LIMONADA - Parte 1

Dizem que faço uma boa limonada, bem, em partes, não é pra menos.

Porém, quando falo numa boa limonada estou me referindo as mais variadas e inventivas formas de limonadas possíveis. Pra tudo!

E pra contar um pouquinho dessa experiência, eis-me aqui o exemplo e a receita:

Meados de 2006, Curitiba/Paraná. Era o início de uma carreira promissora mas isto só ocorreria 5 anos mais tarde. Fora o início de tudo para mim inclusive, aprendi que uma boa limonada não se tratava apenas de suco de limão batido com casca e de pouca acidez. Mas limonada não limita-se à isto apenas.

Na época, eu trajava o primeiro emprego como atendente de lanchonete da Chef Vergé, no Shopping Estação que, hoje, não mais existe - pelo menos a unidade do Estação.

- Minha função? - atendente corriqueiro de balcão "tipo faz de tudo" - limonada, inclusive. Muita limonada!

Também era forneiro e ficava na frente da loja com os braços cruzados e postos para trás seguido daquele sorriso automático meio vida e meio morto que vos é ensinado pela industria de Marketing de verdadeiros fracassados (prefiro algo mais ao natural, espontâneo). É a minha cara e eu sempre acreditei que dá mais certo em qualquer situação.

Todavia, também trabalha na "copa" (cozinha) e fazendo, ia, sucos e mais sucos. E lá estava a velha limonada e como sempre, era a tarefa mais difícil de se fazer porque ora se acerta ora se erra na certa. Mas, antes que prossiga a leitura, aprenda esta deliciosa receita que nunca falha e se você costuma errá-la, agora não mais. Fazendo direitinho posso lhe garantir que terá a melhor limonada de onde quer que seja:

- Primeiro, para que a "limonada suíça não fique muito ácida", elime ao menos quatro finas fatias de cascas de cada lado do limão, ok! Limão não tem lado mas tente imaginar um limão quadrado e faça dele um quadrado, deixe sobrar pouca casca, apenas. Depois, corte-o ao meio e retire o miolo - "dizem que, no miolo, também se concentra uma boa parcela de sua acidez indigesta". E posso garantir que certamente você sofrerá trauma de limonada se exagerar na quantidade de casca, é bem pouco, pouquinho mesmo. Lembre-se, o que se quer é a lembrança do sabor e não a casca do limão, certo!

- Feito isso, bata um limão médio inteiro para cada 300mL de água. OBS.: outro segredo, é fundamental bater por pouco tempo, entre trinta ou quarenta segundos no máximo e em velocidade alta e o que você terá é uma limonada saborosa, clarinha, suave e ainda sim com sabor da casca do limão, sem exageros, é claro. Porém, se quiser com leite, lembre-se sempre: "a vaca nunca vem sob forma de liquido senão à pó" Ou seja, é regra usar somente leite em pó e não o leite da vaca.

Pode fazer e usar a vontade porque eu demorei muito tempo até atingir tal resultado primoroso. Então é pra usar mesmo. Não dediquei tanto esforço pra nada!

Pois, bem! Porém e não diferente que a maioria dos ambientes de trabalho, sempre tem aquele colega que nunca perde o tom da piada e no meu caso o piolho era o Alexandre, um fanfarrão sarrista de mão cheia e um excelente poeta ao recitar uma belíssima frase que, não podia me ver e dizendo, vinha:

- "Olha, Josias, hoje você pode estar passando pano aqui atrás, mas amanhã você pode estar passando pano lá na frente." - Um desgramado! Mas, tenho que concordar com a recitação pois sabia que sedo ou tarde eu teria que passar pano lá na frente da lanchonete.

