Necessitando de um abraço

Prólogo

Aconteceu domingo, 29/09/2013, por volta das 08h15min, em frente à Igreja Internacional da Graça de Deus, sito na Rua Silva Rabelo, bairro do Méier, Rio de Janeiro, RJ. A chuva pertinaz, fria, fina, não foi capaz de me desmotivar a fazer uma caminhada a passos céleres, como se estivesse apressado para chegar a algum lugar. Mas, por que eu deveria estar apressado? Em gozo de férias, justas e merecidas, faço tudo devagar, sem pressa, para o peso corporal ideal (63 Kg) alcançar.

CAMINHANDO SOB A CHUVA

Na caminhada matutina revejo lugares dantes frequentados e/ou percorridos no ano de 2011: Museu dos Azulejos, Veterinária Zona Norte, Centro Educacional Emília Ferreira, Bar Cachambeer (Rua Cachambi, nº 475), Feirinha dominical do Cachambi, Botequim do Lula, Colégio Santa Mônica, Igreja Nossa Senhora da Aparecida, Corpo de Bombeiros, Jardim e Estação do Méier... Sem me dar trégua a chuva teimosa encharcava minhas vestes simples de caminheiro intimorato.

Iniciei minha caminhada desde o supermercado Walmart (Cachambi) e depois de aproximadamente três quilômetros cheguei ao bairro do Méier. Cânticos de louvores chamaram minha atenção e pude ouvir serem advindos da Igreja Internacional da Graça de Deus. Com a bermuda e camiseta ensopadas esfreguei as mãos engelhadas, uma na outra, e parei em frente ao templo religioso.

Duas senhoras envergando trajes formais, à guisa de fardas, conversavam e sorriam contentes. Essas religiosas são conhecidas por obreiras e pareciam ser as recepcionistas da ocasião. Olharam-me, mas não me enxergaram. Eu estava ou parecia estar invisível pela aparência pouco ou nada elegante (Traje de atleta maratonista). Nesse instante o pastor disse algo como: “Cumprimentem-se e se abracem!”.

NECESSITANDO DE UM ABRAÇO

Abstido, eu necessitava urgentemente de um abraço, mas, muito me contentaria um simples aperto de mão, um olhar carinhoso, uma palavra amiga, um convite para adentrar em um ambiente cálido e acolhedor. De soslaio, desconfiadas, as obreiras de peles lustrosas, perfumadas; unhas e sobrancelhas bem-feitas; cabelos arrumados e trajes formais olharvam-me, mas não atinavam para o meu anseio, minha pretensão mais imediata: Um abraço!

Um mendigo descalço, com os cabelos desgrenhados, barba rala, unhas sujíssimas e trajes surrados; com um pano — parecia ser um lençol — encardido em volta do pescoço aproximou-se de mim e disse:

— Você vai entrar ai? Eles não deixam!

— Por quê? — Perguntei num sussurro quase inaudível.

— Somos pobres e diferentes deles. Não percebeu?

Achei interessante a colocação do mendigo. Não sei bem o porquê, mas no momento lembrei-me de Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como São Francisco de Assis, que foi um frade católico da Itália. Ao meu lado vi o mendigo com o rosto escanifrado e senti o fato sombrio, o eu triste, implacável, idêntico, do qual eu sempre fugira nos pesadelos de minha infância pobre e inglória.

CONCLUSÃO

O mendigo também olhava para mim e para o interior da suntuosa igreja. Parecia dizer-me sem nada falar: “Ame o impossível, porque sou o único que lhe não decepcionará nem tampouco lhe abandonará nos momentos mais difíceis”. Coincidência? Ora, essa pretensão do mendigo eu a tive quando para uma ex-amante, cuja candura fez-me apelidá-la de “Santa”, amoroso e sincero pretendi dizer:

“Ame o impossível, porque sou o único que lhe não decepcionará nem tampouco lhe abandonará nos momentos mais difíceis”.

RESUMO DA CONCLUSÃO

“É com as palavras de William Shakespeare que desejo encerrar este insólito texto:

"Há certas horas, em que não precisamos de um Amor... Não precisamos da paixão desmedida... Não queremos beijo na boca... E nem corpos a se encontrar na maciez de uma cama...

Há certas horas, que só queremos a mão no ombro, o abraço apertado ou mesmo o estar ali, quietinho, ao lado... Sem nada dizer... Há certas horas, quando sentimos que estamos pra chorar, que desejamos uma presença amiga, a nos ouvir paciente, a brincar com a gente, a nos fazer sorrir... Alguém que ria de nossas piadas sem graça...

Que ache nossas tristezas as maiores do mundo... Que nos teça elogios sem-fim... E que apesar de todas essas mentiras úteis, nos seja de uma sinceridade inquestionável...

Que nos mande calar a boca ou nos evite um gesto impensado... Alguém que nos possa dizer: Acho que você está errado, mas estou do seu lado... Ou alguém que apenas diga: Sou seu amor! E estou Aqui.” — (William Shakespeare).