CONTRASTE

No seu pensamento de criança, Judith não conseguia ver outra coisa a não ser o pequeno Toco, seu cachorro, deixado no quintal rachado do sertão da Paraíba.

O ônibus que trazia sua família seguia pela estrada depois de três dias de viagem. Aos poucos São Paulo se descortinava. Judith repousava no colo de Maria, sua mãe, num silêncio que expressava mais que qualquer palavra.

Preocupada a mãe apontou para alguns prédios, mas a menina não reagiu. Via tudo diferente e sentia saudades: Do pé de jaca; Saudade dos amigos; Saudade da estrada que corria e Saudade de casa. Não conseguiu segurar mais e chorou.

Sem saber o que fazer, Maria abraçou a filha que num repente apontou a mãozinha para uma cena que acontecia na calçada: Um homem conversava descontraído, enquanto segurava uma mangueira de onde jorrava água que lentamente corria para o ralo. Depois de alguns segundos a Judith propôs:

- Mãe, vamos pedir pra aquele moço guardar a água que ele não precisa pra nós e vamos voltar pra casa.

A mãe, também sem entender a cena, procurou uma resposta, mas não encontrou.