Insana Vistosa
Esqueci meus óculos Blue Ritaleenicos em algum canto do quarto e por este motivo meus planos de fingir gravidade não me custara muito sofrimento. Eu queria que Téo pensasse que havia alguma coisa errada; que minha vida ou a dele estava por um fio; que finalmente o barco estava afundando de vez. Atravessamos a Praça Joubert Carvalho num silêncio de morte. Alguns toxicômanos estirados pelo chão resmungavam qualquer trivialidade comum a eles e sobre bancos sujos e amarelados envoltos em jornais velhos e raríssimas notícias interessantes meia dúzia de respeitáveis aposentados trocavam relógios e outras típicas velharias. Um suposto pastor ou o que quer que fosse aquele sujeito, cantava uma moda evangélica no cadafalso que ficava de costas à banca de revistas da Lurdes (que abominava fumantes, ou seja: abominava-me), quer dizer,era um pequeno palco surrado que havia ali e era o centro de eventos religiosos undergrounds da região. “Ah, espero que valha a pena, ou pelo menos umas boas risadas, ou, por que não?, uma boa foda mais tarde”, pensei, quase me permitindo sorrir ao lado de Téo.
Ainda muito sorumbáticos, atravessamos a Brasil e seguimos em direção à catedral. O sol estava alto, o relógio do HSBC marcava agora três horas; podíamos ouvir ainda pedaços inarticulados de voz do mensageiro de Deus.
Não precisei fazer mais tanto esforço na tentativa de imprimir um maior clima de tensão ao que hoje de manhã eu havia planejado.Conforme caminhávamos e aumentava o calor e assim me lembrava dos óculos esquecidos, minha face ganhava gradativamente um ar de alguém que está para cair em prantos. Continuei com as mãos nos bolsos caminhando com a taciturnidade de uma freira, sem nenhuma palavra dirigir ao pobre Téo, que me olhava inquisitivamente com o canto dos olhos enquanto eu alternava meus trejeitos, apresentando ora minha devoção de freira, ora minha famigerada fisionomia de puta aposentada que acabara de extrair um dente em algum dentista de confiança do Pinga Fogo.
O bar do Zulu estava às moscas; senti certo alívio em constatar isso. Mesas de sinuca cobertas e cadeiras de lata enferrujadas e amarelas fechadas. Ouvia-se uma gota que caía do teto nos fundos. Sentamos ali num daqueles bancos puídos de madeira apodrecida que se contrapunham ao balcão de mármore de Zulu e que este parecia se orgulhar e esperei que GZ (Grande Zulu) aparecesse.A cabeça branca e avermelhada do Grande Zulu surgiu dos fundos; trazia um engradado nas costas e um pano sujo nos ombros; fedia nas axilas como de praxe, assim como é natural o cheiro de peixe na beira do rio. Não importava, ali tínhamos uma boa alma e um dos raríssimos lugares remanescentes da cidade onde ainda podíamos fumar. Fumar, como cantam os pássaros azuis insanos: Fu-u-u-u-m-a-r... Fu-u-u-u-m-a-r... o-arrrrr...
Eu pedi uísque depois que o cumprimentei. Téo preferiu cerveja.
Olhou-me aturdido e muito diligente. Na verdade, assustadíssimo.
- Seguinte Téo… - comecei, mantendo a calma e a seriedade de uma juíza americana. – Não tenho tempo para pormenores, queridão. De qualquer forma, é desagradável. O que queria te dizer é que, pelas minhas contas e o azul dos testes, tô grávida cara! O filho é teu! Sim, sim, sim, Teozão.
É claro que por um momento ele ficou surpreso.
Um observador atento diria que sua fisionomia assemelhava-se a de um motorista que sente o pneu furar a meia quadra do portão de sua residência. Uma mistura de surpresa e felicidade. “Sabe, o pneu furou e isto é um azar. Mas e se estivesse eu a quilômetros daqui?” O mesmo que: “bem, vou ter um filho, mas pelo menos a mãe não é aquela mostrenga oriental que transei terça feira passada no depósito da firma”.
