Demônios noturnos

Oi, tudo bom? É quase reconfortante te ver aqui novamente, assim como noite após noite nos últimos... 4 anos? Ou seriam 5? Sei lá, depois de um tempo a gente vai perdendo a conta, né? Principalmente quando é sempre mais ou menos igual.

Sempre começa com seu beijo gelado na espinha, arrepiando cada pelo em meu corpo - prazer ou desespero? – até que, quando vejo, já estás em cima de mim, me invadindo com seu olhar invasor. O medo pode ter certa sensualidade, mas nada que não torne todos os meus músculos rígidos de tensão. Toma uma pílula que passa.

Pedaços da minha pele cobrem o quarto, não há o que fazer, seu toque arde enquanto entra em meu corpo e tenta quebrar cada costela com uma risadinha. Tack, tack. Quando chega em minha garganta, aperta gentilmente minhas pregas, em menos de dois minutos meu rosto estará formigando e a cabeça leve. Será que dessa vez vai? Parece que não. Tome mais uma pílula.

Dizem que a dor nos faz crescer, mas qual é o sentido de ser despedaçado todo dia? Que grande lição valiosa pode estar por trás de um esquartejamento? Não sou nem de perto tão romântico ou altruísta quanto Prometeu, mas continuo com essa ideia na cabeça que Hércules virá me salvar e me substituir por uma besta qualquer, mas até onde eu sei, eu sou a besta.

Porra, de quem foi a ideia de que pílulas vão me libertar? Ao invés de espantar esse demônio, parece que elas atraem outros. Já cansei desses demônios, posso ir dormir? Será que podem fazer seu trabalho em silêncio? O último que sair, por favor, apague a luz.