FOI O BÔTO!
Aconteceu num lugarejo cujo nome não fora citado. Era noite de lua grande e num determinado lugar ia acontecer uma festa em homenagem a determinado santo. As pessoas do lugar arrumaram a casa onde ia dar-se a festança, todos trabalharam com afinco, pois a casa deveria estar pronta para receber autoridades do local, cujas pessoas seriam: O prefeito e sua primeira dama, o padre, o médico e o doutor advogado. Às demais pessoas eram todos moradores deste lugarejo e haviam sido convidadas. A festa começou por volta das oito da noite, e o dono da casa seu José mais conhecido como seu Zé, recebia bem seus convidados, todos eram conhecidos e o estimavam por sua bondade e atenção. Seu Zé era um homem simples apesar de ser o homem mais rico de toda aquela região, mas forte e determinado, era o pai da moça mais bonita do local a jovem Dessanna. Ela beirava os dezoito anos, tinha olhos de lua cheia, pele alva e longos cabelos negros como a asa da graúna, como noite sem luar... E todos os rapazes sonhavam em um dia tomá-la por esposa. Seu Zé tinha todos os cuidados com a única filha, pois era seu maior tesouro. A festa já ia longe a altas horas, todos comiam e bebiam alegremente depois do discurso feito pelo senhor prefeito e demais autoridades, ninguém tinha pressa, moravam perto e quem morava longe tinha meio de locomoção como carroças, canoas e cavalos. Só o doutor advogado e o médico é que tinham um automóvel tipo Rural. Dessanna vestia um vestido simples preto de alças e que deixava a mostra o corpo fino e delgado, tornando-a ainda mais bela e vistosa aos olhos dos rapazes do lugar. Dentre eles tinha um que Dessanna olhava com olhos que o enfeitiçaram desde a primeira vez. Era Leonardo o filho do médico, ele estava a passar uma temporada com os pais já que estudava e morava na capital. Os olhares dos dois jovens chamou a atenção dos pais da moça que começaram a se preocupar, pois Leo como era chamado era praticamente um jovem da cidade grande já que havia ido para a capital ainda muito cedo. Mas não havia maldade nos olhares e sim um sentimento mútuo que começava a nascer entre os dois jovens. Já passava da meia noite quando todos se viraram em direção à porta de entrada, pois um homem alto de pele morena olhos mais negros que a noite, de traços fortes e decididos adentrou a sala da casa grande. Ele trajava um paletó branco estava impecável e todas as mulheres do local exatamente todas, se voltaram para o estranho que parecia não tocar o chão tão grande era sua imponência. Dirigiu-se com extrema educação ao dono da casa, cumprimentou-o com um forte aperto de mão que seu Zé sentiu estremecer a alma, pois aquele moço não era daquele lugarejo, lá todos se conheciam e ninguém sabia quem era aquele homem de beleza descomunal. Percebendo que todos o olhavam com admiração o estranho apressou-se em apresentar-se, pois sua presença indesejada estava causando murmurinhos. Ele estava passando de volta para casa quando ouviu a música e resolveu parar, pois era um rico fazendeiro que estava mudando para a fazenda próxima que ficava a alguns quilômetros de distância daquele local. Todos acreditaram na história contada pelo forasteiro e rapidamente tudo voltou ao normal, à festa continuou com a música e o comes e bebes. Num canto da sala Dessana conversava com Leo, vigiada pelos negros olhos de dona Pequenina como era chamada a mãe de Dessana. E o estranho envolvia a todos com seu charme e candura, mas observava de longe a moça linda que era o encanto maior da festa. Num rápido descuido de dona Pequenina o desconhecido aproximou-se da jovem e jogou seu encanto o que a deixou radiante diante de tamanho galanteio, a moça sorria e mostrava-se inebriada, deixou Leo para o canto , o que o entristeceu profundamente. Tocou-lhe as mãos e esta sentiu o arrepio por todo o corpo e já não escondia de mais ninguém que parecia estar apaixonada pelo jovem belo e desconhecido, só tinha olhos e sorriso para ele, que a tomou pelas mãos e saiu do recinto sem que fossem percebidos lá fora na noite escura a lua brilhava no céu como se soubesse o que estava para acontecer. Eles caminharam até a beira do rio e de repente ele a envolveu nos braços fortes e a beijou num longo e apaixonado beijo de amor. Pronto! Foi o sulficiente para a pura e inocente jovem desfalecer de paixão, uma paixão avassaladora e mortal. Ele a tomou pelas mãos e suavemente deslizou rio adentro deixando-se levar sem o menor esforço. Depois daquele dia nunca mais foram vistos, desaparecendo nas águas negras do Amazonas e nunca mais ninguém os encontrou. Houve procura durante muitos dias, mas nunca foi encontrada, nem ela e nem o jovem desconhecido, todos choraram a sua perda, pois sabiam que ele era o boto que encanta as jovens e as leva para sua morada deixando desconsoladas as famílias. Portanto quem tiver filha moça, guarde não descuide para o bôto não se aproximar... Foi bôto Sinhá, foi bôto Sinhô, que veio tentar e a moça levou, nota dançará aquele doutor, foi bôto Sinhá, foi bôto Sinhôôôôô...
**A beleza da vida consiste em criar e acreditar nas palavras...
Por Neyde Silva