A HERDEIRA

A HERDEIRA

Teobaldo entrou no ônibus o galo ainda nem tinha cantado. Pelas estradas empoeiradas do interior de Minas Gerais o veículo ia circulando e sacolejando pegando uma pessoa aqui, outra meia hora mais distante, com o farol paralisando na estrada os coelhos atrasados e espantando os bacuraus que descansavam nos moirões das cercas.

Saiu da cidadezinha de Pamonhas onde trabalhava como enfermeiro no único hospital com destino ao Rio de janeiro, onde tencionava encontrar a irmã de uma senhora muito rica que havia falecido. No leito de enferma a ele confidenciara algumas informações de sua vida pregressa que, na certa, iriam lhe render uma boa soma. Quem sabe poderia deixar de trabalhar naquela função que já não lhe agradava, por passar grande parte do expediente ouvindo gemidos, lamentações, reclamações, além do contato com toda sorte de doenças contagiosas que passaram há algum tempo constituir ameaça para quem corre o risco de se contaminar ao menor descuido. Sonhava, então, poder montar um negócio próprio, e aquela parecia sua grande oportunidade, se encontrasse a herdeira da falecida.

Encontrar o seu objetivo foi muito mais fácil do que ele previa. Logo que chegou ao Rio de janeiro, foi ao Correio central para saber como poderia encontrar uma senhora da qual ele só sabia o nome e parece que foi Deus que o direcionou para lá naquela hora. O rapaz muito atencioso que estava na recepção, quando soube do interesse do Teobaldo, pediu para aguardar um minuto. Entrou numa saleta e, pela porta entreaberta, Teobaldo o viu cochichar alguma coisa com outro que tinha um computador sobre a mesa e percebeu que o homem fez cara de satisfeito. Quando retornou, o funcionário lhe informou que o endereço poderia ser fornecido mediante o pagamento de uma taxa, paga somente em dinheiro, e que para aquele tipo de serviço não poderiam lhe dar recibo. Disse-lhe para por o dinheiro dentro de uma folha de papel dobrada, na qual deveria escrever o nome da pessoa que estava procurando. Não demorou, foi-lhe fornecido, segundo o rapaz, mediante acesso à internet - que se tornou para Teobaldo, a partir de então, a maior invenção da atualidade -, o endereço completo da dona Marieta do Perpétuo Socorro de Oliveira. Na certa valeria a pena o investimento, apesar de ter desembolsado quase a metade do seu salário.

De posse da valiosa informação, Teobaldo resolveu aproveitar aquela primeira noite na Cidade Maravilhosa. Conheceu o mar, caminhou descalço na areia e deu uma volta na avenida da beira da praia. Depois foi procurar um hotelzinho barato para passar a noite. Não podia gastar muito, pois não tinha certeza do sucesso do seu empreendimento. Na manhã seguinte iria começar a procurar a irmã da rica falecida.

Acordou bem disposto, depois de um sono tranquilo, pois a sorte parecia estar trabalhando a seu favor, considerando que encontrou de imediato, quando chegou ao Rio de Janeiro, o endereço da senhora que estava procurando, tendo sido, inclusive, recebido de braços abertos pelo Cristo Redentor, que parecia estar sorrindo para ele. Logo localizou o endereço no guia de ruas da cidade. Pediu orientação a um jornaleiro a respeito de que ônibus poderia pegar para chegar ao local, na parte antiga do centro da cidade. De posse da informação, Teobaldo foi logo conhecer o ambiente, com a curiosidade atiçando os seus sentidos.

Descobriu que a dona Marieta morava num sobradinho em estilo antigo, com janelas para a rua. Esse tipo de construção é utilizada atualmente por pessoas de classe menos abastada, situação que contribuiu para aumentar a perspectiva de sucesso do objetivo do Teobaldo, já que entendia, seria fácil aproximar-se dos moradores do local, e, com sua personalidade muito comunicativa, logo se ambientaria.

Mais uma vez a sorte trabalhou a seu favor. Soube no botequim aonde foi tomar um cafezinho, que estavam alugando um conjugado bem em frente à casa onde morava a irmã da falecida. Então, procurou resolver os trâmites legais necessários para, o mais cedo possível, fazer dele sua moradia. Não demorou muito, estava instalado na nova residência, um ponto estratégico para suas pesquisas.

