A Fiha da Velha Ranzinza - Continuação
Minha mãe saiu novamente com a vizinha. Parece que ela tem a paciência que eu não tenho com minha mãe idosa e seus passos tão lentos. O engraçado, é que em vez de ficar só agradecida - pois sei que gosta dela -, assim que chega, começa a falar da simpatia da moça para com todos. Diz ter pena do marido dela. Pena eu acho que ela não tem, pois o chama de bobo... Ando pensando nisso.
Eu nunca tive sorte com homens. Um, era um babaca traidor, o outro um beberrão a quem eu estava sustentando. Essa vizinha deu sorte, muita sorte. Tenho visto de perto, desde que ela e minha mãe se tornaram amigas, pois ele vem procurar a esposa aqui em casa e costuma tomar um cafezinho. Seus olhos e suas mãos não conseguem ficar longe dela. Hummm... Era um homem assim, exatamente assim que eu queria.
Sábado passado, durante um jantar que ela preparou especialmente para minha mãe e eu, ficou mais evidente ainda para mim, como é ter um homem como ele: gentil, atencioso, cavalheiro, bem humorado e, apaixonado. Eu queria estar no lugar dela. Tentei algumas aproximações com ele. Sou mais velha que a vizinha, mas ainda estou na casa dos cinquenta, enquanto ele está na dos sessenta. Eu, com certeza, não seria tão coquete quanto ela, não cultuaria o corpo, vivendo em academias, não faria faculdade, pois já sou graduada. Eu, com certeza, seria muito melhor para um homem assim. Viveria para cuidar dele.
O que vou fazer hoje, já planejei faz um tempo. Minha mãe e ela saíram e ele está preparando um almoço rápido de sábado para eles. Essa moça disse para minha mãe que não se preocupasse, pois seu marido adora cozinhar. Arg! Com uma naturalidade que me deu nos nervos. Ela por acaso pensa que isso é tão comum assim? Definitivamente, minha mãe, essa velha ranzinza que até eu mesma quase não aguento, está certa. Ele é um bobão por mimá-la tanto. E, já que ela alivia minha sina de cuidar de uma velha que vive resmungando, eu vou é aproveitar!
Toco a campainha do apartamento em frente. Ele atende, me olha surpreso, mas me pede para entrar, pois está ocupado na cozinha. Ótimo. Vou atrás e olho o molho à bolonhesa que está fazendo. Aproveito e solto: "Você devia estar descansando e sua mulher cozinhando para você". Ele sorri e responde: "Adoro cozinhar para ela e ela adora minha comida. Você precisa de alguma coisa?" Não hesito, pois somos duas pessoas maduras: "Eu queria te dizer que não consigo parar de pensar em você". Ele me olha pasmo e parece não saber o que dizer, por um momento, mas depois encontra a voz e ouço o que tanto desejo ouvir dele: "E eu em você".
Atiro os braços ao redor de seu pescoço e me encosto bem nele. Sou empurrada de forma firme. "Você não me ouviu?" Então percebo que há algo errado. Ele não disse aquelas palavras. Eu é que tinha certeza de que seria o que ele diria, pois sempre me trata com tanta atenção... E, me mantendo a distância, quase grita: "Vou repetir: Eu. Amo. Minha. Mulher". É agora ou nunca, penso, enquanto me recuso a aceitar isso. "Você é um tolo... Ela não é mulher para um homem como você. Eu poderia te mostrar como é que se valoriza um homem tão maravilhoso".
Dá para sentir sua raiva, mas ele se acalma e me pede para sentar. Até que não foi difícil... Ele vai desabafar comigo e vou confortá-lo, começando a lhe mostrar como é ter uma mulher madura pronta para ouvi-lo em todos os momentos, como ele pode encontrar segurança nos meus braços, como sou mais experiente na arte de amar. Mas, me encolho rapidamente quando ele recomeça a falar de forma calma e segura:
"Olha, eu não sei o que você pensa sobre minha mulher, para me dizer uma coisa dessas, mas eu vou te dizer quem ela é: ela, simplesmente, é o ar que eu respiro. É amorosa, divertida, sempre procura o melhor nas pessoas, é altruísta ao extremo, até; batalhadora, dá conta da casa, cuida de mim e ainda faz uma faculdade, mesmo eu dizendo que ela não precisa trabalhar, mas ela se sente constrangida de ficar em casa 'sem contribuir', como costuma dizer. A única coisa que faz unicamente por si mesma, é exercícios na academia, porque eu a incentivo a ir. Ela tem histórico familiar de doenças cardíacas e precisa se cuidar. E, se você não percebeu ainda, amizade para ela é coisa séria. Adora você e sua mãe e a felicidade de vocês conta muito para ela".
