sitcom à brasileira

E era mais uma casa norte-americana. Uma casa grande, sem muros e com grama no quintal. Quem morava lá era um homem viúvo que cuidara dos três filhos sozinho logo após a morte da mulher. Um herói, praticamente. Ficou feliz ai ver que estava evoluindo, já que todos, os dois meninos e a menina, saíram de casa antes dos 30!

Brian, o mais velho, passou para uma renomada faculdade de direito. A família mantinha uma poupança destinada a economizar dinheiro para este fim, mas ele nem foi necessário, já que o rapaz conseguira uma bolsa integral. Brian queria ser um advogado de sucesso.

Mariah, a filha do meio, não entrou para a faculdade, mesmo tendo cultivado isso como sonho desde criança. A moça se casou para ser feliz e ter filhos lindos. Para tal, casou-se com aquele que ela pensava ser o amor da sua vida.

Michael era o atleta da família. Adorava o baseball desde criança e sempre fora destaque no esporte. Foi contratado por uma grande equipe e com um contrato milionário. Michael já se imaginava no topo do mundo.

É, mas tudo deu errado para os três e tiveram de voltar pra casa. Era o fim do sonho dos três americanos. Brian não agüentou dois dias sequer na faculdade e tratou de abandoná-la. Mariah pegou o marido com motorista e tratou de se separar. Michael foi dispensado do time pelo qual fora contratado.

Voltaram para casa no mesmo dia, coincidentemente. Surpresos ao ver um ao outro, questionaram-se sobre os motivos da volta de cada um. Mariah ficou morrendo de vergonha de admitir que o marido gostava da mesma coisa que ela (não, ela não gostava do motorista). Brian também sentiu o mesmo ao falar que um dos motivos por ter desistido da faculdade fora por não haver belas mulheres, sensuais e ardentes, por lá. Michael apenas disse que fora dispensado do time por “deficiênciatécnica”.

- Dispensado por quem? Perguntou Mariah.

Michael, visivelmente constrangido, mais uma vez fez questão de falar “deficiência técnica”, um eufemismo para “ruindade”, de forma que não se podia entender.

-Ele quer dizer DEFICIÊNCIA TÉCNICA, Mariah. Disse Brian.

-Ah, não conheço ninguém com esse nome, cada uma... Disse Mariah.

Brian e Michael se entreolharam com um olhar de incredubilidade e impaciência. A burrice da irmã ainda os surpreendia.

De repente, ouviram um barulho de chaves na porta da frente. Olharam ansiosamente para ela, esperavam que o pai chegasse. Tudo bem que ele não era tão aguardado assim, já que temiam o que poderia falar sobre a volta dos três. Mas não era o pai que acabara de chegar. Era um jovem engravatado e com uma aparência cansada.

-Quem é você? Os três perguntaram prontamente.

O jovem retirou um cartão do paletó e entregou a Brian que o leu em voz alta:

-“Madame Tereza: Traz a pessoa amada de volta em dois dias, mata desafetos e serviços sexuais nas horas vagas”. Mariah lembrou de seu ex-marido ao ouvir “pessoa amada” e desatou a chorar. O jovem que acabara de chegar logo foi até Brian e entregou um outro cartão, esse com o seu nome e sua ocupação. Era advogado e se chamava Steve. Brian ficou com uma pontina de inveja ao saber que o jovem era advogado. Michael perguntou a Steve se essa tal de Madame Tereza era gostosa...

Um tempo depois, Mariah já havia parado de chorar e recomendou a Michael que ele procurasse a tal Madame não para os serviços sexuais, mas sim para dar uma lição no Deficiência Técnica.

Após alguns minutos de conversa com Steve, ficou esclarecido que agora ele morava na casa, já que tinha alugado um quarto. Alugado um quarto? Mas qual quarto? Foi o que pensaram os três irmãos.

-O pai de vocês me disse que era o do filho mais velho dele.

Brian não gostou nada disso. Como assim? Mal ele sai de casa e o pai já trata de capitalizar algo tão íntimo? Logo depois, Steve disse que o quarto da menina também estava alugado, ou capitalizado, seja lá o que for.

-O que? Meu pai capitalizou algo tão íntimo meu? Inquiriu Mariah.

-Não sabia que o papai obrigava você a se prostituir, Mariah. Disse Michael em tom de desdém.

