Fidelidade canina...
Fidelidade canina
(narrativa)
Lá pelos idos de 1970, em uma cidadezinha do interior de S. Paulo, morávamos (eu) meu pai e minha família. Éramos em 9 pessoas, meu pai, minha mãe e 7 filhos. Vivíamos felizes aquela vidinha sem alteração ou novidades das grandes cidades. A nossa rotina era acordar às 4:30 hs da manhã, e seguir para o trabalho, que em algumas ocasiões ficava retirado 7 ou 8 kilometros. Para ir trabalhar nós tínhamos que atravessar a cidade ao meio.
Ao por do sol fazíamos todo aquele caminho de volta, sempre a pé. Meu pai e meu irmão mais velho carregavam lenha para queimar, eu e minhas irmãs trazíamos as enxadas, a moringa d’água e cada uma, um saco com abóbora, ás vezes milho ou feijão, e assim levava-se o tempo. Lembro-me que íamos pelo caminho tagarelando, contando causos, rindo e todos brincando com o cachorro. Tínhamos um cachorro muito estimado. Seu nome era Camurim. Era um cachorro comum igual a todos os outros.
Trabalhando na roça, na lavoura de café, às vezes ao retornar para casa deixávamos as enxadas e a moringa d’água escondidas embaixo de um pé de café e íamos embora. Ao chegar em casa sentíamos falta do cachorro, logo chegava-se à conclusão que o mesmo teria ficado vigiando as enxadas. Quando retornávamos no dia seguinte eram confirmadas as nossas suspeitas. Camurim lá estava, havia dormido junto às enxadas. Á noite o cachorro saia pelos arredores para procurar o que comer.
Ao nos ver chegar de manhã cedo, vinha fazendo festa, abanando o rabo, saltando em nós e nos lambendo. Assim passava-se o tempo. Todos os dias, era dessa forma. Um belo dia, demos pela falta do cachorro. Estranhamos sua ausência, porém sabendo que sempre ele ficava cuidando das enxadas, nem nos incomodamos. No dia seguinte estava faltando alguém conosco.
Ao chegar ao cafezal fomos surpreendidos por um trágico acontecimento! Camurim estava morto ao lado das enxadas! Não foi tão difícil chegar à conclusão sobre sua morte. Ele tinha sido envenenado. Saiu para procurar o que comer, e deram-lhe comida envenenada!... Morreu vigiando as enxadas....Ficamos muito tristes! Foi uma terrível perda! Parece que morreu alguém da família! Sentimos muita falta do companheiro de todos os momentos! Ficou para nós a saudade e o exemplo de fidelidade do cão amigo e guardião, que sem pedir nada em troca, vivia para ser fiel...
Este texto faz parte da antologia: “PALAVRA É ARTE”, 25ª edição, 2013. Pg 91 CULTURA EDITORIAL Salvador - Bahia.
Arnaldo L. Pereira