O ratinho de carretel
Dia de feira era uma festa em Alagoinha. Tinha de tudo, as pessoas aproveitavam para fazer as compras da semana. Toda véspera Mãe ficava contando o dinheiro e resmungando:
- Amanhã vou fazer a feira. Preciso contar esse dinheiro, senão não vai dar pra comprar o que eu quero.
Eu acompanhava Mãe à feira, e logo comecei a entender o valor das diferentes moedas de dinheiro. Também divertia-me experimentando a farinha como os adultos. Era de praxe essa experimentação: pegava-se um punhadinho com a mão e arremessava-o à boca.
- Essa é da boa!
- Tá muito torrada!
- Parece feita de pedra!
Eram muitos os diagnósticos da farinha, e era muito divertido. De vez em quando havia discussões:
- Tu é que nem sabe o que é farinha! Nem experimentar direito sabe! Em vez de acertar a boca jogou tudo no nariz! Tem que provar com a boca, não com as ventas!
- Tua mão é que tava suja, o gosto ruim é da sujeira! Fica pondo a mão na buzanfa, dá nisso!
- Tá dura porque tu é desdentado!
Um dia vi uma coisa que me encantou. Ratinhos feitos de papelão, que tinham um carretel embaixo com um elástico. A gente puxava um fio de linha, e quando soltava o bichinho corria ligeiro alguns metros. Igualzinho aos de verdade. Quis ter um e examinei os bolsos. Achei uma única moeda.
- Quanto é, moça?
- É vinte…
Olhei para a moeda. Dez! Olhei para o ratinho, e novamente pra moeda, e de novo para o ratinho. Um nó formou-se na minha garganta e, derrotado, balbuciei:
- Só tenho dez…
Saí desconsolado caminhando pela feira, lágrimas nos olhos. Tinha me perdido de Mãe, mas não importava. Queria ir para casa, a feira já não tinha graça, eu não podia ter meu ratinho…
Estava quase saindo da feira quando uma menina veio correndo até mim.
- Espere! A moça dos ratinhos mandou esse pra você. Ela faz por dez.
Dei a moeda pra menina e saí correndo para casa, feliz da vida com meu ratinho de carretel.