Esperei duas dúzias de segundos silenciosos antes que o nobre pai da suposta criança sorrisse como ela própria um dia sorriria se de fato existisse. Eu tinha em minha frente um sujeito feliz e não era justo. Ora, quem aos 23 e morando com os pais ficaria feliz em descobrir que engravidou uma pessoa que nem sequer é sua namorada? Eu não sou sua namorada, homem. Eu preciso de uma!
- Puta que o pariu, Téo! Como pode estar feliz, homem?
- Um filho teu! Um filho teu! Um filho teu!
Repetiu isso por dois minutos inteiros. Sorria tão alucinadamente que por um momento pensei que o canto de seus lábios racharia ou, de qualquer forma, sangraria ele por algum orifício do corpo; parecia uma eternidade! Bebia goladas da cerveja e repetia, sempre sorrindo: “Um filho teu, um filho”…
Acendi um cigarro.
Téo se levantou e passou as mãos frenéticas pelo cabelo repetidas vezes. Não conseguia parar de sorrir enquanto me olhava, fascinado. Não tinha palavras, o embevecimento desafinara suas cordas vocais. Deram manga aos bois e os bois estavam famintos. Parecia mesmo um cachorro quando o dono chega de viagem. Tentei dizer que só quis lhe fazer uma brincadeira idiota e que estava tudo bem, era apenas uma peça que estava pregando por seu eu um produto burlesco que vendiam no mercado do humor-negro, não existia filho nenhum e tudo voltaria ao normal.“Era pra ele ter ficado puto, não”...
Téo pediu outra cerveja e aparentemente sem ouvir me abraçou, abanando o rabo.
- Téo, ouça…
- Um filho teu! Um filho teu! Um filho teu!
- Cale-se, homem! Não há filho nenhum! – esbravejei, muito contrariada.
- Um filho teu… Um… O quê? Não há filho?…
- Não, não há prole nenhuma, irmãozinho. Só quis zombar de você, man. Anda, beba sua cerveja, só quis zombar, compreende?
- Não deu certo, Vistosa. Não deu certo não. Oh Deus, não deu mesmo, não deu certo mesmo. Zulu, abre outra Zulu.G-r-a-a-a-a-n-d-e Zu-u-u-u-u-l-u!
Virou de um gole o restante daquele líquido amarelado e, agressivo, retirou um pequeno pacote de amendoim salgado do suporte.
- Põe na conta, GZ.
Assim era como me chamavam desde criança: Vistosa. Estava no meu registro e tudo: Poliana Vistosa Paes. Ou, como na adolescência: POLIVISPA. Com um nome desses, era natural minha grotesca criatividade. Vistosa superava ‘Zulu’. É como nascer linda, mas não controlar os frequentes ataques de flatulência. Se alguém a chama de “vistosa” no intuito de te elogiar, vá lá… Mas ser registrada!? Ai de mim!
Bem, eu não estava grávida. Sete bilhões de pessoas no mundo, que diferença faria? Uma mulher também pode ser engraçada.
Téo estava silencioso agora; certamente magoado.
Tolo de merda mesmo.
Abracei-o.
- Não fica assim Teozinho. Mamãe deixa cê dormir com ela hoje, tá bom? Mamãe promete.
Bebi meu uísque com soda e já começava a ficar saturada daquela contraproducente história e intimamente indagava se era possível - com tal disposição de espirito e um nome tão formoso -, eu não conseguir nem mesmo apavorar um homem com a ideia de uma gravidez indesejada. Eu deveria estar feliz, diria minha mãe. Fiquei um tempo olhando o movimento de uma mosca que patinava na borda de um copo sujo e desafiei Téo para um combate mortal no fliperama, só pra quebrar um pouco a tensão daquela idiotice. O fato é que eu não me convenci e lembrei também ser eu uma pessoa decidida e não desistiria assim facilmente de tentar fazer alguém chorar por ser pai do meu filho fictício. Perdi três quedas combatendo como Sombra que lutava contra o pop star Ryu. Se eu gostasse de loiros, era bem possível ter chegado à vitória com o Ken, mas não sei se teria alguma importância.
- Vamos embora, Té-té. Já estou um pouco alta. Sim homem, alta-alta, farta também... Calor e o uísque, eis o que nos dá asas, não aquela merda de RedBull.
Ele poderia ter silenciado, mas caçoou, com certo sucesso, pois no final das contas, mostrei-lhe alguns dentes amarelos:
- Ou talvez, uísque e RedBull, hein?
