O JUSTICEIRO (TRILOGIA)
'O JUSTICEIRO (TRILOGIA)'
O MARGINAL BELMIRO - Às escuras! Assim é bem mais fácil - pensou... Desceu da moto, atravessou a rua e, como um androide-tirano vai atrás da Maria, sua presa... A VÍTIMA - Maria saía de uma lotérica onde costumava transferir a 'mesada' do seu filho único, Felipe, que cursa Direito na Federal. As despesas com hospedagem e refeições cada mês tinham aumento e Maria anda às voltas com incontáveis cálculos, visando adequar suas contas à pensão alimentícia do marido, morto há cinco anos. Maria pensava na cara-de-pau dos apresentadores de tv a divulgar índices inflacionários abaixo de um dígito, quando a realidade é bem diferente. O leite dobrou de preço, o pão, os alimentos, enfim, tiveram altas absurdas enquanto salários e pensões não passam de pequeno consolo que o governo impõe ao cidadão - pensava ... Maria não entende o porque de tanta enganação do governo, Mas como 'política é a arte de enganar'... Ela meneia a cabeça e murmura para si mesma: 'qual, bandidos'!...
O MARGINAL - Edmundo vê sua vítima do outro lado da rua. Espera um pouco e, quando ela se aproxima, dá voz de assalto: - A bolsa, minha tia, vamo, vamo e, ato contínuo, arranca a bolsa da mão de Maria que tenta segurá-la. Irritado, ele atira em seu rosto, desfigurando-o... Ouve-se um segundo disparo e o marginal, com a nuca atingida, cai sem vida por sobre a moto que desaba no asfalto...
O ATIRADOR - Belmiro aposentou-se da PM aos cinquenta anos em função de um trauma violento que quase tira sua vida, em confronto com traficantes. Passou dois anos e meio em tratamento psiquiátrico, voltou à corporação, mas foi para a reserva com um posto acima, o que lhe rendeu proventos de sargento. Em consequência disso, passou a usar remédios para hipertensão e convulsões, os tais tarja preta, vendidos apenas sob prescrição médica e receita azul. Medicado, leva vida normal e através de amigos, conseguiu um bico como segurança de um supermercado no bairro próximo à sua residência. Para ele foi bom. Trabalhava seis horas por dia, em turnos. Uma vez por outra fazia hora extra e até dobrava os plantões para cobrir algum colega que falta. Nem precisa dizer que o cara é bom de bola, digo, de bala. Sua pontaria sempre esteve a cargo da Lei. Ao sair do plantão, viu o marginal atirar na idosa e não perdeu tempo: sacou o tresoitão e mandou ver. A uma distância de quinze metros, acertou a nuca do vagal. - Esse não assalta nem mata mais... suspirou. Entrou no seu fusquinha e como era uma sexta-feira calorenta de verão, foi no bar da esquina da sua casa tomar uma cervejinha e assistir o noticiário da TV Record. - Ah, o Marcelo vai mandar ver!...