Trajeto
Na maior parte do tempo sentia-se atada. Sentada naquele banco, pensava no que estava por vir. Odiava essa rotineira. Tentava concentrar-se, mas incomodava-lhe aquele homem ao seu lado, que a olhava insistentemente. Tinha vontade de gritar-lhe. Por fim, acostumou-se e voou para um canto qualquer de si.
O vento entrava em fortes rajadas pela janela. Gostava disso.... Pensava nesses minutos, em que sua alma repousava na tranqüilidade de falsas verdades. Às vezes imaginava que podia seguir o resto de sua vida assim...sentada ali a pensar, sem nunca chegar a um destino. Suspensa num tempo incerto, onde nada existia.
Evitava decisões. Queria voltar no tempo e mudar aquele dia. Talvez, mudar toda a história de sua vida, que a levou àquele instante em que seu coração se perdeu e assumiu outra forma.
Sabia a força do que carregava. Era o que a fazia sentir-se viva e sabia, que já não poderia mais abrir mão.
Imaginava palavras que pudessem aliviar seus sentimentos. Sentia-se patética. Era personagem de suas próprias linhas... Finalmente conseguira o que tanto almejava. Mas, surpreendentemente sentia-se, de fato, longe daquilo que havia conseguido. Seu coração pesava... Entendeu que ela carregava o próprio abismo. Não importava quantos passos desse... quantos quilômetros andasse.... carregaria-o sempre consigo. Sentiu vergonha de si. Às vezes não se reconhecia... na maior parte das vezes...
O relógio marcava a hora certeira. Enfim chegara. Não sabia onde... mas chegara.