- é, é. – Grunhi.
Então deixamos o bar depois de pagarmos algum dinheiro ao admirável, senil e fétido Zulu, e lá fora o sol já ameaça nos deixar também.
Repentinamente alegre e conversador diante da confusão de pessoas que caminhavam pelas ruas, Téo insisti:
- Não conseguiu ganhar no flíper de mim hoje, não é mamãe? Pelo menos até agora só perdi um filho. Um filho teu, um filho teu, um filho teu...
Estávamos um pouco eufóricos devido ao álcool e a ideia de sacanear alguém ainda não me havia abandonado completamente. Aproximava-se das cinco horas e grandes pombos selvagens revoavam em pares depois de se deliciarem com qualquer coisa que os transeuntes deixavam cair nas calçadas da Catedral. Outros voavam baixo enquanto entediados motoristas esperavam o sinal abrir. Um guarda de trânsito nada romanesco apitava tresloucado com seu apito babado tentando organizar as toneladas de ferro com rodas de borracha que se amontoavam pelo cruzamento movimentado da Brasil. “Um guarda”, pensei. “Arma de fogo... Sim, armas de fogo. Preciso de uma”.
A primeira coisa que fiz fora perguntar a Téo se havia como (apelando descaradamente para nossa amizade incontestável e a promessa de um coito maravilhoso) ele me ajudar em uma grande empreitada. O pai dele possuía uma arma. O pai do pai de meu filho imaginário fora policial e agora estava aposentado, inoperante, mas sobre a escrivaninha da liberdade e diante do estandarte da defesa particular, repousava essa ponto 40 que poderia facilmente matar você mesmo com uma vantagem de 240 segundos de correria constante. Eu estava feliz. Talvez a vítima morresse sem que, é claro, usássemos a arma. O nome dele era Rigomar (o que talvez me causasse certo conforto em relação aos meus sentimentos com meu próprio nome) e era um bom amigo. Um amigo que considerei íntimo o suficiente para agir sem receios e mais que suficientemente sereno para ter qualquer reação despropositada que não soubéssemos de antemão.
Foram três mensagens enviadas em seu celular enquanto caminhávamos, Téo e eu, em direção ao apartamento de seu pai que possuía uma arma e daqui a pouco pegaríamos escondidos.
1 mensagem:
“Rigo, preciso falar com você.
preciso falar muito seriamente com você.
Tá em casa?”
2 mensagem:
“Sim, é muito urgente.
espero que você esteja bem alimentado.”
3 mensagem:
“Desta vez o pássaro voou longe.
Você precisará confiar em teu pombo, homem”.
Assim, enquanto caminhávamos, é claro que também gargalhávamos muito, tipo: há, há, há, há. Uma ou duas vezes, furtivamente enquanto caminhávamos em direção ao terminal, me deparei com Téo se equilibrando no meio-fio. TCCC era o nome da empresa de ônibus que nos levaria à casa do primeiro papai e que agora já não me parecia muito feliz. Eu disse que ficaria tudo bem. E outra: o que tínhamos pra fazer hoje? Ora, o que tínhamos Téo? Nada! Eu gostava muito desse sujeito e ele, se dando conta de tal fato, retribuía também esse amor. Começamos a transar não havia dois meses. Nada muito sério, amizade e penetração. Uma novela! Talvez devido a minha superioridade em relação ao desprendimento, Téo queria aprender qualquer coisa comigo. Dizia amar meus desenhos e que, quando estivéssemos já idosos, fumaríamos um pouco de erva todos os dias na casa que ele construiria no bosque para se refugiar da sociedade. Téo era estranho.
- Não deixe que teu pai o veja, homem.
- Eu conheço bem o lugar - respondeu ele, sarcástico.
- E Téo, veja: se não conseguirmos sacanear o Rigomar, que tal tu encenar um assalto na farmácia da minha tia Jô?
- Sim, assaltar uma farmácia! Matar a tia. Roubar camisinhas. Vá à merda Vistosa!
Esperei do lado de fora. Eu estava desejosa de uma nova bebida. Fui até um pequeno bar que havia perto dali e comprei um litro de conhaque. Rigomar adorava conhaque. “12 paus bem gastos”, pensei. O portão estava aberto e um carro saía da garagem do edifício Cruzeiro quando voltei. Era Téo. Iríamos de Uno, bem unos. Papai dormia e a arma estava já no porta-luvas. Acendi um cigarro e dei uma golada federal no litro.
