Dupla dinâmica e uma noite de sexta
Um vírus e um parasita vinham caminhando madrugada adentro pela Domingos de Moraes. Não tinham mais de quinze mangos juntando os dois bolsos. Não estavam indo para lugar nenhum. Passaram por algo que parecia ser um pequeno prédio comercial e viram uma escada com uma luz vermelha fraca acesa lá em cima. Já haviam perdido tudo que tem para se perder. Aquele parecia ser o único lugar onde seriam aceitos. Subiram para conferir o ambiente.
O inferninho estava organizado no que seria a sala de recepção do dentista. Eram dois sofás grandes e gastos, um em cada parede. No fundo um projeto não concluído de bar com alguns espelhos quebrados. Não tinha ninguém lá além de meia duzia de prostitutas, dois cafetões e um brutamonte segurança. O brutamonte não tirava o olho deles desde que pisaram no primeiro degrau. Estava tocando a música do Ghost e duas garotas dançavam bem juntinhas. As outras riam alto com os cafetões num canto. Eles sentaram na outra ponta e acenderam dois cigarros.
Por uns dois minutos todo mundo se olhou e não fez nada. As risadas silenciaram, as garotas não estavam mais tão juntinhas assim e a música ruim parecia interminável. Duas se aproximaram deles. “Vamos beber alguma coisa meninos?” O vírus olhou para o parasita que respondeu num tom de superioridade. “Estamos bem assim”. Elas voltaram para o outro canto e agora todos olhavam para os dois isolados.
Então o vírus começou a falar um pouco alto e com muitos gestos. “Viu? É disso que eu estou falando! Você entra num puteiro e logo querem que você beba uma cerveja por dez pila! Eu vim aqui porque quero que uma vagabunda que pegue no meu saco!” “Fala baixo! O brutamontes ali da porta vai avançar em nós a qualquer momento.” Enquanto o vírus murmurava com medo o brutamontes alternava olhares para um dos cafetões e para os dois como um cão que esperava o grito do dono para atacar. A ordem não veio, e por uns trinta segundos a Celine Dion subiu o tom de tensão para vermelho com o silêncio e as constantes encaradas.
Na outra ponta da sala o cafetão chamou a maior das garotas e cochichou algo em seu ouvido. Ela veio olhando direto para o parasita, se apoio numa mesa e disparou: “O que vocês querem?” “Gozar. Pode ser do jeito que você achar melhor”, soltou o parasita. “Tudo bem. Chupo os dois por cinquenta de cada um.” Com a negociação iniciada ela se sentou ao lado do parasita, que não perdeu tempo e começou a e pegar nas coxas dela. “Temos dez, e você um belo par de pernas”. “Por isso eu bato uma punheta para cada um e vocês saem daqui sem sequelas.” Ela estava falando sério.
Para o vírus parecia o negócio perfeito: uma punheta e ir embora sem sequelas. Para o parasita havia mais espaço para barganha. “Todos aqui sabemos o que você quer. Diz pro seu chefe que vai dá para os dois por dez.” “Acho que vocês deviam dar o fora daqui.” “Hey, aqui do lado. Eu topo a sua proposta”. O medo do vírus já estava virando tremedeira. A garota se levantou se sentou no meio. Duas mãos, dois caras. Ela era boa naquilo. Em menos de dois minutos estava tudo resolvido. O parasita pagou a conta. Não tenho conhecimento se algum deles foi feliz para sempre.