Começou espalhando pelos arredores: no armazém, na padaria, na farmácia principalmente, que era enfermeiro dos bons, veio do interior tentar a sorte no Rio de Janeiro e estava procurando emprego, tudo para chamar a atenção da dona Marieta.

Até que, conversa vai, conversa vem, com uma vizinha, soube que a dona Marieta era muito doente e que tinha uma filha de pouco mais de vinte anos. “Presente dos céus pra ela” – disse a vizinha. Para o Teobaldo, naquela altura, era mais do que ele estava pretendendo. Então, foi para casa aquela noite pensando em alterar o seu plano, a fim de se adequar à novidade, que poderia ser mais conveniente e lucrativa. Além disso, já que a sorte estava de mãos dadas com ele, ainda poderia ganhar uma mulher, quem sabe? Em lugar de, como estava antes pretendendo, receber um gordo agrado pela valiosa informação, ele começou a pensar que o destino tinha lhe reservado mais essa possibilidade, dando uma sobrinha para a dona Maria. Ele poderia abocanhar parte da fortuna, se conseguisse conquistar e casar-se com a moça que, não tinha dúvida, mínima que fosse, era linda, pois a sorte, depois de tudo, não ia falhar nesse particular. Assim, além de usufruir da herança, ele ganharia uma bela mulher para gozar a vida da melhor maneira que um homem merece.

Certa noite, por volta das nove horas, ele estava deitado no sofá da sala, assistindo a um programa de televisão e, no momento em que um cochilo lhe permitia o início de um sonho, justamente a respeito do casamento com a sobrinha da falecida dona Maria, ouviu três leves batidas na porta. Levantou-se, bocejando, e foi atender. Deparou-se com uma moça gorda, ostentando uma verruga acima do lábio superior, que, demonstrando bastante aflição, perguntou se ele poderia socorrê-la. Disse que morava na casa em frente e que uma vizinha comentou que ele era enfermeiro e ela estava precisando muito da ajuda dele, pois a sua mãe estava passando mal e naquela hora da noite era difícil o deslocamento até o hospital.

Teobaldo logo desconfiou que a sorte estivesse brincando com ele e, certamente não era o que ele estava imaginando. Assim, acompanhou a jovem, que disse se chamar Ana Maria, até o apartamento dela. Ele logo detectou o problema e pediu que mandasse pedir à farmácia o medicamento necessário a restabelecer a dona Marieta - um simples caso de pressão alta. Ele agora já tinha confirmado que a sorte lhe pregou uma peça compensando a possibilidade de boa vida com a feiura da geografia de carne da Ana Maria. Ele ia ter que pensar novamente no assunto. Resolvida a urgência, descansada e livre do mal estar que lhe afligia a dona Marieta logo adormeceu.

Então, a moça, muito agradecida, perguntou ao Teobaldo, o preço do seu valioso serviço, ao que ele prontamente retrucou, dizendo que não lhe custava nada prestar socorro aos vizinhos naquilo que lhe fosse possível, até porque a qualquer hora poderia ser ele quem necessitasse de ajuda. Ademais, doía-lhe o coração ver o sofrimento de tão distinta senhora e a aflição e preocupação da dedicada filha.

Ela lhe disse, então, que ele não sairia dali sem antes tomar um cafezinho ou uma xícara de chá com bolo, o que o Teobaldo não teve jeito de recusar. Quando estavam lanchando, falaram qualquer coisa a respeito da doença da mãe dela, o que Teobaldo logo aproveitou para tecer recomendações no sentido de deixá-la descansar. Ele não queria que ela percebesse que não conseguia desviar os olhos daquela maldita verruga que brotara a noroeste do seu lábio superior, adornada, ainda, por três pelinhos ridículos. “Coitada da moça!” - Ele pensava.

Teobaldo levantou-se apressado da cadeira, alegando que precisava dormir cedo, caminhou até a porta, e Ana Maria, depois de agradecer muito, perguntou se poderia lhe dar um beijo. Ele ficou sem jeito de negar e ofereceu a face para a enrubescida moça que, para alcançar o rosto do Teobaldo, teve que esticar os pés e roçou os seios fartos no seu braço, de modo que ambos, sem jeito, desejaram-se reciprocamente um apressado boa noite.

Chegando ao pé da escada de acesso à rua, Teobaldo, dirigindo-se a Ana Maria, disse que, se ela quisesse, viria no dia seguinte fazer uma visitinha para saber se a dona Marieta estava passando bem, o que fez abrir um sorriso no rosto da moça, demonstrando satisfação com a proposta.

