VICKI VIDA LOKA - Cap. 2
A escola não fica muito longe de casa, mas meu pai fez questão de me dar um apoio moral. Ganhei uma carona. Implorei que pelo amor de Deus ele me deixasse na esquina. Não queria passar a impressão que eu era uma patricinha feito a Gabi, minha irmã. Naquele dia eu tinha caprichado no estilo. Mechas laranja no cabelo, calça capri larga e camiseta de regata do Guns N’ Roses. Me sentia uma super star quando me aproximei da escola, enfrentando as dezenas de olhares dos meus futuros colegas.
Para disfarçar minha tensão e porque eu simplesmente não tinha onde me enfiar, peguei meu celular e resolvi fazer de conta que estava vendo alguma muito importante ali. Na verdade eu não enxergava coisa nenhuma no visor. Sentei no canto de um banco. Tentei passar uma imagem que estava cagando e andando para aquela situação, todo mundo com sua turminha e eu, a isolada. Se deu certo, não sei.
Quando a sineta tocou arrastei-me cheia de vontade para a minha sala de aula. Não era estratégia. Eu realmente não estava disposta a enfrentar aquilo tudo. Na minha outra escola eu tinha status. Status pop. Agora, graças a meus queridos pais, eu precisava começar do zero.
Parei na porta da sala 211. Todos meus colegas já estavam sentados. Altos papos, risadinhas, muita gente nojenta. #meunovomundo. E agora? Onde eu iria sentar?
Antes que eu me desesperasse reparei que sim, havia um lugar vago. Uma menina de óculos, sem gracinha, me encarava ansiosa. Parecia querer que eu sentasse ao lado dela. Ou não? De qualquer forma, era o que eu tinha para o momento. Me encaminhei para lá e me aboletei na terceira fileira de uma sala com cerca de 30 alunos. Olhei para a guria. Não sabia se pedia desculpas por ela ter que me aturar dali pra frente ou se deveria agradecer. Incrível, ela foi com a minha cara.
- Oi! Meu nome é Jessica!
Parecia animada. Pelo menos bem mais que eu.
- Ah… eu sou a Victória. Mas me chama de Vicki, ok? É assim que sou conhecida.
- Você está começando hoje, não é? Nunca vi você na área.
- Rodei de ano... E aí meus pais me trocaram de escola.
- Você vai gostar daqui.
Era nítido o esforço que a Jessica fazia para me animar. Minha cara de bunda provavelmente era de dar susto.
- O pessoal aqui é bem legal - ela emendou.
Gostei da Jessica. O fato de ela não ter se assustado com meu estilo e com meus cabelos laranja fez com que a simpatia fosse recíproca.
- Adorei a cor dos seus cabelos!
Pronto. Ficamos melhores amigas naquele momento. E eu me entusiasmei.
- Jura? Quer ficar igual?
- Quero!
- Então vou te ensinar e…
- BOM DIA, TURMA!
Jesus Maria José, o que era aquilo??? Uma maluca entrou super empolgada na sala de aula, perdendo pastas pelo caminho e tentando mostrar que era uma profi super amiga dos seus alunos. Todo mundo ficou parado, encarando a criatura. Era nítida a força que ela fazia para tentar mostrar seu (zero) carisma.
- Olá, pessoas! Sou a professora Ivonete e darei aulas para vocês de filosofia!
Odeio filosofia. E pelo visto odiaria a professora também. Bem ou mal, ela conseguiu prender a atenção de todo mundo.
- Humm... Estou vendo algumas carinhas novas aqui. Vamos nos apresentar, gente?
NÃO!
- Você - e eu vi um dedo comprido com uma unha estupidamente vermelha brilhante apontada diretamente para mim. - É aluna nova, não? Apresente-se para seus colegas!
Quase senti os tambores rufando. Novamente dezenas de olhos estavam grudados em mim, esperando alguma declaração bombástica. Escutei a Jessica falando entredentes:
- Diga alguma coisa.
Mas eu estava sob ligeiro choque. Não havia me preparado para aquilo. Não tinha ensaiado nenhuma gracinha. Respirei fundo e comecei, olhando fixo pro quadro negro.
- Bom, eu… Meu nome é…
- Venha aqui pra frente. Seus colegas querem lhe ver.
Não vou ficar vermelha, eu disse para mim mesma quando me levantei amaldiçoando aquela infeliz. Me parei ao lado dela e finalmente encarei a turma. Obviamente não enxerguei ninguém quando reiniciei minha fala:
- Meu nome é Victória e…
Ivonete me interrompeu sem nenhuma explicação:
- Por que você decidiu estudar aqui?
“Não te interessa.”
- Eu não decidi nada. Quem decidiu foram meus pais depois que eu rodei de ano.
Algumas risadinhas. Ponto para mim. Ivonete ficou meio sem graça.
- Espero que você tenha melhores resultados neste ano. O que acha do estudo da Filosofia?
Oi? Sinceridade?
-Inútil.
Desta vez todo mundo riu. Para disfarçar o mal estar, ela apontou para outro coitado que tomou o meu lugar lá na frente. Ganhei a implicância da professora e a simpatia da (maioria) dos meus colegas novos. Um bom começo.
#mesentipoderosa
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