- Ué Téo, vai parar em tudo que é sinal fechado agora? Tu é mesmo um... Um... Um amor de homem, é claro, um homem armado é um amor.
Quando chegamos à residência de Rigo, meu amigo – que uma hora dessas devia estar procurando no Google algum Deus moderno que o ajudasse sem muitas exigências -, havia apenas a luz da sala acesa. A porta estava já aberta e antes que Téo desligasse o motor Rigomar já estava abrindo o portão e nos olhando.
Descemos.
- Entrem, entrem – disse logo ele. – Vamos beber alguma coisa, ou fumar outra e conversar. Sim, vamos conversar. O que há, hein? Mensagens tão diferentes as tuas, Vistosa!
- Já tenho o meu gole – disse eu. – E... é claro que você vai precisar dele também.
Passei-lhe a garrafa. Ele bebeu um grande gole. Estava quase no fim agora. Téo ainda estava no carro, porque combinamos que era melhor ele ficar um pouquinho ali, imprimindo uma maior seriedade ao projeto.
- Vamos entrando, vamos entrando Vistosa. Chame o Téo. A casa é de vocês, ora. – Téo abriu a porta, vagaroso, como combinado.
No sofá, deitada e vendo Tevê, Tales (mulher de Beto, irmão de Rigomar e que ali morava também).
- Melhor seria se tivéssemos nós uma conversa particular, Rigo. Uma conversa particular eu acho melhor, sim – eu disse.
- Sim, claro. Tales, com licença uns minutos?
Muito a contragosto, ela se levantou, espreguiçou-se e deixou a sala. Téo sentou-se a meu lado e meu amigo atordoado, à nossa frente.
- Seguinte Rigo… - comecei, mantendo a calma e a seriedade de uma juíza americana, assim como fiz com o Teozinho e ainda, repetindo cada palavra. – Não tenho tempo para pormenores, queridão. De qualquer forma, é desagradável. Eu quero te dizer que, pelas minhas contas e o azul dos testes, tô grávida cara! O filho é teu! Sim, sim, sim, Riguinho.
Com os olhos cheios de lágrimas, Rigo nos mostrou os dentes. Ele estava sorrindo! Não era possível. Eu fiquei realmente muito decepcionada comigo. Continuei brava e Téo, idem. Quietinhos e assim muito compenetrados, tínhamos a convicção de que dali eu não sairia sem um pai aterrorizado.
- Mas... impossível! Como poderia eu...
- Como poderia você o quê? Na hora de me embriagar ninguém se importa. Na hora de me levar bêbada pra cama, ninguém se importa! Abusam de minha inocência e confiança pra depois fugirem das responsabilidades como é natural aos seres corruptos e sem vergonha deste país. Tu, sim, engravidou-me, homem! Arque com as consequências!
- Mas... impossível! Como poderia eu...
- Como poderia eu...Como poderia eu...
É preciso esclarecer algumas coisas sobre essa fala incessante de “como poderia eu”. O fato é que não praticamos o coito. Não copulamos uma única vez. Eu nunca estive embriagada a ponto de ser levada para cama por Rigomar (por Rigomar). Aqui, então, é que estava a graça da coisa.
- Precisamos nos entender, ou não, Rigo. A escolha é sua. O filho é seu!
- Como poderia eu...
Então Téo se levantou como combinado. Deu alguns passos silenciosos de um lado para o outro do recinto e voltou a sentar, olhando louco de raiva para a fisionomia espantada e chorosa.
Téo quebra o silêncio:
- E agara, hein? O que vai ser? Você sabe quem eu sou ou que sou capaz de fazer? Não, não, não, se soubesse estaria no aeroporto agora, fugindo.
- Acalme-se Téo. Você prometeu.
- Oh Deus... Como poderia eu...
- Para com essa merda homem! “Como poderia eu”... Assuma tuas responsabilidades e aceite o seu destino.
Rigomar se pôs a chorar. Terminei o gole e me levantei. Fui à cozinha e muito lentamente, sempre o olhando com severidade. Abri a geladeira e ali havia uma latinha de Conti solitária. Um horror de cerveja. Abri a latinha e voltei, satisfeita, ao sofá.