- Com muito gosto a minha mãe vai recebê-lo, vou contar-lhe assim que ela acordar.

- Então, até amanhã! Boa noite!

No dia seguinte, com a cabeça mais fresca depois de uma boa noite de sono, Teobaldo despachou a indecisão sob o argumento de que o necessário a dar cabo do que lhe impunha mais reticências no empreendimento - o corpo da Ana Maria - poderia facilmente ser melhorado, graças ao dinheiro que ela e a mãe herdariam. Assim, partiu para a prometida visita, lembrando-se, antes, de passar no florista para comprar dois arranjos de belas rosas com, o intuito de agradar os objetos de sua cobiça.

Surpreendeu-se pela recepção calorosa com a qual foi agraciado. Não esperava tanto, mas lhe serviu para ganhar a certeza que não teria dificuldades em conquistar a confiança das duas, naquela altura, da Ana Maria, não só a confiança.

Após cumprir as lisonjas de praxe correspondentes às suas intenções, Teobaldo, no intuito de apresentar o seu currículo, revelou logo que era de Pamonhas e tinha vindo para o Rio de Janeiro com e aprender mais. Estava pensando em fazer um curso de atualização e, depois, de especialização, mas só depois de conseguir o desejado emprego.

- Mas que coincidência! - Disse a senhora - Eu também morei lá. O destino sabe enredar bem as tramas, não é? O senhor ainda deveria ser garoto quando eu briguei com minha única irmã e vim pro Rio de Janeiro com meu marido, que foi a causa do nosso desentendimento. Eu nunca mais a procurei. Nem sei como ela anda, se está viva ou se ainda está morando por lá. Só restamos nós duas da família inteira. Ela também não sabe de mim. Às vezes eu tenho vontade de procurá-la, principalmente depois que meu marido morreu. Fico pensando, de vez em quando, se não seria melhor a gente se perdoar mutuamente e reconstituir a família. Agora que o senhor me disse que é de lá, me deu uma grande tristeza e percebi que estou com saudade da minha irmã. Aliás, talvez o senhor até a conheça. Ela se chama Maria do Perpétuo Socorro Azevedo.

- A dona Maria do Socorro!? - Fingiu surpresa o Teobaldo - Claro que eu conheço! Ela estava internada no hospital quando eu saí de lá. Conversei muito com ela durante o seu sofrimento. Estava muito doente coitada... É uma boa senhora, uma santa. Mas não precisa me chamar de senhor, dona Marieta, afinal eu poderia ser seu filho.

Desculpe-me, meu filho, fui educada assim, mas prometo que vou fazer o possível pra não lhe tratar de senhor. De filho pode?

- Claro dona Marieta, se a senhora prefere assim.

Depois de passar em companhia das duas durante boa parte da manhã, Teobaldo alegou outros afazeres e se despediu contente da vida, o seu plano estava mais azeitado do que esperava.

- Ah, meu filho, que bom! Foi Deus quem mandou você aqui, tenho certeza. Eu quero ir até lá pra falar com ela. Você me leva?

- Pode deixar dona Marieta. Eu vou mandar uma carta pra um amigo meu que trabalha lá no hospital pra saber se ela está melhor, se pode receber visitas, essas coisas. Depois eu prometo que nós vamos até lá.

A partir daquele dia, Teobaldo passou a frequentar a casa da dona Marieta amiúde e, ao final de duas semanas, ele e a Ana Maria já estavam namorando. Apesar do sacrifício, ele sabia se arranjar bem, evitando as aproximações mais íntimas da namorada, utilizando-se da desculpa que não ficava bem esse tipo de coisa na frente da futura sogra dona Marieta. Dessa maneira, ele pretendia levar o relacionamento até que dispusessem do dinheiro da herança para, então, dar uma melhorada no corpo e visual da Ana Maria.

