estivessem se fechando em cima dela, esmagando qualquer sinal de esperança. Quando a paz do sono parecia ser eterna, o despertador jogava aquele fardo de mais um dia nas costas dela. Aquela agonia incessante batia no fundo do estômago e acoava em sua alma. A vida não estava funcionando. Tudo não fazia sentido a muito tempo. Os trinta estavam batendo a porta. Não dava mais para esperar a sorte.

Trilhando um caminho sem volta aquele dia ela não foi para o trabalho, e nem iria para a faculdade. Usando um vestido longo, salto alto, blush, cílios postiços e tudo mais, Mariana entrou pela primeira vez no Casarão. Driblava as cadeiras empilhadas e cintilava pelo salão. Parecendo saber exatamente o que queria ela perguntou para um garoto que estava limpando o bar: “Quero falar com a Madame Valéria.” Ele apontou uma porta atrás do palco. O escritório era exuberante, brilhava veludo em rosa e azul. “Você não tem mais vinte e poucos mas ainda tem lenha para queimar”, disse a senhora com um blazer sentada atrás da mesa. Mariana parecia estar encolhendo. A confiança de Madame Valéria a intimidava. “Funciona assim: mil fica para casa e não me interessa o quanto além disso você vai ganhar. Você cobra por hora. Você ou alguém paga o que você beber e o quarto. Três noites sem clientes e você esta fora.” Mariana só balançava a cabeça como quem dizia “entendi”.

Depois da entrevista ela voltou para casa. Focada. Só aquele dia fora da rotina louca da vida já era um indicativo de que tinha escolhido o caminho certo. A ansiedade e uma avalanche de perspectivas estavam estampados no sorriso em seu rosto. Mariana escolheu um vestido simples. Não foi difícil para ela parecer com vinte e poucos anos. Colares, pulseira, anéis, mais maquiagem, e vamos ao trabalho. Ela chegou no Casarão ainda um pouco tímida. Encostou em um canto, pensando que fosse apenas esperar. “Madame Valéria comentou de você. Parece que você tem potencial. Aqui me conhecem por Paula. Prazer.”, disse a mulher se aproximando. “Prazer, sou Mariana.”, ela respondeu. “Nunca use seu nome verdadeiro. Fica mais fácil para algum psicopata te encontrar, ou te reconhecer. Escolha um nome, tipo Melissa. Sexy.” “Pode ser. Faz tempo que você trabalha aqui?” “Tempo o suficiente para saber que você só precisa fazer eles gozarem no menor tempo possível e receber o dinheiro.”

Adentrou o recinto um daqueles tipos porcos. Carregando uns 150kg em banha, parecendo estar desidratando, rindo feito uma hiena. Mariana estava sentada no balcão ouvindo as histórias da nova amiga fingindo não ver Madame Valéria apontando para ela com o grandão do lado. E tudo foi ficando subentendido. Os dois foram se aproximando e Mariana usou de todo seu charme para seduzir o velho babão. Ele pagou uma bebida e depois os dois subiram para o quarto. Sabendo exatamente o que queria e como chegar ela beijou aquele rosto suado, com um gosto amargo e cheirando a traça. Mariana só pensava no conselho de acabar com tudo antes de poder pensar no que estava acontecendo. Primeiro ela desceu e depois subiu em cima dele. Quando sentiu um leve espirro na perna fez cara de que estava gostando. Ela rolou para o lado. Deu um longo beijo nele e foi tomar banho. Tirou dele três mil e voltou para o salão com a pose de uma dama.