2 - A REVIRAVOLTA DOS CHICOS

Primeiro veio o Chico, gritava o homem enfurecido, de tanto retruque do velho, que sorridentemente apontava ao canto do pátio insistindo que o chiqueiro estava ali há pelo menos dez anos e o Chico recém chegara. Não é desse Chico que eu falo velho teimoso, são de todos - espumando no canto da boca, quase enfartando insistia o homem. Notoriamente a discussão carecia de entendimento comum, que certamente não chegariam. Esbravejando lá se foi o homem, esquecendo que Chico, chiqueiro, duroc, landrace são todos do reino da porcada. Os Chicos chegam devorando a lavagem, os mais favorecido as rações, partem salvos pelo choro das crianças, outro dentro da linguiça, mas partem, não há como ficar indefinidamente dentro chiqueiro. Se insistem a culpa é do proprietário que dá chiqueiros confortáveis e rações saborosas. Tem chicos que desenvolvem habilidades convencedoras e conseguem criar dinastias da porcada. Assim era o velho Chico, do Dois de Ouro, vinham e iam as porcas e ele permanecia soberano, sempre operoso e com traços de agressividade tão necessários na perpetuação da espécie, no fim da linha Chico deixou uma matriz descendente escolhida pelo administrador, por inclinação do próprio Chico.

Chico virou torresmo, banha, linguiça e carne, o couro virou guarda-mato de fuzis.

Do Livro Província dos Burcos

2014

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 19/12/2013
Reeditado em 21/01/2014
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