EDUARDA

Aqui vou lhes contar uma história tão urgente quanto a própria vida. Talvez vocês esqueçam dos seus detalhes com o tempo, mas lembrarão sempre que ela lhes foi contada.

Era uma vez uma mulher cujo nome era Eduarda e que era apaixonada por sua profissão. Tive o enorme prazer de conhecê-la, não sei se por obra do destino ou simplesmente porque deveria a encontrar. Passei ao seu lado e de alguns colegas, momentos incríveis, que, infelizmente, foram levados pelo ventania de uma louca tempestade. Uma tempestade de passa por mim todos os dias. Mas creio que essa coisa de esquecer não aconteça só comigo. Creio que com o tempo e a rotina estressante as nossas memórias vão dando lugar à outras memórias, e outras, e outras, e mais outras, e assim sucessivamente. Creio também que isso não seja a toa... E, assim como as lembranças, pessoas e coisas também brincam de mar na nossa vida. Claro que existem aquelas que vão e vem todos os dias, e aquelas que vem e vão para nunca mais voltar. Porém, o mais importante disso, é que sempre haverão lembranças. Sempre terá uma coisa ou outra daquela pessoa que passou por nós, que ficará marcado, como aquele sinal de nascença que só sairá dali com tratamentos rotineiros.

Mas a querida Eduarda deixou para mim além de amor, uma lembrança: de que ela é um ser humano ímpar. Um ser pequeno de tamanho, mas de uma grandiosidade de espírito ímpar; de amor incondicional ímpar; de caridade ímpar; de coração ímpar. E, por isso, acho que jamais encontrarei uma igual. Parecia que ela nem vivia nesse mundo ruim, onde as pessoas matam, roubam e são possuídas pelo rancor. Assemelhava-se mais com aquelas imagens de anjos com cara de coração puro e sereno como as rosas, que vem à Terra só de vez em quando para fazer a vida dos humanos mais leve. Ela era incrivelmente diferente de todas as pessoas que já encontrei...

Essa é a única lembrança inteira que tenho dela. Todos os momentos que passamos juntas, como verdadeiras amigas, a rotina, tristeza e estresse levaram. Ficou apenas um riso descontrolado aqui e outro acolá. Um ensinamento aqui e outro acolá. Uma lembrança de carinho aqui e outra acolá. Mas ela sempre é e sempre será lembrada por essa minha memória programada para ser de curto prazo. Mesmo que em retalhos ela sempre estará presentes nos meus dias...

E como vocês devem ter percebido, Eduarda não caminha mais ao meu lado, como minha melhor e mais sorridente amiga. Entretanto, caminha em meu coração, nos meus sonhos, orações e nos meus dias de várias formas... ora transfigurada de anjo, ora de saudade, ora de ensinamentos e ora, apenas, de Eduarda.

Deixo aqui essa carta, na esperança de que, um dia, Eduarda volte trazida pela mesma ventania que a levou e leia suavemente minhas palavras de carinho.

Infelizmente, o tempo foi ruim comigo e logo, logo vai me tirar dessa cama de hospital e fazer com que eu não vente mais aqui.

Chiara Luz

Poemas de Gaveta
Enviado por Poemas de Gaveta em 27/10/2013
Reeditado em 27/10/2013
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