Mas a dona Marieta, com a nova situação da filha, noiva de um rapaz educado e direito, enfermeiro diplomado, começou a se recuperar da doença, segundo ela graças aos cuidados do genro. Andava até comentando a novidade aos domingos, à saída da missa, feliz da vida: “Tanto eu pedi a Deus, que minha filha encontrou um rapaz bom desse jeito, um amor de menino. Ela já está com vinte e três anos e, que eu saiba, nunca sequer um beijo na boca tinha dado. Nem sabia o que era namorar, apesar de todas as promessas que eu já fiz, de tantas velas que acendi pra Santo Antônio. Prometi até subir de joelhos a escadaria da Penha e apelei até pra despacho em encruzilhada. Mas agora eu vejo que nada foi em vão, minhas preces foram atendidas e o esforço recompensado, melhor até do que eu esperava. Brevemente ela estará casada e eu ficarei torcendo pra virem logo os netinhos, aí eu poderei descansar sossegada. A minha santinha, Nossa Senhora da Penha, vai entender que eu não tenho mais saúde pra subir aquelas escadas todas, muito menos de joelhos. Em troca, vou acender três velas do tamanho da minha filha, até queimar tudo, uma de cada vez.

O Teobaldo saía todos os dias pela manhã para visitar os hospitais e clínicas da região, fingindo que estava procurando emprego, deixando, assim, orgulhosa, a feliz noivinha.

Até que um dia, pensando em casa à noite, resolveu que era hora de por em prática o resto do plano. Concluiu que não poderia deixar passar muito tempo, pois os trâmites legais para a transmissão da herança poderiam sofrer complicações, principalmente naquele fim de mundo. Assim, no dia seguinte bem cedo, chegou à casa da noiva com a seguinte novidade:

- Aninha, querida, ontem recebi uma notícia lá de Pamonhas que não é nada boa sobre a sua tia.

- A irmã da minha mãe?!

- Claro! Só pode ser irmã dela, ora – arrependeu-se do tom, mas a Ana aparentemente não se incomodou.

- Ai, meu Deus! Ela piorou? Logo hoje que a minha mãe acordou meio enjoadinha

- Não. Ela morreu.

- Puxa vida! Minha mãe estava até fazendo planos pra nós irmos, os três, lá a sua cidade pra reencontrá-la, fazer as pazes e reconstituir a família...

- Então, antes de chamá-la, vá até a cozinha e prepara um copo de água com açúcar. Vai ser bom pra ela se acalmar.

- Com açúcar não, vou fazer com adoçante, por causa da diabetes.

A Ana Maria levou a mãe para a sala e, com a ajuda do solícito genro, acomodou-a sentadinha no sofá e falou:

- Mãe, o Teo trouxe uma notícia sobre a sua irmã, minha tia. Não é boa. Toma este copo d’água com adoçante pra senhora se acalmar.

A velha senhora tremia tanto que quando pegou o copo quase derramou todo o conteúdo no chão. A Ana Maria segurou o copo junto com ela para ajudá-la.

- Agora fala, Teo. Você que tem experiência nesses assuntos.

- A sua irmã faleceu há alguns dias, dona Marieta. Já foi até enterrada, a santa. Pior que, como ninguém sabia que tinha parentes vivos, a justiça já está tomando as providências pra dividir os bens e o patrimônio, o que não é pouco, pelo que sei, com instituições de caridade. Pior que eu conheço bem aquele sujeitinho, o espertalhão do Prefeito, o Zé da Padaria, malandro que nem ele só, naturalmente está pensando em dar um jeitinho de abocanhar uma boa parte para engrossar os seus bens pessoais.

- Ela era rica? – Perguntou a Ana Maria.