Foi um tapa na cara sem que ele precisasse levantar a mão. A vergonha que senti é algo que não consigo descrever. Saí de lá há uma hora e meia, mais ou menos. Ouço um barulho na porta e é minha vizinha e minha mãe de volta. "Tudo bem?" Pergunta como sempre faz quando me vê e recusa o convite para entrar. "Não, obrigada. Vou ver meu maridão".
Minha mãe cai pesadamente no sofá e começa a descrever sua ida ao mercado minuciosamente, até que vem o comentário: "você precisava ver essa criatura conversando com o caixa. Pareciam velhos amigos".
Não me aguento. "Cala essa boca, mãe! A senhora é a velha mais ranzinza que eu conheço. Será que não pode ser grata a alguém que tanto faz pela senhora, sem ter sempre um comentário maldoso?" Minha mãe arregala os olhos e abre a boca, mas não ousa dizer nada quando vê minha expressão. "Mãe. Ela é um doce de pessoa. A senhora é que vê maldade em tudo. À partir de hoje, não quero mais uma palavra sequer sobre ela ser assanhada, fútil, ou coisa do tipo. Estamos entendidas? Ou a senhora a valoriza, ou vai acabar sozinha, porque eu estou indo morar com meu filho." E vou mesmo.
Tenho que ir, depois do que fiz. Enxerguei tudo o que não via. O que via, era por influência dessa velha ranzinza. Não vou ficar como ela. Vou vir visitá-la sempre, e vou ficar tranquila. Aquela vizinha maravilhosa estará por perto. Se bem que, depois que o marido lhe contar o que fiz, não sei o que vai acontecer.
Minha mãe saiu novamente com a vizinha. Parece que ela tem a paciência que eu não tenho com minha mãe idosa e seus passos tão lentos. O engraçado, é que em vez de ficar só agradecida - pois sei que gosta dela -, assim que chega, começa a falar da simpatia da moça para com todos. Diz ter pena do marido dela. Pena eu acho que ela não tem, pois o chama de bobo... Ando pensando nisso.
Eu nunca tive sorte com homens. Um, era um babaca traidor, o outro um beberrão a quem eu estava sustentando. Essa vizinha deu sorte, muita sorte. Tenho visto de perto, desde que ela e minha mãe se tornaram amigas, pois ele vem procurar a esposa aqui em casa e costuma tomar um cafezinho. Seus olhos e suas mãos não conseguem ficar longe dela. Hummm... Era um homem assim, exatamente assim que eu queria.
Sábado passado, durante um jantar que ela preparou especialmente para minha mãe e eu, ficou mais evidente ainda para mim, como é ter um homem como ele: gentil, atencioso, cavalheiro, bem humorado e, apaixonado. Eu queria estar no lugar dela. Tentei algumas aproximações com ele. Sou mais velha que a vizinha, mas ainda estou na casa dos cinquenta, enquanto ele está na dos sessenta. Eu, com certeza, não seria tão coquete quanto ela, não cultuaria o corpo, vivendo em academias, não faria faculdade, pois já sou graduada. Eu, com certeza, seria muito melhor para um homem assim. Viveria para cuidar dele.
O que vou fazer hoje, já planejei faz um tempo. Minha mãe e ela saíram e ele está preparando um almoço rápido de sábado para eles. Essa moça disse para minha mãe que não se preocupasse, pois seu marido adora cozinhar. Arg! Com uma naturalidade que me deu nos nervos. Ela por acaso pensa que isso é tão comum assim? Definitivamente, minha mãe, essa velha ranzinza que até eu mesma quase não aguento, está certa. Ele é um bobão por mimá-la tanto. E, já que ela alivia minha sina de cuidar de uma velha que vive resmungando, eu vou é aproveitar!
