Fim de noite

O paletó, dobrado de qualquer jeito e suportado fracamente por um polegar cansado, escorregou do ombro e aterrissou sobre a organizada cama de hotel. A peça de roupa deixou-se moldar-se sobre o macio cobertor, agradecendo a oportunidade de ser livre à permanecer estático e abandonar uma exaustiva rotina de dois dias de trabalho. O próximo a usufruir desse direto foram os sapatos, que, ao serem tirados de qualquer jeito, foram lançados pelo quarto por pernas cansadas que, por um breve instante, lutaram por equilíbrio.Mas, nesse cansado final de noite, o corpo inteiro já buscava por equilíbrio.

Os músculos, ainda acelerados, acostumavam-se com a idéia da inércia e do descanso, assim como a mente tentava, fortemente, livrar-se de números e gráficos para entregar-se em pensamentos nulos e às futilidades do nada. Mas, antes, um formoso copo foi agraciado com o mais puro conhaque. Uma leve dose para aquecer o já caloroso corpo. Uma tradicional indicação de que a rotina estava completa e, a partir dali, a única obrigação consistia do direito à ocasionalidade. Direito este, que há muito, já havia sido definido com um majestoso plano: Um delicioso conhaque, que faria companhia ao mais puro cigarro e a doces memórias.

No caminho até a varanda, as meias e a tão odiada gravata foram lançadas ao léu e, com o desabotoar de uma camisa cansada, marcar a remoção da armadura social do trabalho diário. E tal ciclo não poderia estar finalizado com uma noite mais perfeita do que aquela. A leve brisa trazia o cheiro de orvalho das árvores abaixo e dançava junto às brilhantes estrelas. Luzes macias que abrilhantavam a magnífica lua cheia. Um belo quadro parisiense. Quadro este que nenhum artista seria capaz de reproduzir, assim como nenhuma foto seria capaz de eternizar. Quadro que era pintado pelo espírito e sentimento de completude que um jovem coração carregava como resultado de batalhas vencidas.

O cigarro acabara esquecido. Estava confortavelmente acomodado no paletó que dormia sobre a cama. E, em seu lugar, entrara um carta que, acompanhada de uma foto, permanecia junto ao peito, cuidadosamente dobrada e colocada no bolso da camisa. Naqueles papéis estavam as mais doces palavras, os mais carinhosos abraços e os mais reconfortantes sentimentos. Uma vida retida em grafite e tinta. A mais prazerosa companhia para um viajante solitário. Um pedaço de casa. A tinta carregava dois sorrisos joviais: Amante e filho, que, docemente, desejavam sorte. Desejavam algo que ninguém nunca poderia tirar, algo que era provado por aqueles sorrisos. E o grafite, em letras leves e bem formadas, faziam com que a personalidade mais amada comunicasse a qualquer momento aquelas palavras repetidas, mas sempre esperadas: “Nós te amamos”.

E, assim, o mais sincero sorriso sentia o imenso prazer em anunciar à mais perfeita noite aquilo que, há muito, estava fixado no coração: "Eu também amo muito vocês"!

-- FIM --

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