A ÁRVORE TORTA
A árvore torta.
Quem passa pela minha porta e vê aquela árvore, lembra-se do ditado "pau que nasce torto, não tem jeito morre torto". É, algum filósofo ou intelectual, deve ter dito de primeira mão este ditado popular.
Dar-lhe razão, é provável que se caia em lugar comum, mas desta árvore minha conhecida de muitos anos, tem outra estória.
Lembro-me bem, como se fosse ontem, estes vinte cinco ou mais anos que se passaram. Conversava eu com o Sr. João, jogando fora mais um “dedo de papo”, quando na portada da garagem da minha academia, alguns veículos envolveram-se num acidente. Daí a minutos, o burburinho formava-se em nossa porta, mulheres falando alto, algumas muito nervosas, outras nem tanto, um pouquinho só. O trânsito enlouquecia-se frenético ao aproximar o horário do "rush". Incrível horário do meio dia, costumo chamá-lo também de "passa fome".
Dentro do buzinaço barulhento e dos "tititis" das comadres e nós, compadres da redondeza, notei que um ônibus da HP, arriscava uma manobra ousada. Até parecia que ele estava meio bêbado, ou o que me parece também meio cheio de bêbado. Subiu no meio fio, arrastou o pequeno arbusto, bêbado, passou para a pista da conta mão, buzinando e com os faróis acesos, rompeu os contra fortes da Rua 15, onde novamente voltou a mão, descarregando ali alguns bonecos, automaticamente catando outros.
A árvore, ou melhor o arbusto, ficou ali na ilha, sua morada, rastelado, juro se tivesse sangue, agora estaria jorrando, mas ficou imóvel como a sua origem, aguardando o porvir de sua espécie.
O ônibus bêbado não, saiu desembestado pelas bandas da Av. T-8, ziguezagueando entre carros e motos, cumprindo o cansativo itinerário diuturno.
Acho eu que ninguém percebeu a desdita da árvore, não é mesmo? E para incomodar-se, o que é uma árvore torta para a humanidade? Nada de nadiquinha.
Só vejo em minha imaginação o "busão" bêbado da HP, fervilhando a rua de fumaça de óleo diesel, até chegar na praça final de linha, levando o seu radiante motorista para abastecer-se da pura branquinha, encontrada em todos os botecos circundantes daquele local público.
E a humanidade? Ninguém percebeu nada, uma geração depois, a pequena árvore é um robusto arvoredo torto da AV D, e o motorista nem mais se lembra da sua barbeiragem.
No tudo mais, vai bem obrigado.
Goiânia, 26/10/2013.