- Ouse seja, dos males o menor, o que o safado queria mesmo dizer era o fato de que passar pano nos bastidores era moleza, o difícil mesmo era passar o pano na frente da loja com centenas de pessoas te olhando da praça de alimentação. Isso, para nós, era motivo de pedir demissão sem aviso prévio. E como se isso não bastasse, havia ainda uma segunda visão mais cabulosa e esta se dava pelo emprego pejorativo que vinha encunhado na frase cujo o sentido dizia que "nós nunca seríamos ou chegaríamos a lugar algum trabalhando, ali". Por outro lado, seu humor irreverente nos alegrava e isso compensava mais um dia de trabalho.

Mas, como tinha acabado de chagar (guapo novo na Cidade) era o que tinha naquela ocasião senão dedicar um tempo fazendo, limonada!

Apesar de tudo, foram ali meus primeiros passos e até ganhei uns clientes "vips" porque a minha limonada estava prosperando de vento em polpa naquela ocasião e sucesso fazendo, ia - litros e litros de sucesso! Foi o caso do Sr. Raimundo, de Florianópolis, um veterano que não deixava de passar por lá todas às vezes que vinha à Curitiba.

Inicialmente, a limonada do Sr. Raimundo também não fora diferente da minha, ele, começou vendendo picolés nas prais de Florianópolis até se tornar no que é hoje um dos maiores empresários do ramo imobiliário.

Altamente exigente, ao chegar dizendo, ia: "quero que você faça meu lanche e o meu suco." - sem exageros à parte, mas era assim e ele fazia questão de ser atendido exclusivamente por mim. Com o passar do tempo, ficamos bem amigos e num certo dia ele me propôs morar em Florianópolis com casa, carro e tudo pago. Naquele momento, não pensei duas vezes e disse: "Limonada, perdeu"!

Até ai, seria o plano perfeito não fosse o buraco da piscina cujo eu deixaria mal tapado. E que a partir dali estaria prestes a conhecer outra limonada na vida. Só que desta vez, um pouco mais ácida, é verdade.

Isso aconteceu quando fui convidado a passar uns três dias em sua casa para conhecer e ver se iria gostar da ideia de viver por lá e confesso, esse costume de ser adotado me persegue desde de pequeno e as pessoas sempre estão me aliciando de alguma forma ou de outra. Por lá, quem teria a missão de ser a minha mais nova mamãe era a Esposa do Sr, Raimundo. Os dois moravam sozinhos e eu até gostei porque eles não tinham nenhum filho.

Já o local,da residência, ficava bem afastado do centro num vilarejo rodeado de mata atlântica secundária. E para chagar até lá, fazíamos um longo percurso serpenteando morro acima. A casa, ficava bem escondia num lugar muito alto, quase ao pé da montanha e era simplesmente paradisíaco. A panorâmica e a sensação que se tinha era como se estivéssemos perto do céu e muito longe de qualquer desgraça que pudesse perturbar aquele sossego que pairava no ar dentre as montanhas.

Acerca da casa, passava um pequeno riacho de água doce de uma pureza invejável e foi ali que ele acabou e fazendo uma piscina natural com aproveitamento do curso d'àgua.

Até que num belo dia, acordarmos e tomarmos o café da manhã e saímos para conhecer as terras e os arredores da região. Na volta, ele pediu pra que eu tapasse a piscina pois devido um vazamento no fundo que era tapado apenas com uma rolha grande e improvisada ao natural. Dai que fui lá e fiz o serviço. Porém, um dia depois a rolho se soltou e esvaziando toda a piscina por completo. Ao ver aquilo, penso que ele não gostou muito do resultado.

Depois, vim embora e ficou combinado que assim que eu pusesse as coisas em ordem por aqui, eu retornaria. Mas, ele nunca mais retornou ou perdera meu contato ou algo parecido. Apesar disso, nada me tira da cabeça que o fato de não direito aquele buraco como deveria foi o motivo de tudo - dado esse, de um descuido grotesco de minha parte. Contudo, coloquei na cabeça que a partir dali prestaria mais atenção em qualquer que fosse o buraco, ou, limonada. Aprendi que um misero buraco pode comprometer toda uma vida e então prometi a mim que faria as coisas com mais cuidado e taparia qualquer à minha frente.

Continua!