Mariah, só para variar, não entendeu a piada e deu de ombros. Agora, estavam curiosos perguntando a Steve sobre o pai deles, sobre quanto era o aluguel cobrado e também sobre quem estava ocupando o quarto de Mariah.

-Tomara que seja uma loira peituda. Disse Michael.

Só para variar, a piada de Michael não surtiu o efeito por ele desejado e a conversa que estava sendo travada continuou normalmente. Mais um som de chave na porta. Como já estavam a par de que o pai saíra há poucos dias e que demoraria a voltar, imaginaram que agora quem chegava era a ocupante do quarto de Mariah.

- Oi, Steve. Oi pessoal. Pessoal? Quem são vocês? É uma festa? Era Emy que acabava de chegar.

Steve coçou disfarçadamente a cabeça num gesto de impaciência com Emy. Fez as apresentações logo depois.

Estavam reunidos na sala de estar os cinco em silêncio. Vez ou outra, entreolhavam-se, mas nada era dito. De repente, Brian quebra o silêncio... Mariah contribuiu para que o silêncio fosse mandado para longe ao dar um berro por ter se assustado com a fala repentina do irmão mais velho.

- Pessoal, pelo visto vamos ter que dividir a casa... Eu não tenho dinheiro para irp ara outro lugar, duvido que Mariah e Michael tenham e também seria injusto pedir que vocês dois saiam. Disse Brian lançando o olhar para Steve e Emy.

Todos concordaram com um leve aceno de cabeça.

O silêncio pairou mais uma vez. Novamente, Brian resolveu quebrá-lo. Pediu que Emy e Steve o deixasse a sós com Michael e Diana.

-Sejamos práticos. De onde vamos tirar dinheiro? Nenhum de nós trabalha... minha conta no banco já era, o papai pegou tudo o que tinha lá depois que eu consegui a bolsa na faculdade.

- Como assim? Perguntou Mariah. Ele roubou você?

- É, o papai roubaria o dinheiro que ELE mesmo economizou por tantos anos. Disse Michael.

- Mas, Michael, aquele dinheiro tinha muito de meu... bom, mas e quanto a vocês? Como estão?

- Ahhh, bem, e você, irmão querido? Brian não acreditou nessa resposta de Mariah.

- Papai disse que o dinheiro que seria destinado a pagar a minha faculdade seria uma espécie de indenização para ele, já que tinha me dado comida, roupas, casa... Pelo visto, ele nunca pensou que isso tudo fosse algo como uma obrigação moral de todo pai.

- Eu também não tenho dinheiro algum. Assim que assinei o contrato com aquela equipe de Beisebol, papai pegou para ele toda a parte que seria destinada a mim. Ele disse que era o principal responsável pelo meu talento, pois mesmo nunca tendo me dado uma bola de beisebol ou me levado para jogar, o espermatozóide que fecundou a mamãe e que me originou era dele.

Ambos olharam para Mariah esperando pela descrição de sua situação financeira.

- Gente, eu nunca trabalhei em toda minha vida. Até procurei me casar com um marido rico, assim não teria que me preocupar com isso.

- Mas, Mariah, seu marido nunca te deu dinheiro? Uma mesada ou algo parecido, sei lá... Disse Brian.

- Ah, dar até dava... eu dei tanto pra ele, né...

Brian e Michael sentiram-se visivelmente constrangidos com essa declaração de Mariah.

- Gente, mas tem uma coisa. Meu marido...

- Ex-marido, Mariah, ex-marido. Disse Michael.

- Não fala assim comigo! Disse Mariah aos prantos.

- Michael, cala a boca e deixa ela falar.

- Meu marido era muito rico...

- Era? Ele morreu? Perdão, não resisti... Disse Michael.

- Gente, ele é muito rico... Bem que poderia nos ajudar. Vocês não devem saber, mas ele pagou uma grana para que o papai o deixasse namorar e depois se casar comigo.

- O que? Você se prostituía?

- Brian! Disse Michael.

- Ah, Michael, isso é sério. Mariah, como você se prestava a isso?

- Ah, gente, o papai dizia que eu deveria aceitar. Era aquele lance de indenização que ele também cobrou de você, Brian. Papai também cobrava dinheiro dos meus outros namorados. Ou então mandava que comprassem cerveja pra ele, lógico que com o dinheiro deles, né.

continua