Solidão a dois.
Solidão a dois.
O tempo passa, e muita coisa muda. A vontade de querer o outro perto, de querer ficar junto, já não é mais a mesma. Parece que foi sufocada diante das muitas dificuldades e preocupações diárias. Ele muito focado em seus próprios interesses, e pouco interessado no que seria melhor para os dois. A correria do dia a dia, só o afasta ainda mais dela.
Ela acorda, o procura na cama, mas percebe que ele não esta. Levanta e continua procurando pela casa, mas também não o encontra. Ele saiu às pressas para o trabalho, nem se despediu.
Nada ela pode fazer, vai ter que tomar café sozinha.
A tarde ela liga pra ele e pergunta:
- Amor, você vem almoçar comigo?
- Não posso, hoje tem reunião, diz ele.
Ela desliga, retira o prato a mais que havia colocado na mesa, e come sozinha o almoço tão especial que havia preparado, pensando justamente nele.
A noite vem chegando, e ela se anima. Depois de um dia inteiro de saudades, ela vai revê-lo novamente. Ele esta voltando pra casa (pensa ela).
De repente o telefone toca, é ele na linha:
- Querida, pode jantar sem mim, vou ter que trabalhar até tarde.
- Não faz isso, estou morrendo de saudades, diz ela.
- Não posso mais falar, quando eu chegar em casa a gente conversar, diz ele, e desliga o telefone.
E mais uma vez ela come sozinha.
Já bem tarde ele chega em casa, mesmo com sono ela o espera; quer vê-lo, abraça-lo, beija-lo, esta morrendo de saudades.
Ela vai em direção a ele e diz:
- Oi meu amor, esta precisando de alguma coisa? Você deve estar muito cansado.
- Realmente estou muito cansado, vou tomar um banho e dormir. Amanhã conversamos durante o café, responde ele.
Um novo dia amanhece, e a mesma cena se repete...
ele não esta na cama, não esta na casa, e novamente saiu sem se despedir.
Ela é insistente, o ama, e por isso, a tarde liga novamente pra ele:
- Amor, você pode vir almoçar comigo hoje? Pergunta ela.
- Vou sim, pode preparar tudo que estou chegando, responde ele.
Ela se anima, prepara tudo com muito carinho: mesa, comida, talheres... Tudo no lugar, bem organizado, fez tudo para agradá-lo. Na cabeça dela, só falta ele pra ficar tudo perfeito.
Tudo pronto. Ela espera, espera, espera... Mas ele não vem, não aparece, não justifica.
Ela tenta ligar, mas ele não atende. Ela insiste, e após inúmeras tentativas ele atende:
- O que houve, será que você não percebeu que não posso atender? Estou ocupado, diz ele.
- Desculpa querido, só queria saber se você vem jantar? Diz ela.
- Não se preocupe, vou levar algo pra gente comer juntos, diz ele.
Novamente ela se anima se arruma toda para esperar ele chegar: bonita, cheirosa, roupa decotada, um batom vermelho na boca. Tudo pra chamar a atenção dele.
Ele demorou um pouco, mas chegou, Trouxe uma comida fria, e pouco notou o quanto ela tinha se produzido para ele.
Ela com todas as vontades e desejos do mundo, e ele muito cansado. Nem o sexo era mais prazeroso entre os dois.
Um novo dia começa, e tudo continua como antes. A falta dele é constante na vida dela, um dia após o outro a coisa vai se repetindo, se repetindo... Até que ela percebe que não faz tanta falta pra ele, reconhece que ele tem outras prioridades antes dela.
Ela não aguenta mais tanta solidão e resolve ir embora. Esta sufocada.
Como ele demora a aparecer na sua própria casa, ela resolve procura-lo, e vai até o trabalho dele:
- Precisamos conversar, diz ela.
- Mais tem que ser aqui? Pergunta ele.
- É o único lugar onde posso encontrá-lo, responde ela.
- Seja rápida, porque tenho muita coisa pra fazer, diz ele.
- Não vou mais tomar o pouco que tenho do seu tempo, estou indo embora, da nossa casa, da sua vida, diz ela. E sai sem olhar para trás.
Ele parece não acreditar, e da pouca importância as suas palavras.
Mas quando ele chega em casa, percebe que ela não estava lá como antes.
Ele liga pra ela:
- Querida, aonde você esta? Pergunta ele.
- O que isso importa pra você? Diz ela.
- Volte pra casa, eu prometo mudar, juro que vai ser diferente, diz ele.
- Aquilo que você faz, fala tão alto, que eu não consigo ouvir o que você tem pra me dizer, eu não volto mais pra você, pra sua vida, diz ela, e desliga o telefone.
Ela não acredita mais nele. A sua constante ausência, desculpas e falsas verdades, fizeram com que ela deixasse de acreditar nele. E como quem muito se ausenta, chega uma hora que deixa de fazer falta, ela também deixou de sentir a falta dele, e ficou sozinha "de verdade" porque antes era pior, ela se sentia sozinha, mesmo estando acompanhada.