Toco a campainha do apartamento em frente. Ele atende, me olha surpreso, mas me pede para entrar, pois está ocupado na cozinha. Ótimo. Vou atrás e olho o molho à bolonhesa que está fazendo. Aproveito e solto: "Você devia estar descansando e sua mulher cozinhando para você". Ele sorri e responde: "Adoro cozinhar para ela e ela adora minha comida. Você precisa de alguma coisa?" Não hesito, pois somos duas pessoas maduras: "Eu queria te dizer que não consigo parar de pensar em você". Ele me olha pasmo e parece não saber o que dizer, por um momento, mas depois encontra a voz e ouço o que tanto desejo ouvir dele: "E eu em você".
Atiro os braços ao redor de seu pescoço e me encosto bem nele. Sou empurrada de forma firme. "Você não me ouviu?" Então percebo que há algo errado. Ele não disse aquelas palavras. Eu é que tinha certeza de que seria o que ele diria, pois sempre me trata com tanta atenção... E, me mantendo a distância, quase grita: "Vou repetir: Eu. Amo. Minha. Mulher". É agora ou nunca, penso, enquanto me recuso a aceitar isso. "Você é um tolo... Ela não é mulher para um homem como você. Eu poderia te mostrar como é que se valoriza um homem tão maravilhoso".
Dá para sentir sua raiva, mas ele se acalma e me pede para sentar. Até que não foi difícil... Ele vai desabafar comigo e vou confortá-lo, começando a lhe mostrar como é ter uma mulher madura pronta para ouvi-lo em todos os momentos, como ele pode encontrar segurança nos meus braços, como sou mais experiente na arte de amar. Mas, me encolho rapidamente quando ele recomeça a falar de forma calma e segura:
"Olha, eu não sei o que você pensa sobre minha mulher, para me dizer uma coisa dessas, mas eu vou te dizer quem ela é: ela, simplesmente, é o ar que eu respiro. É amorosa, divertida, sempre procura o melhor nas pessoas, é altruísta ao extremo, até; batalhadora, dá conta da casa, cuida de mim e ainda faz uma faculdade, mesmo eu dizendo que ela não precisa trabalhar, mas ela se sente constrangida de ficar em casa 'sem contribuir', como costuma dizer. A única coisa que faz unicamente por si mesma, é exercícios na academia, porque eu a incentivo a ir. Ela tem histórico familiar de doenças cardíacas e precisa se cuidar. E, se você não percebeu ainda, amizade para ela é coisa séria. Adora você e sua mãe e a felicidade de vocês conta muito para ela".
Foi um tapa na cara sem que ele precisasse levantar a mão. A vergonha que senti é algo que não consigo descrever. Saí de lá há uma hora e meia, mais ou menos. Ouço um barulho na porta e é minha vizinha e minha mãe de volta. "Tudo bem?" Pergunta como sempre faz quando me vê e recusa o convite para entrar. "Não, obrigada. Vou ver meu maridão".
Minha mãe cai pesadamente no sofá e começa a descrever sua ida ao mercado minuciosamente, até que vem o comentário: "você precisava ver essa criatura conversando com o caixa. Pareciam velhos amigos".
Não me aguento. "Cala essa boca, mãe! A senhora é a velha mais ranzinza que eu conheço. Será que não pode ser grata a alguém que tanto faz pela senhora, sem ter sempre um comentário maldoso?" Minha mãe arregala os olhos e abre a boca, mas não ousa dizer nada quando vê minha expressão. "Mãe. Ela é um doce de pessoa. A senhora é que vê maldade em tudo. À partir de hoje, não quero mais uma palavra sequer sobre ela ser assanhada, fútil, ou coisa do tipo. Estamos entendidas? Ou a senhora a valoriza, ou vai acabar sozinha, porque eu estou indo morar com meu filho." E vou mesmo.
Tenho que ir, depois do que fiz. Enxerguei tudo o que não via. O que via, era por influência dessa velha ranzinza. Não vou ficar como ela. Vou vir visitá-la sempre, e vou ficar tranquila. Aquela vizinha maravilhosa estará por perto. Se bem que, depois que o marido lhe contar o que fiz, não sei o que vai acontecer.