A COSTUREIRA
A costureira
Heloisa e Alberto moravam juntos há alguns meses. Ela não trabalhava, só cuidava das tarefas domésticas. Era jovem, dezessete anos. O marido era vinte anos mais velhos, recém-separados com um casal de filhos. Para ela tudo era novidade e motivo de felicidade. A casa onde moravam era enorme, se comparada à minúscula casinha que deixara para trás, ao sair com a roupa do corpo, para seguir Alberto. Piscina, terraço, churrasqueira era um luxo, que ela não estava acostumada.
Tanta felicidade, tinha apenas uns pequenos probleminhas, um deles era o ciúme excessivo de Alberto. Ela sentia tanta falta da antiga liberdade. Na casa do pai, ela fazia o que bem queria. Não tinha relógio, nem satisfações a dar, entrava e saia quando bem queria. O pai viúvo há alguns anos, trabalhava, trabalhava, trabalhava, botava comida dentro de casa e os filhos que dessem um jeito em tudo. Helo era a filha mais velha, e desde bem cedo, antes de ter seios, já estava na pista, ganhando a vida. No inicio, era uma inocente menina, bem alta para a sua idade, enganava alguns homens e com eles saia de carro para dar um passeio. Voltava sempre com alguns trocados que lhe permitiam comprar comida e roupas para si e até mesmo para seus irmãos.
O pai não prestava atenção nos detalhes, pois não estava interessado. Dessa forma, Helo, conheceu Alberto, e quando ele resolveu leva-la para morar com ele, Agarrou-se a única oportunidade palpável que encontrara em sua curta vida para melhorar de nível social.
Ser a nova esposa de um homem vinte anos mais velho para ela foi à única oportunidade que a vida lhe ofereceu, para Alberto é como se mostrasse um troféu para os amigos e até mesmo para os filhos, pois Heloisa em sua juventude exuberante parecia uma flor fresca e serena.
Conquistou não só o amor de Alberto, muito mais do que isso, era idolatrada, mimada e estragada. Alberto não via mais nada a sua frente, a não ser sua nova conquista. Nos fins de semana que os filhos iam visita-lo ele torcia para que acabasse bem rápido e aos poucos foi deixando de buscar os filhos para só ficar com sua amada.
Heloisa não queria voltar à escola, pois dizia que tinha vergonha de assumir que não tinha mais do que as primeiras séries do Ensino Fundamental. Alberto sempre lhe explicava que era bom ela aprender alguma coisa para seu futuro. Alberto insistiu tanto que Heloisa aprendesse alguma profissão, até que ela concordou. Matriculou-se em um curso de Corte e Costura e todas as tardes de terças e quintas seguia para o curso que ficava duas estações de trem distante de seu bairro.
Dois anos se passaram, e Heloisa não conseguia terminar o curso. Dizia que era muito difícil para ela acertar os moldes, etc. etc. etc. Sua sogra aumentava a pressão que Albert o vinha fazendo ultimamente, para que Heloisa mostrasse algum progresso no seu curso de corte e costura. Trouxe-lhe alguns tecidos estampados e pediu que Heloisa fizesse algumas blusas para ela. Heloisa pegou os tecidos e ficou de preparar as blusas para a sogra. A senhora achou estranho que Heloisa nem sequer tirou as suas medidas.
Um mês depois as blusas estavam prontas e Heloisa entregou-as para a sogra. Que ficou muito encantada com os modelos que recebera. Entusiasmada, a sogra resolveu pedir-lhe para fazer dois vestidos. Heloisa aprontou-os bem rápido. Assim, as dúvidas da sogra e de Alberto ficaram sem fundamento, e Heloisa continuou no seu curso por mais algum tempo. Alberto e Heloisa tinham um modelo de casamento, todos os invejavam pareciam um casal de contos de fada.
Alberto resolveu fazer uma festa surpresa de aniversário para a esposa e sem que ela soubesse convidou algumas amigas dela, usando sua agenda, sem que ela descobrisse. No dia da festa, três ou quatro amigas de Heloisa lá estavam juntas tomando cerveja e comendo churrasco. Heloisa prestava atenção a cada detalhe da conversa delas. Ficou arrepiada dos pés a cabeça quando a sogra chegou com uma das filhas. Tentou de todas as maneiras, afastar a sogra das amigas. Tudo em vão, a sogra ficou ali grudada nas amigas da nora. Até que uma delas, depois de tomar muita cerveja soltou a bomba: - Esse vestido me lembra, a Heloisa teve o maior trabalho para arranjar uma boa costureira para fazê-lo para a senhora. A sogra saiu em defesa da nora e argumentou: Você está enganada, a Heloisa foi quem o fez. A sogra ficou vermelha, pálida, e teve que engolir em seco: - A senhora é que pensa que foi ela que fez. Por um acaso, a senhora a viu costurando o vestido? A sogra ficou muda enquanto a amiga da nora, despejava: - Heloisa nunca costurou roupa nenhuma, ela costureira? Ah! Sim. A senhora acreditou também no que ela lhe contou? Não sabe mesmo de nada. Ela vai visitar a mãe no hospício.
A essa altura o Alberto curioso chegou mais perto e perguntou para Heloisa: - Amor, sua mãe não tinha morrido há muitos anos? Heloisa fez um gesto, para ele não dar bola para a amiga mostrando que ela já tinha bebido demais e tudo continuou bem entre eles. A dúvida começou a morar no cérebro de Alberto. Não confiava mais na Heloísa. No dia que o filho deles nasceu, pela primeira vez, ele viu materialmente como tinha sido bobo. O filho era preto, Heloísa branquinha e ele louro de olhos azuis.