Sociologia moderna
_ Acorda, Cláudia!! é hora de levantar!_ falava essa ladainha todo dia para sua única filha, de 20 anos. A garota cursava o terceiro ano de sociologia, o pai era mestre-de-obras, a mãe terminou pedagogia e trabalhava no período da tarde em uma escola pública.
_ Ah, mãe, só vou à noite para a faculdade.
_ E por isso não ajuda em casa?
_ Eu detesto serviço doméstico!
_ E por acaso eu adoro?
_ Papai deveria contratar alguém para trabalhar aqui em casa!
_ Ele já ajuda bastante e me ajuda com as tarefas domésticas. Você é quem complica e enrola para fazer alguma coisa.
_ Eu sou estudante!!
_ Eu também já fui, trabalho e faço minhas tarefas, tudo bem? - explica a mãe.
_ Mãe, eu tenho que ler Milton Friedman, Henry Kyssinger, Ronald Reagan, Margareth Thatcher, Francis Fukuyama e, claro, Fernando Henrique, que não podia faltar!
_ Filha, eu sei que sua faculdade é particular, mas vocês não leem Marx, Celso Furtado, Florestan Fernandes, Caio Prado, Milton Santos, Darci Ribeiro e até mesmo Paulo Freire!
_ Ah, mãe, esses homens aí são da época das cavernas, temos que ler coisas modernas e atualizadas.
_ Modernos?? Um desses aí chamou os aposentados de vagabundos, mesmo ele se aposentando aos trinta e sete anos, entregou muitas empresas estatais lucrativas de bandeja aos seus amigos. Os outros desestruturaram outros países e seus próprios países. E você chama de modernidade?
_ Mãe, a senhora não compreende a dinâmica do empreendimento moderno.
_ Mesmo? Então prefiro ficar com as cavernas!
_ Mãe, amanhã começo a trabalhar!
_ Verdade? que coisa boa! talvez aprenda a ver as coisas de modo diferente.
_ Não é grande coisa, além de ajudar nas minhas despesas, vou aprender um pouco sobre a dinâmica do mercado.
_ Vai trabalhar em quê?
_ Numa grande loja varejista.
_ Que bom!
_ É, mãe, esse negócio de passar pano e fazer café não é pra mim.
No dia seguinte acordou cedo, se preparou de maneira impecável e foi ao seu primeiro emprego com grande sonho e expectativas. Apresentou-se ao seu gerente, que já sabia da nova contratada. Reuniu os trabalhadores com os quais Cláudia iria travar conhecimento para ela, de certa forma, conviver com o novo ambiente.
_ Gente, essa é Cláudia, a nossa nova integrante da equipe. Portanto espero que todos ajam como uma equipe campeã...!
Findas as apresentações, o gerente dirigiu-se à Cláudia:
_ Cláudia, como você é novata na equipe, faça-me um favor, passe o pano molhado na minha sala e depois faça um cafezinho!