A Trajetória de Um Pai.

Meu pai teve diversas fazes na vida. Em todas nenhuma degradante. Enérgico, honesto , franco,negociador e trabalhador, eram sem dúvida suas acentuadas virtudes. Teve uma boa situação financeira, chegou a ser considerado fazendeiro, quando na realidade um sitiante bem sucedido. Mas isso caiu por terra quando resolveu fazer política na politicagem,por ser sério e falar a verdade, transformou-se em um estranho no ninho. Em um desses imbróglios politiqueiro tomou muitos prejuízos e quase perdeu a vida. Saiu corrido do lugar,como se dizia na época.

Mas a finalidade deste introito é falar sobre sua fase religiosa, como sempre em tudo que participava, entrava de cabeça,, nesta nova fase não seria deferente. Um dia em uma cerimônia na Igreja para batizado denunciou um casal que diziam ser amasiados, para impedi-los de serem padrinhos de uma criança,coisa até então que ninguém tinha coragem de denunciar, deu um quiproquó dos diabos. Um impasse que o Padre resolveu na manha.

Meu pai convenceu alguns casais vivendo amasiados há muitos anos, a casarem na Igreja. Outro detalhe, casados só no civil, ele os consideravam amasiados. Na fase de militância religiosa, era missa, orações para refeições, terço antes de deitar, novenas disso e daquilo, compromissos com congregações e promessas. Sobre promessas recebeu um milagre de cura através do santo carpinteiro São José.

Meu pai passou ser referência religiosa na região onde morávamos, era chamado para rezar terço nas casas. Eu o seguia muito mais para agrada-lo, mas papai era muito esperto e sabia que eu não era muito afim da coisa, sempre me cobrando mais empenho, lembro-me desta frase: “ não adianta acender uma vela durante o dia para Deus e outra à noite para o diabo”.

Em uma reunião de reza lá em casa, depois das orações, teve um bate papo informal e o assunto era sobre padres, santos, milagres e conversões. Foi ai que contei uma historinha, vamos a ela:

Havia numa aldeia de muita prática religiosa. Tinha um aldeão que começava trabalhando antes do amanhecer e só deixava o trabalho ao anoitecer. Chegava da lida tão cansado, que mal sapecava um Pai Nosso e uma Ave Maria, as vezes caia no sono na metade da oração. Era muito criticado por não colocar as orações coletivas em primeiro lugar. Em uma noite escura como breu , um enorme facho de luz vindo do céu, iluminava sua casa. Os aldeões, curiosos correram para lá e ver o que estava acontecendo, ao chegar encontraram-lhe, morto. Aquele facho de luz era um sinal que aquele aldeão de pouca reza e muito trabalho, salvara sua alma e estava com Deus no Paraíso. Quando os convidados de meu pai, começaram entender que muita reza não é passagem para entrar no Paraíso, mas sim, sem maus pensamentos e coração puro, meu pai deu um golpe de mestre: “ isso é historinha para quem não gosta de rezar”. Todos caíram na risada.

Lair Estanislau Alves.