- Rica é pouco, devia ser milionária. Foi muita sorte a dona Gertrudes, a enfermeira chefe do hospital, ter ligado pro meu telefone celular dando a notícia. Muita sorte mesmo, porque eu, na minha profissão de enfermeiro, passei muitas horas sem dormir, sem poder tirar um cochilo no meu plantão, à cabeceira da santa senhora sua tia dona Maria. Deus a tenha, pobre coitada! Sem pai nem mãe, um parente sequer, prum alento naquelas horas difíceis da doença que a consumia. Vejam bem, eu sei que vocês não sabiam da situação dela. Foi numa hora dessas ao pé da cama, na enfermaria, que ela me contou a respeito de uma irmã que teria vindo pro Rio de Janeiro e nunca mais deu notícias. Disse que agora eu sei, dona Marieta, a senhora, sua irmã, teria brigado com ela, ainda nova, por causa do seu falecido marido. Ela me contou que a senhora tinha muito ciúme dele, e achava que eles flertavam. Disse, desculpe eu falar, que, na verdade, ele era muito sem vergonha e deu em cima dela algumas vezes, sim. Sempre que tinha oportunidade tentava se esfregar nela. Confessou que, às vezes, quase cedia, dependendo da época, mas trair a irmã dela isso não. Ela até fez o sinal da cruz. Disse também que lhe perdoava, apesar de a senhora tê-la acusado disso e, por isso, veio embora pro Rio, com a Aninha ainda pequenininha, e não lhe deu o endereço. Depois, ela se casou com um fazendeiro muito rico lá de Pamonhas, que já ia além da meia idade, embora ela também já não fosse muito jovem. O marido morreu de infarto depois de sete anos de casados. Sem ninguém, viúva, viveu lá, entre a missa e os bordados. Não tinha com que gastar todo o dinheiro que só ficava rendendo no banco. Foi muita coincidência eu encontrar vocês nesta cidade tão grande. Realmente uma sorte, justamente após a passagem dela e antes que aproveitadores espertalhões fizessem uso da dinheirama da ve... pobre senhora. Agora ele vai ter o destino certo e bem merecido, enfeitar a vida da minha adorada e linda noivinha. Em boa hora ela me contou essa história. Deus a tenha! Eu só não revelei isso tudo antes, porque ela não mencionou que desejava encontrar a sua irmã. Até que me deu uma vontade muito grande de contar quando a senhora, dona Marieta, me falou que pensava em procurá-la. Se eu soubesse que ela estava à morte, na certa eu teria revelado isso tudo que ela me contou, em seu próprio interesse.

Mas o Teobaldo, apesar da dinheirama que ele como futuro marido pretendia herdar, às vezes fraquejava, principalmente quando tinha que ir para o sacrifício e beijar a boca da Ana Maria. Os três pelinhos da verruga preta que ela tinha a noroeste, junto ao lábio superior, faziam cócegas no seu nariz, além de ter que elogiar e alisar todos aqueles noventa quilos de banha. Apesar do seu tamanho mais para meia entrada, dizia que gostava era de mulher assim, avantajada, macia. A boa-vida que ele sonhava valia o sacrifício. Fechava os olhos e imaginava um mulherão daqueles que saiam peladas nas revistas masculinas e relaxava. Ainda bem que ela dizia que sexo mesmo, na cama, só como marido e mulher, depois de casados, antes era pecado. Ela ainda pedia a confirmação do Teobaldo: “Não é meu amor? Eu sei que o meu pãozinho de queijo está sequinho pra ter a mulherzinha dele inteirinha, nuazinha, mas vai ter que esperar mais um pouquinho, afinal ela tinha se preservado até agora, então apesar da tentação, eles poderiam aguentar. Só não quero que vá se meter com aquelas mulheres lá da rua Pinto de Azevedo, hein!”

Tudo aconteceu como ele havia planejado, dona Marieta e Ana Maria ficaram milionárias. O dia do casamento estava se aproximando e o Teobaldo compensava o desgosto do lado sexual pensando no que o dinheiro iria lhe proporcionar, mercedes conversível, na Vieira Souto, um monte de mulheres dando em cima, samba, cerveja, mulher, viagens para a Europa , Paris, Roma, euros, mulheres e mais mulheres, dólares, Nova York, dólares, euros e mulheres... Então, ele não se incomodava mais e torcia para o tempo passar o mais rápido possível.

Finalmente chegou o grande dia, a festa do casamento varou a noite. Quando o casal de pombinhos foi para o hotel, já era alta madrugada. Iriam viajar para Búzios logo pela manhã em lua de mel. O Teobaldo estava doido para dormir, cheio de whisky, para lá de Bagdá, mas a Aninha estava para lá é de arretada, depois de longa espera, depois de resistir a muitas fraquejadas, ela estava mais a fim é de conhecer o tal de orgasmo e, finalmente, iria ser mulher com todas as letras, o seu maridinho iria mandar o hímen para o espaço. Assim, não teve jeito, o Teobaldo teve que romper a fita inaugural das partes sexuais da Aninha naquela noite mesmo. Ela foi logo tirando a roupa e mostrou todas as suas dobras e protuberâncias e, faminta, quase esmagou o Teobaldo que, sem argumentos, mas sedado pelo álcool, caiu dentro e, surpreendentemente, não quis mais parar. Encontrou um prazer inesperado. O porre foi embora como por encanto e, depois, lúcido e esgotado, arrependeu-se de ter esperado tanto, de não ter forçado a barra. Ele descobriu que a beleza, às vezes, não está na cara, como a da Ana Maria, e apaixonou-se perdidamente pela rica esposa.