A FORÇA DUM ABRAÇO
(Conto verídico)
Ele trazia nos olhos um não sei quê que me prendia.
Todas as tardes, quando eu caminhava pela calçada, percebia nitidamente que eu também não lhe passava despercebida.
Às vezes cabisbaixo, logo que eu me aproximava, parecia renascer; pois levantava-me seus olhos tristes e pesados, que alegremente me acompanhavam a dobrar a esquina, até me perderem de vista... e logo retomavam seu cuidado,quando eu reaparecia na viela da subida para terminar o quarteirão da minha trilha vespertina. Era como se cuidasse do meu destino, e eu, me sentia amparada.
Parecia sofrido, mas tinha um porte elegante.Isso me fazia crer que com certeza já tivera momentos melhores de vida.
Senti que ali travávamos um elo, talvez uma grande amizade, daquelas silenciosas...mas eternas.
Dizem que é no silêncio que as almas gritam e se procuram.
Aprendi a sorrir -lhe.
Ele meio sem jeito, me parecia não muito habituado a contatos mais íntimos, mas timidamente sempre me levantava a cabeça e sorria-me com os olhos, como se me pedisse algo.
Certa tarde, assim que coloquei os pés na sua calçada, num súbito e forte impulso das patas dianteiras, ergueu-se ofegante e supinamente enlaçou a minha cintura, bloqueando-me quaisquer movimentos.
Que força! Era bem mais alto que eu.Assustei-me.
-Por favor, esse cãozinho é do senhor?- perguntei aflita ao taxista ao lado.
-Não, senhora.Ele não tem dono, mas é nosso conhecido aqui da rua.Não se assuste,ele apenas retribui a quem lhe doa carinho...