Carma

Já passava das dez da manhã, quando Alex acordou. O sono dos dias inquietos enfim chegara e desfrutava de um bom descanso antes de labutar novamente. A pauta daquela semana interminável atormentava os seus sonhos, uma vez que discordava da ideia de escrever uma matéria sobre golfinhos em uma cidade eminentemente cerrada como Alasbetra. Seu chefe achava uma boa ideia. Alex, não. Contudo, estava na empresa somente há três meses e precisava mostrar serviço para ser contratado. Vida difícil não?

“Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, assim dizia seu amigo e colega de profissão Ederson. Muito embora parecesse mais uma conformação do que uma sentença, Alex preferiu seguir essa ordem, afinal precisa pagar o aluguel...

No entanto, aquela semana estava simplesmente insuportável. Procurar por aquários em toda Alasbetra tinha sido uma causa de tremendo estresse. Já não aguentava mais rodar a cidade toda procurando profissionais dedicados a essa área. Começava a pensar que poderia ser muito mais, afinal sua área preferida era fazer reportagens de risco, como a cobertura de terremotos, incêndios ou o fogo-cruzado entre polícia e ladrões. Felizmente, seu pesadelo começava a encontrar um fim, especialmente quando encontrou Finnegan, o treinador de golfinhos. Nesse momento, Alex encarnou um verdadeiro ator para fingir interesse:

- Olá, boa tarde. Eu me chamo Alex e trabalho para o Roteiro Diário. No momento, estou entrevistando treinadores de golfinho para uma matéria no jornal. Poderia falar com você?

- Claro o que você quer saber?

- Há quanto tempo trabalha com golfinhos?

- Dez anos.

- Quais são as suas principais funções nesse trabalho?

- Bem, eu alimento e limpo os golfinhos. E a cada três meses, eu limpo o aquário junto com mais treinadores.

- Como é feita a seleção dos golfinhos que vão se apresentar para o público?

- Nós treinamos todos eles para se apresentar. Aqueles que apresentarem o melhor rendimento nos treinos são os que escolhemos para se apresentarem ao público.

- E faz sucesso?

- Olha... Ultimamente, não. O público anda meio escasso, mas creio que seja só uma fase.

- Pra finalizar: você gosta da sua profissão?

- Não me vejo fazendo outra coisa.

- Grato pela atenção, tenha um bom dia.

- Bom dia.

Finalizada a matéria, Alex corre até a sua residência para editar. Alex tinha pressa, pois com essa entrevista já dispunha de muito material para publicação, motivo que tiraria isso da cabeça do seu chefe. Contudo, o passar das horas ao invés de dar tranquilidade o angustiava, porque percebia que a matéria estava ficando muito boa, motivo que levaria seu chefe a continuar com essa pauta. Tinha que “acertar” a dose: nem tão boa pra não ter que ser ampliada, mas nem tão ruim para não ser refeita. O que fazer? Com todos aqueles dados a sua disposição no meio do seu desespero Alex se sentia um verdadeiro “alquimista”.

Tira, mexe, coloca, retira. Toda essa dinâmica, de início irritante, começa a ficar divertida. A cada fala e opinião que lia e ouvia, tentava selecionar a dedo o que levar para publicação. Ao final de dois dias, enfim finalizou a matéria. Faltava levar até o chefe e ouvir o seu aval final. Surpreendente seu chefe gostou na “medida certa”, ou seja, não pediu a ampliação da matéria. Mas, como nem tudo são flores, o próximo trabalho de Alex será investigar o trabalho de apicultores. E a cabeça já começa a estourar de novo....

Andarilho das sombras

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 08/11/2013
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