Ele (a) Incrível

Eu sou um chato (a)! Percebi isso nos últimos dias, meus amigos não me ouvem. Então, vou escrever:

Ele (a) é incrível! É incrível de verdade, não o (a) conheço pessoalmente, mas o (a) conheço o suficiente para lhe conceder esse adjetivo. Estou apaixonado (a) por seu jeito de andar, por suas roupas e por seu (a) modo simpático (a) de ser. Eu nunca falei com ele (a), mas o (a) acho incrível. Tomamos o mesmo trem algumas vezes, por volta de umas três vezes. Não estou carente ao ponto de me apaixonar assim, mas ele (a) com certeza é a regra das exceções, pelo menos para mim.

O modo como coçou a cabeça, aparentemente preocupado (a) por seu atraso para o trabalho, de como se posicionou em meio a multidão esperando o trem estacionar na plataforma, o movimento de sua mão a encostar na lateral do trem, o sorriso que deu a uma senhora que o (a) chamou de educado (a) ao ver que a esperou sair para poder entrar, o ângulo de onde eu o (a) via, esperando um colega, sentado (a) em um banco da plataforma, ouvindo Say Yes do Elliott Smith, o (a) tornou incrível.

Eu o (a) imagino, em sua rotina diária enquanto observo seu olhar acelerado, sem foco e preocupado, por de trás ao vidro da janela do vagão. Com certeza, deve ser inteligente, mas o tipo de inteligente carismático (a). A empatia em seu rosto denuncia isso. Ele (a) deve gostar de Two Doors Cinema Club, amante de cinema francês e deve se manifestar artisticamente de algum modo, talvez, seja até poeta (poetisa).

Eu tenho certeza absoluta de que nos daríamos muito bem, nossos gostos são parecidíssimos pelo que posso perceber enquanto o trem começa a andar. Ele (a) olha para o relógio, e coça novamente a cabeça, e agora tenho certeza de que está atrasado (a) para algum compromisso, o que pelo horário e pelas vezes que o (a) vi, seja seu trabalho. Ele (a) se mostra preocupado (a), deve ser uma pessoa de planos traçados, metódica.

Eu me lembro da primeira vez que o (a) vi: Eu desceria na próxima estação, e ele (a) estava encostado (a) na porta, no momento em que resolvi atravessar a porta, ele (a) se virou para eu pudesse passar, eu o agradeci, porém, não deve ter ouvido por estar usando fones de ouvido. Ao sinal do fechamento das portas, eu me virei e o (a) vi de lado ainda encostado enquanto falava algo para alguém sentado em sua frente. E assim, o (a) vi sorrir.

Hoje, eu o (a) vi preocupado (a), enquanto o trem partia, sem fones de ouvido e coçando a cabeça, e o (a) achei incrível. Não sei o que faz, do que gosta, muito menos seu nome, mas, ainda sim, o (a) acho incrível.

O trem se foi, e assim ele (a) também, espero que amanhã eu o (a) possa ver novamente, talvez possamos nos esbarrar e ter uma conversa corriqueira sobre como a cada dia o serviço de trens está precário e ironizar toda essa situação.

Podemos também, talvez, conversar sobre como as estações de trem estão cada vez mais lotadas de pessoas, e as vezes, por pessoas incríveis.