- Minha paciência com esse cara vai se acabando, Vistosa. Minha paciência não pode aguentar por mais muito tempo. E agora, rapaz, hein, o que vai ser? Confesse; assume; pague; ou a morte lhe será certa, porra. Não duvide mim!
- Acalme-se Téo, querido. – disse eu, amorosa.
- Estou calma Poliana, estou calmo, nem me queira ver nervoso, mulher!
Meu verdadeiro parceiro de coito retirou da cintura a arma. Hmmm, que belo dia e que belo momento! O rosto de Rigomar estava coberto de lágrimas quando ele retirou suas mãos da cara. Olhou perplexo para a arma. Então é claro que voltou a chorar descontroladamente e agora nem falar conseguia mais. Era um choro alto, desagradável e ótimo, porque agora eu poderia gritar.
- Cale essa maldita boca, homem! Cale por mim, uma mulher frágil e grávida. Cale por Téo, um namorado maravilhoso e honrado. Cale pelo filho que trago em meu ventre e que trás o seu sangue!
Um silêncio comovente pairou sobre o cômodo. Escutamos o riscar de um fosforo que acenderia o cigarro da cunhada de Rigo, que estava lá fora, certamente desconcertada e sem nada entender. Teozinho começou então a bater impaciente os pés no chão e dizer repetidas vezes, sempre segundo a arma: “e então, qual vai ser, hein?” Eu, fingindo um desespero repentino, digo:
- Por que trouxe essa maldita arma, Téo? O que há com você? Guarda logo, cara. Guarda logo!
- Esperem! – gritou Rigo, perdendo a razão. – O filho talvez seja meu sim, confesso. Assumirei a paternidade. Eu sou sim o pai desta criança, claro.
- Você é uma besta! Merece ser jogado aos tubarões. A humanidade não precisa de sujeitos como você. Poliana, o que vai ser, hein? – sempre chacoalhando a arma – o que vai ser, hein? Eu não vim até aqui pra não ver sangue.
- Acalme-se – pediu Rigo, temeroso de perder a vida sem antes conhecer a França. –Tomaremos todas as providências possíveis. O filho terá um pai e este serei eu. Um pai que amará o filho como uma mãe. Pode ser? Um abraço todos os três, o que acham?
- Acho que vou te matar agora mesmo. Zomba de nós, é isso? Poliana, escuta: mato agora ou torturo primeiro?
Levantei abruptamente. Fui em direção a arma e a tirei das mãos de Téo. Rigomar me olhou e sorriu, satisfeito. Disse “obrigado Poli” e se levantou. Eu estava alta. Eu já não sabia o que estava fazendo ali. Olhei-o nos olhos por um instante enquanto segurava a arma e ele se encaminhou em minha direção, como se me fosse abraçar.
- Um minuto, Rigo. Quem irá matá-lo sou eu. – Apontei-lhe direto na cabeça e a apertei o gatilho.
...
É claro que não havia balas na agulha. Quando apertei, ela só emitiu um barulhinho ridículo e inofensivo tipo “plac” e nenhuma bala explodiu o cérebro de meu querido amigo. Assim, passado o susto e revelado a verdadeira história, convenci logo os dois a perdoarem o constrangimento e me ajudarem a realizar a fantasia de engravidar simultaneamente de pais diferentes. Todos ficariam felizes e eu um pouco mais relaxada. Eu estava alta e o dia fora longo. Não havia filho. Nem pai. Rigomar me considerava uma grande amiga, mas achou de péssimo gosto tal brincadeira. Só o sexo pagaria a dívida que contraíra eu dele. Ah, pelo amor de Deus, é preciso saber fugir da rotina às vezes.
Fomos ao quarto e começamos a trabalhar.
Só estávamos nos divertindo.
Quando os dois papais exaustos dormiam, babando cada um em um ombro meu, ouvi por cima do barulho da Tevê, a voz de Beto, irmão do Rigo, gritar:
- Tales! Quem bebeu minha conte? Quem bebeu Tales? Eu bem avisei, sim, eu bem avisei.
Plá-plá-plá!
Três tiros foram disparados e eu estava com medo de sair debaixo das cobertas.