A ALEGRIA DA DOROTHÉA
A ALEGRIA DA DOROTHÉA
Dez anos de divórcio e a vida de Dorothéa sempre cheia de entusiasmo, de novidades e de esperança. Quando se divorciou foi mesmo um alívio, pois manteve um péssimo casamento por mais de duas décadas por puro medo da mudança. Eis que a mudança veio e para melhor. Durante o tempo transcorrido reviu pouquíssimas vezes o ex-marido, a quem carinhosamente chama de falecido. Mas eis que justamente no evento de lançamento do livro de seu melhor amigo na sua cidade natal, o falecido compareceu. Notou com certo desgosto que o tempo não maturou o tal, talvez porque tenha vindo diretamente do Tempo das Cavernas e seja muito difícil a adaptação em sociedade. O dito cujo continua o mesmo déspota egoísta. Cumprindo protocolos sociais, pois adora o holofote sobre si, porém o mesmo grosseirão egoísta, dono da verdade, e mantenedor do ‘ faça o que eu mando, não faça o que eu faço’ de sempre.
Dorothéa ali diante da criatura, o riso despontou solto, sem censura e se transformou em uma sonora gargalhada quando constatou sem sombra de dúvida que ele estava passando pela crise da melhor idade. Enquanto ri da situação conclui que o mesmo tingira os cabelos da cor das asas da graúna, mas por dentro continua o mesmo velho decrépito... tisc... tisc...